A Câmara de Viseu não autorizou a realização de um evento cultural para celebrar o Dia da Mulher no Mercado 2 de Maio. “É um cercear de direitos de cidadania”, diz ao DN Graça Marques Pinto, da Plataforma Já Marchavas, que organiza o evento. “Estamos a rejeitar todas as iniciativas no Mercado 2 de Maio”, assegura o presidente da Câmara de Viseu, Fernando Ruas, eleito pelo PSD, justificando a decisão com o facto de o mercado, um espaço coberto, ser “domínio privado do municipio”..“Nunca autorizámos eventos para o Mercado 2 de Maio nem autorizaremos. Era abrir uma caixa de Pandora”, declara Fernando Ruas ao DN, equiparando aquele espaço, que pertence à autarquia e tem zonas concessionadas a privadas, “ao hall da Câmara” e afirmando que só serão autorizados eventos “da iniciativa privada da Câmara”, dando como exemplo um concerto da cantora Áurea, que teve lugar nesse local..É essa mesma justificação que se encontra na notificação feita à Plataforma Já Marchavas pela Câmara de Viseu, a que o DN teve acesso e na qual se informa que “não foi aceite” o pedido feito pelo coletivo feminista “uma vez que o Mercado 2 de Maio não é um espaço público; pertence ao domínio privado do município e o respetivo logradouro destina-se a uso das frações comerciais e eventos promovidos pelo município”..“É mais uma afirmação de poder da Câmara relativamente ao espaço e dificulta iniciativas que não são da sua autoria”, lamenta ao DN Graça Marques Pinto. “É um ato de prepotência. Não conseguimos compreender o que estará por trás desta decisão”, acrescenta..Autorização negada à AD? Pedro Alves contraria Ruas.Para afastar a ideia de que a falta de autorização poderia estar ligada ao tipo de evento ou à entidade que o organiza, Fernando Ruas assegura que também não deixou que aí tivesse lugar um comício da AD. “Chegou a estar anunciado. Não nos avisaram e nós dissemos que não”..A história não bate, porém, certo com a versão contada por Pedro Alves, do PSD Viseu. “Não houve qualquer pedido [de utilização do Mercado 2 de Maio]”, afirma o social-democrata ao DN, admitindo que se “pensou” nesse espaço para um evento de campanha, mas não chegou a ser feito qualquer pedido nesse sentido que tenha sido recusado pela Câmara de Viseu..“O espaço era pequeno e anunciámos o pavilhão Multiusos, sem verificar a ocupação. Havia aí uma prova nacional de tiro com arco e mudámos para a Expocenter”, conta ao DN..Já Marchavas fará evento à porta do Mercado 2 de Maio.Apesar de não ter autorização para realizar o evento dentro do Mercado 2 de Maio, a Plataforma Já Marchavas diz que vai realizar o evento, esta sexta-feira, à porta deste espaço, no portão que dá para a Rua Formosa..O evento inclui a declamação de poemas, uma intervenção sobre a situação das mulheres antes do 25 de abril, um pequeno sketch extraído de uma peça de teatro e a leitura de um manifesto sobre o dia 8 de março. Com avisos de mau tempo para esta sexta-feira, o coletivo feminista queria realizar esta iniciativa – que costuma acontecer no Rossio – num espaço coberto, mas terá de ficar à porta do Mercado 2 de Maio..“À porta é na rua , será com a PSP”, reage Fernando Ruas.