Von der Leyen, Kallas e Costa -  o primeiro português e primeiro socialista à frente do Conselho Europeu.
Von der Leyen, Kallas e Costa - o primeiro português e primeiro socialista à frente do Conselho Europeu.EPA/OLIVIER HOSLET / POOL

António Costa promete ser o “presidente de todos”

Ex-primeiro-ministro lembrou a máxima de Mário Soares para dizer que tem que ser “o presidente de todos aqueles que se sentam no Conselho Europeu” incluindo a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni. “É normal que haja divergências”, admitiu.
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Naquela que foi a sua primeira deslocação à capital belga, após a eleição para a presidência do Conselho Europeu, António Costa reuniu-se com a atual presidente da Comissão Europeia, agora reconduzida no cargo, Ursula von der Leyen, e com a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, nomeada para o cargo de Alta Representante da União Europeia para a Política Externa e de Defesa.

O encontro durou 19 minutos. Os três trocaram cumprimentos, “muito sorridentes”, e com “abraços e felicitações”, seguindo depois para uma breve reunião à porta fechada, apurou o DN, junto de fonte europeia. 

“Tenho a certeza de que vamos conseguir funcionar bem”, declarou António Costa, em declarações aos jornalistas, destacando que os anos que participou como chefe de governo nas reuniões europeias lhe permitiram estabelecer boas relações com as futuras líderes institucionais, com quem vai partilhar o palco europeu.

“Com a presidente da Comissão, [Ursula von der Leyen], tenho já cinco anos de trabalho consecutivo e sempre com grande intensidade e uma excelente relação. Fizemos, aliás, um teste que foi durante a presidência portuguesa, num período particularmente crítico, em que tínhamos a pandemia e onde, portanto, os contactos não eram só os tradicionais contactos. (...) Tiveram de ser bastante mais intensos”, afirmou António Costa, acrescentando que “com a primeira-ministra Kaja Kallas teve sempre um bom relacionamento no Conselho”.

“Acho que temos todas as condições para o ter e também temos a vantagem de ter aprendido com as lições das experiências anteriores. E isso ajuda também muito a prosseguir as boas práticas e evitar as más práticas, que podem não fazer com que as coisas corram bem.”

Questionado sobre se se revê no elogio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que considerou o ex-primeiro-ministro como o mais indicado por ser apoiado por conservadores, liberais e, até, pela direita mais radical, António Costa afirmou que tem como missão formar consenso entre todos.

“Toda a gente sabe qual é a minha família política, estou aqui no Partido Socialista Europeu porque sou socialista e fui eleito porque sou socialista”, afirmou, com a ressalva de que “o presidente do Conselho Europeu tem que se saber colocar também acima das famílias políticas para o exercício das suas funções (...) e ter a noção de que todos têm igual direito e merecem igual respeito.”

Costa garantiu que esta máxima será válida, incluindo para a relação com a primeira-ministra italiana, com quem promete trabalhar sem atritos, apesar do voto contra de Giorgia Meloni.

“Compreendo perfeitamente o voto da primeira-ministra de Itália e colaborarei com todos os 26 membros do Conselho”, afirmou, destacando que “o Conselho Europeu é constituído por políticos, não por tecnocratas, e cada um tem as suas orientações políticas.”

Costa promete, assim, “respeitar todos”, destacando que “a União Europeia é uma união de Estados democráticos”, em que “os governos resultam da vontade popular”. Lembrando que quando entrou em funções como primeiro-ministro, “também houve quem criticasse” o seu governo, considera agora que “é normal que haja divergências no Conselho.”

A falar sobre o atual momento político na Europa, após uma transferência de votos para partidos anti-europeus, em particular perante a possibilidade de, em França, a crise política resultar na eleição de um governo eurocético, António Costa diz esperar “que os cidadãos franceses votem de acordo com a sua consciência”, embora, “enquanto socialista” (...) desejasse “um excelente resultado para a sua família política.”

“O importante é sermos capazes de tomar decisões conjuntas, apesar das diferenças”, destacou, prometendo a partir de agora concentrar-se no trabalho que terá ao longo dos próximos dois anos e meio de duração do mandato, nomeadamente “implementar a agenda estratégica aprovada na quinta-feira pelo Conselho Europeu.”

“Vou falar com o atual presidente, Charles Michel, para garantir uma transição suave. Preparar-me-ei, organizando o gabinete em função da agenda estratégica”, afirmou, mantendo que iniciará contactos com os chefes de Estado ou de governo. “Vou querer falar com todos os líderes para melhorar os métodos de trabalho no seio do Conselho”, prometeu.

Congratulando-se com “a forma clara como se expressou o Conselho Europeu”, do qual recebeu “um voto de confiança que o honra”, espera, “nos próximos dois anos e meio, corresponder às expectativas.”

“Recordo-me bem como foi difícil, há cinco anos, tomar uma decisão no Conselho sobre três nomes que tínhamos de decidir. Desta vez, pareceu-me relativamente rápida essa decisão”, destacou.

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