Cabeça de lista do Chega na Madeira apagou críticas que fez a André Ventura
O cabeça de lista do Chega pelo círculo da Madeira, Francisco Gomes, apagou a sua conta de Twitter (entretanto rebatizado X), na qual escreveu duras críticas ao seu atual partido e a André Ventura em 2020, quando ainda era militante do PSD, pelo qual chegou a ser eleito deputado para a Assembleia da República (espaço que poderá voltar a recebê-lo depois das próximas eleições legislativas).
Em setembro de 2020, reagindo a afirmações de André Ventura antes da 2.ª Convenção do Chega, na qual o então deputado único do recém-fundado partido de direita radical se apresentou como “o principal continuador” do fundador do PSD (e ex-primeiro-ministro) Francisco Sá Carneiro, o agora candidato a deputado do Chega escreveu no Twitter que “só a mais perversa e indesculpável ignorância leva a este tipo de declarações”. Isto porque “Sá Carneiro abominaria muitas das posições de André Ventura”, pelo que defendia que “este tipo de comparações são um insulto à memória do maior político português de todos os tempos”.
Contactado pelo DN, Francisco Gomes confirmou ter apagado a sua conta na rede social. Questionado sobre se atualmente considera André Ventura e Francisco Sá Carneiro comparáveis, optou por dizer que encontrou “dentro do Chega uma proposta política e social que, cada vez mais, constitui a resposta política de que Portugal precisa”.
De qualquer forma, o cabeça de lista do Chega pelo círculo da Madeira, com hipóteses razoáveis de vir a ser eleito deputado caso se confirmem as sondagens - essa região autónoma tem seis representantes na Assembleia da República, habitualmente divididos entre PSD e PS, mas no passado já elegeu cabeças de lista do CDS-PP ou do Bloco de Esquerda -, defende que a sua entrada no Chega “comprova a grandeza de um partido que ao longo dos anos tem evoluído e a grandeza de um líder que tem chamado à sua pessoa a missão de resgatar Portugal de cinco décadas de incompetência socialista e social-democrata”.
Depois de ter sido adjunto do secretário Regional do Ambiente e Recursos Humanos da Madeira, em 2009, Francisco Gomes foi eleito para a Assembleia Municipal do Funchal e assumiu o mandato de deputado regional em janeiro de 2014, passando, seis meses depois, para a Assembleia da República, onde ficou até ao final dessa legislatura, no grupo parlamentar social-democrata então liderado por Luís Montenegro, integrando a Comissão de Assuntos Europeus e a Comissão de Economia e Obras Públicas.
Doutorado em Ciência Política pela Universidade de Cádis, com classificação máxima - o que levou o antigo presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, a dar-lhe então parabéns -, Francisco Gomes aproximou-se do partido de André Ventura nos anos mais recentes. Foi o mandatário da campanha nas eleições regionais de 2023, tornando-se chefe de gabinete do grupo parlamentar na Assembleia Legislativa Regional da Madeira. “O Chega e toda a sua estrutura têm evoluído imenso”, diz o agora cabeça de lista ao DN.
Em 2020, noutro texto que publicou na rede social agora detida por Elon Musk, na sequência da perda da maioria absoluta do PSD na região autónoma, Francisco Gomes escrevia que, “entre um PSD que faz alianças com o CDS e um PSD que discute aproximações com o Chega”, tinha “saudades do PSD que sabia o que era e que sabia o que defendia”, além de que “vencia eleições sozinho”.
Bem menos críticos em relação ao Chega foram outros tweets que Francisco Gomes publicou em 2020. Em maio, Francisco Gomes definia a criação de André Ventura como “um exemplo perfeito de um partido que se está a fazer à custa da putrefação política instalada em Portugal”. E referia-se especificamente ao Bairro da Jamaica, no Seixal, “gerido por uma autarquia comunista desde os Anos 70”, como a prova de que “os partidos que suportam o Governo não têm resposta, nem são exemplo”.
E, em agosto de 2020, dizia ser urgente uma reflexão no centro-direita. “Ainda não compreendemos que grave é não perceber que, ao rejeitar o dito ‘horror’ do Chega e ao acarinhar o (real) horror do PCP e do Bloco de Esquerda, estamos a legitimar todos os horrores e a desumanização do indivíduo em nome de princípios apresentados como ‘superiores’”, escrevia o então militante social-democrata.