Restauração, turismo, comércio são os mais penalizados...
São os setores onde a crise bateu com mais rapidez e força, mas também serão os setores onde a crise vai dar o tal golpe de rins e vai fazer ressurgir a capacidade produtiva. Há uma apetência louca (que nós vimos em agosto passado) no mercado internacional de turismo por viajar, as pessoas querem todas viajar. Existe também uma disponibilidade de oferta de meios de transporte aéreo excessiva - estão aviões parados em todos os aeroportos do mundo -, e isso significa que os voos vão ser facilitados e mais baratos assim que o problema for resolvido. Não tenho dúvidas, o turismo vai arrancar com grande força e, até, com enorme elasticidade, como dizem os economistas. No Algarve, no ano passado, tivemos essa experiência num dia, com a decisão tomada pelo governo inglês de deixar vir os ingleses para Portugal, e que se refletiu imediatamente. Essa matéria, para mim, é pacífica. Também me parece que o setor exportador, muito à base de indústrias de média e até pequena dimensão, do centro e norte do país, e que é essencial para o equilíbrio da nossa balança de pagamentos e para a melhoria da nossa capacidade tecnológica, tem elasticidade e flexibilidade suficientes para recuperar rapidamente. É uma gente notável, muitos deles não têm cursos superiores, aprenderam na prática e desembaraçam-se, vão ao estrangeiro, vão às feiras e veem um produto novo, sabem onde é que se vendem as máquinas que o fabricam, importam essas máquinas, começam a trabalhar e começam a exportar a preços competitivos. Não estou a dizer ou a defender que exportem a preços competitivos aproveitando salários baixos da população portuguesa, não. Os salários aí não são muito altos, certamente, mas são mais altos, provavelmente, do que na maioria dos outros setores. Também na agricultura não vejo problemas; tem hoje só 5% da população ativa, mas tem vindo a exportar de forma crescente e continua a funcionar bem, foi muito modernizada, foi muito apoiada pelos fundos europeus e rejuvenesceu brutalmente. O setor agrícola vai sobreviver, não tenho dúvidas. Aliás, se virmos os relatórios de intelligence de alguns dos grandes bancos, vemos que há uma enorme expectativa positiva, no sentido da recuperação do nosso setor produtivo.