BE compara Moedas a "pequeno Napoleão" e Livre cola-o ao discurso da extrema-direita sobre imigração
Gerardo Santos

BE compara Moedas a "pequeno Napoleão" e Livre cola-o ao discurso da extrema-direita sobre imigração

Partidos reagiram aos discursos de Carlos Moedas e Marcelo Rebelo de Sousa durante as celebrações do 5 de Outubro.
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O líder parlamentar do BE aplaudiu este sábado o discurso do Presidente da República e criticou o do presidente da Câmara de Lisboa sobre imigração, considerando lamentável "a colagem à extrema-direita" e comparando Carlos Moedas a um "pequeno Napoleão".

"O Presidente da República fez um discurso que lhe era pedido neste dia republicano. Recordou que o melhor período da República é da República democrática, que tem muitas insuficiências, que tem muitos problemas para resolver e por isso o nosso futuro coletivo só pode passar por almejar uma República mais igual, mais justa e mais solidária e mereceu o nosso aplauso por causa disso", disse Fabian Figueiredo aos jornalistas no final da cerimónia do 05 de Outubro, em Lisboa.

Segundo o líder parlamantar do BE, há um aviso que "transpareceu no discurso" de Marcelo Rebelo de Sousa que é o facto de a República produzir "figuras e momentos menores, mais lamentáveis", considerando que Carlos Moedas "fez um discurso lamentável".

"Mostra que a República é também capaz de produzir os seus pequenos Napoleões e o que nós ouvimos hoje do presidente da Câmara de Lisboa foi um discurso de um pequeno Napoleão que não reconhece o facto de Lisboa estar pior", condenou.

Em causa o discurso sobre imigração, contrapondo o bloquista que "se há portas escancaradas em Lisboa" essas são "à especulação imobiliária e ao excesso de carga turística" que gera falta de habitação, uma área na qual atribui culpas presidente da Câmara de Lisboa.

"Mas foi também lamentável a forma como o senhor presidente da Câmara de Lisboa se colou ao discurso de extrema-direita, alimentando mitos sobre as pessoas que são essenciais para a economia da cidade, mas também para a economia de todo o país. Os imigrantes não são responsáveis pelo aumento da criminalidade. Isto já foi desmentido uma vez atrás da outra", condenou.

Lamentando que Moedas tenha feito uma evocação de Camões "colado às mentiras que a extrema-direita propaga contra quem vem para Portugal e é essencial", Fabian Figueiredo considerou que este foi um discurso "das figuras menores da história do movimento republicano" e que "por isso é que só pode ser comparável a um pequeno Napoleão".

Sobre o Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), o bloquista defendeu que "a esquerda tem que se apresentar como alternativa à governação da direita", criticando que o debate atual seja sobre "quem e como é que baixa mais os impostos às empresas milionárias".

"O caminho que a esquerda tem que se ter é um caminho ambicioso de construção de alternativa e isso não se faz sancionando as políticas da direita. Quem se coloca no campo da viabilização do orçamento não se coloca no campo da alternativa", avisou, referendo-se ao PS.

Para o BE, "o que a esquerda em Portugal tem que fazer é construir um programa alternativo ao da direita".

"No campo da oposição, constrói-se alternativa com quem está no campo da oposição", disse.

Tavares cola Moedas ao discurso da extrema-direita sobre imigração

O porta-voz do Livre, Rui Tavares, acusou o presidente da Câmara de Lisboa de "ir atrás do discurso da extrema-direita", relativamente à imigração, e negou que a situação dos sem-abrigo no largo dos Anjos esteja resolvida.

"Uma pessoa pergunta se Mário Soares alguma vez teria deixado fazer este discurso sobre imigrantes e ir atrás sem ter, a certa altura, um estado de alma, um grito de alma a dizer: Os outros receberam-nos bem quando fomos exilados. Receberam-nos bem quando passamos a salto", questionou.

Rui Tavares falava aos jornalistas no final da cerimónia comemorativa do 114.º aniversário da Implantação da República, que decorreu na Praça do Município, em Lisboa, e na qual intervieram o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

No seu discurso, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, defendeu que o país não pode "aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem".

"Hoje assistimos a manifestações de um drama humanitário que nos envergonha a todos como país. Nós precisamos de imigração, mas não podemos aceitar uma política de portas escancaradas que conduz à desordem, dá espaço a redes criminosas e multiplica casos de escravatura moderna", disse o autarca, anfitrião das cerimónias oficiais do 05 de Outubro.

Este discurso foi criticado pelo porta-voz do Livre, que acusou Carlos Moedas de "ir atrás da extrema-direita" e de citar o poeta Luís de Camões, "desconhecendo a história.

"É bonito citar Camões, mas é mais bonito não passar o mandato inteiro. Já lá vão três anos do presidente da Câmara a chamar a tudo aquilo que inaugura, às vezes de mandatos precedentes, 'factory' não sei quê, 'hub' não sei que mais. A língua portuguesa existe, mas se não cuidarmos dela vai definhando", observou.

Rui Tavares negou ainda que a Câmara de Lisboa tenha resolvido a situação dos imigrantes que estão há meses a viver em tendas junto à igreja dos Anjos, ao contrário do que foi anunciado por Carlos Moedas durante o seu discurso.

"O largo dos Anjos não apresentava nenhuma diferença sensível nesta manhã. A situação dos sem-abrigo não é de um largo. É de uma cidade inteira, na qual o presidente Carlos Moedas pouco ou nada fez para resolver esta situação", apontou.

Questionado sobre a contraproposta apresentada na sexta-feira pelo PS ao Governo, no âmbito do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025), o porta-voz do Livre defendeu que "esta não é a forma de negociar um orçamento" e que deveria "ser negociado de outra forma".

PSD não comenta negociações do OE2025 e foca-se no discurso de Marcelo

 A ministra e dirigente do PSD Margarida Balseiro Lopes escusou-se hoje a comentar as negociações orçamentais por ser dia para falar do 05 de Outubro, sublinhando os alertas do Presidente da República para as imperfeições da democracia a corrigir.

Em reação aos discursos do 114.º aniversário da Implantação da República, que decorreram na Praça do Município, em Lisboa, a vice-presidente do PSD e ministra da Juventude e Modernização, Margarida Balseiro Lopes, foi questionada pelos jornalistas sobre a contraproposta orçamental que o líder do PS, Pedro Nuno Santos, apresentou na véspera ao Governo.

"Hoje é o dia para falarmos do 05 de Outubro, da mensagem do senhor Presidente da República e não é dia para falar do Orçamento do Estado. Estamos para comentar esta intervenção do senhor Presidente da República, para falarmos do 05 de Outubro e não para falar do Orçamento do Estado", respondeu Margarida Balseiro Lopes, perante a insistência dos jornalistas.

A ministra foi ainda questionada sobre as declarações do presidente da Câmara de Lisboa, o também social-democrata Carlos Moedas, que citou Camões para criticar aqueles que no presente estão "reféns de ansiedades pessoais e partidárias", abdicando do "interesse nacional".

"Eu compreendo a pergunta, mas a minha resposta vai ser sempre igual: não vou falar do Orçamento do Estado", reiterou.

Margarida Balseiro Lopes destacou do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa a importância que deu à República e à democracia, referindo que "fez sempre essa relação, mas sobretudo alertando para as imperfeições" e para aquilo que é preciso corrigir.

"Falou da necessidade e nós estamos perfeitamente alinhados com essa preocupação com o combate às desigualdades, com combate à pobreza, com o combate à corrupção, mas há uma mensagem que eu queria destacar: a necessidade de rejuvenescer o país", enfatizou.

A dirigente do PSD assinalou que o Presidente da República "falou do envelhecimento" de Portugal, considerando que o país precisa de reter jovens.

"Precisamos de ter essa capacidade de oferecer boas condições, de sermos audazes, corajosos, nas medidas, nas políticas públicas para conseguirmos também cumprir esse desígnio de fixar os jovens cá", disse.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou hoje que "a democracia está viva", embora não seja "perfeita nem acabada", e defendeu que tem de ser "mais livre, mais igual, mais justa, mais solidária".

Chega afirma que Marcelo tem criado "um clima de medo entre a população portuguesa"

O líder parlamentar do Chega disse que se reviu nas palavras do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, "quando falou que Portugal tem um problema com a imigração, que Portugal deve valorizar as suas forças de segurança" e também os bombeiros.

Quanto ao discurso do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Pinto subscreveu o apelo ao combate à pobreza, mas qualificou-o como "um discurso um bocado contraditório com aquilo que ele tem feito até agora".

No seu entender, o Presidente da República tem criado "um clima de medo entre a população portuguesa com uma suposta crise económica" ao alertar que "Portugal ia entrar numa crise política se não fosse aprovado o Orçamento".

"E aquilo que ele disse hoje foi precisamente o contrário, foi que Portugal, desde que é uma República, tem superado todas as crises, sejam elas financeiras, económicas ou todas as crises que têm aparecido, e Portugal é um país maduro, de uma democracia madura e que superará tudo certamente, haja ou não haja Orçamento", considerou.

PCP critica falta de respostas para a pobreza e desigualdades sociais

O dirigente do PCP João Ferreira lamentou este sábado que o discurso do Presidente da República não sinalizasse um caminho para "combater a pobreza e as desigualdades sociais", sublinhando que o próximo Orçamento do Estado também não trará essas respostas.

"O Presidente da República evocou a necessidade de haver mudanças. Disse que havia a necessidade de combater a pobreza, as desigualdades sociais. É difícil não subscrever essas palavras, a questão é como. Sobre isso nada foi dito", apontou.

João Ferreira falava aos jornalistas no final da cerimónia comemorativa do 114.º aniversário da Implantação da República, que decorreu na Praça do Município, em Lisboa, e na qual intervieram o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, e o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

No seu discurso, o Presidente da República afirmou que "a democracia está viva", embora não seja "perfeita nem acabada", e defendeu que tem de ser "mais livre, mais igual, mais justa, mais solidária"

Marcelo Rebelo de Sousa destacou ainda a pobreza e a corrupção entre os problemas que persistem "em 50 anos de Abril" e que exigem mudanças.

"Não é possível vencer a pobreza, as desigualdades sociais, as justiças, sem uma alteração radical das políticas que têm vindo a ser seguidas. Sem uma elevação dos salários e do investimento público", considerou João Ferreira.

Questionado sobre a contraproposta apresentada na sexta-feira pelo PS ao Governo, no âmbito do Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) o dirigente comunista considerou que a discussão ainda está "longe do que verdadeiramente interessa".

"Se há alguma virtude que esta novela tem trazido é evidenciar como estamos longe da discussão que verdadeiramente interessa, sobre o conteúdo do orçamento e em que medida o orçamento responde ou não ao que são os grandes problemas que o país está confrontado", apontou.

No entendimento de João Ferreira, esta aproximação entre o PS e o Governo revela que "não são tão diferentes assim os posicionamentos e os objetivos programáticos de um e de outro".

"Se olharmos para a dimensão daquilo que o orçamento deve responder, quer o orçamento, quer a política deste Governo está longe de responder a essas necessidades. Pelo contrário, o que verificamos é que há um caminho no sentido do agravamento desses problemas que o país se defronta", sublinhou.

AN critica discursos "mais do mesmo" e "virados para o passado"

O PAN criticou  os discursos do 5 de Outubro por serem muito virados para o passado e sem tradução numa "mudança efetiva" que é preciso fazer em Portugal, considerando que estas intervenções são "mais do mesmo".

A deputada única do PAN, Inês Sousa Real, falou aos jornalistas no final da cerimónia do 05 de Outubro, que decorreu em Lisboa, e na qual discursaram o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.

"Olhamos para estas intervenções como mais do mesmo, todos os anos ouvimos o mesmo género de intervenção aqui neste tipo de cerimónias, sendo que evocar a implantação da República tem que ter mais do que uma cerimónia evocativa, tem que se traduzir numa mudança efetiva para o país que queremos construir e para o futuro que queremos deixar para as próximas gerações", criticou.

Para a líder do PAN, este foi "um discurso muito virado para o passado, muito pouco focado naquilo que são os desafios do presente para os portugueses, mas também de Portugal a nível global".

"Não podemos continuar a alimentar esta cultura do medo, do nós e eles, não podemos continuar a olhar para as questões e os desafios da segurança apenas numa perspetiva da imigração, esquecendo-nos no papel que a integração também tem nestas políticas, a própria habitação e as soluções", avisou.

Outro aspeto criticado por Inês Sousa Real foi o facto de ter ficado de fora "o flagelo da violência doméstica".

"Ano após ano, parece que é vira o disco e toca o mesmo. Não temos, de facto, aqui uma visão do futuro das reformas", lamentou.

O PAN quer também respostas para desafios como o das alterações climáticas e como é que as cidades como Lisboa se vão adaptar.

"Não houve uma palavra dedicada a estes mesmos desafios e aquilo que verificamos é que estas políticas continuam fechadas num núcleo político mais conservador e mais virado para as políticas do passado, ao invés de olharmos efetivamente para aquilo que são as preocupações dos portugueses", condenou.

Numa altura em que se discute o Orçamento do Estado, Inês Sousa Real defendeu que aquilo que os portugueses querem saber é como é que se vai "garantir a melhoria da sua qualidade de vida", seja do ponto de vista financeiro, seja na acessibilidade aos transportes públicos, na qualidade de vida e até "mesmo ao nível da proteção animal, que é uma matéria sempre deixada para trás".

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