António Costa, primeiro-ministro do Governo em gestão, fez esta segunda-feira críticas à justiça portuguesa e admitiu que "está magoado" pela forma como foi envolvido um processo judicial, o que acabaria por levar à queda do Executivo. Ainda assim, manifestou-se confiante de que sairá ilibado e questionou se outros responsáveis manteriam agora as decisões que tomaram.."Estou magoado, mas não sou rancoroso", declarou o primeiro-ministro demissionário à CNN Portugal. Aliás, o primeiro-ministro irá dar uma entrevista ao canal de notícias na noite desta segunda-feira.."Quem não se sente não é filho de boa gente. Nunca ninguém pôs em causa a minha integridade, a minha honestidade. Ninguém ao fim de uma vida inteira gosta de ser colocado nesta posição", afirmou. "Nada fiz de errado", sublinhou..A seguir, invocou para si "uma vantagem grande" neste tipo de situações.."Se há convicção muito firme que tenho é no sistema de justiça, que é muito original, que não tem paralelo, mas onde os cidadãos podem ter a garantia e uma confiança: é que ninguém está acima da lei. Se me perguntam se eu acho normal que seja publicitada, sem que sejam praticados atos idoneidade de uma pessoa, é algo que a justiça deve refletir. Não tenho dúvidas qual é o final da história. Sei que não tive nenhum benefício, nenhum benefício indevido, para além do salário que me é pago", frisou..Questionado sobre se se arrepende da decisão de se demitir, Costa diz que não, mas devolve a pergunta ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e à Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, responsável pelo parágrafo no comunicado sobre a investigação autónoma ao primeiro-ministro, pelo Supremo Tribunal de Justiça, na sequência da operação Influencer, que investiga negócios do hidrogénio, lírio e o centro de dados de Sines.."Hoje faria exatamente o mesmo que fiz no dia 7 [de novembro]. É uma decisão da qual não há retorno. O que pode é perguntar a quem fez o comunicado e a quem tomou a decisão de dissolver a Assembleia da República se fariam o mesmo perante o que sabem hoje", disse António Costa na residência oficial de São Bento, em Lisboa, antes de participar no debate parlamentar que antecede a próxima cimeira europeia..De acordo com António Costa, a inclusão de um parágrafo no comunicado do gabinete de imprensa da Procuradora Geral da República a especificar que o primeiro-ministro estava a ser alvo de inquérito junto do Supremo Tribunal de Justiça, "foi determinante" para ter pedido a sua demissão no dia 7 de novembro.."Quem exerce as funções de primeiro-ministro não pode estar sob uma suspeita oficial. Já muitas vezes me perguntam: então e se não tivesse havido esse parágrafo? Bom, eu estava a ponderar. Eu tinha pedido ao senhor Presidente da República já nessa manhã uma reunião às 09:30 da manhã, iria ponderar", declarou António Costa..PGR esclarece que inquérito a Costa começou a 17 de outubro >>DV.Se não tivesse existido esse tal parágrafo, o líder do executivo admitiu que, "provavelmente, aguardaria pela conclusão da avaliação pelo juiz de instrução dos indícios que existiam".."Agora, perante um comunicado onde uma pessoa, que não é uma pessoa qualquer, é a procuradora-geral da República, entende comunicar oficialmente ao país e ao mundo que, além de tudo mais, foi aberto um processo contra o primeiro-ministro, tenho um dever que transcende a minha dimensão pessoal. Há uma dimensão institucional na função de primeiro-ministro", justificou..Nas declarações que fez à CNN Portugal, o líder do executivo disse várias vezes estar magoado, mas recusou estar rancoroso.."E como sou otimista, irritante ou não, estou muito confiante. A razão pela qual eu tenho uma confiança profunda no nosso sistema de justiça é que este ou aquele pode errar, nesta ou naquela fase do processo as coisas podem não ser as que acho que deviam ser, mas há uma coisa sobre a qual eu não tenho dúvidas: no final, o sistema atua corretamente", sustentou..Neste contexto, referiu-se aos processos de que foram alvo os seus antigos ministros da Defesa Azeredo Lopes e da Administração Interna Eduardo Cabrita.."Há duas pessoas de que eu me lembro sempre muito, que foram as únicas duas pessoas do meu Governo que saíram por problemas judiciais e que já viram o seu processo chegar ao fim. Uma é o professor Azeredo Lopes, a quem andaram a enxovalhar com o assalto ao quartel de Tancos, foi absolvido completamente", indicou..Já em relação a Eduardo Cabrita, o primeiro-ministro apontou que "até de homicídio foi acusado".."Deve ter sido no mundo o único passageiro que ia no banco de trás que foi acusado de condução perigosa e de homicídio por atropelamento. E foi absolvido", acrescentou.