Ana Abrunhosa e o aviso público de Marcelo: "É porque tem amizade à ministra"
A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, disse este domingo que "não há melindres" com o Presidente da República por dizer que não a perdoará se a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que acha que deve ser.
"Partilhamos totalmente da preocupação e da pressão do senhor Presidente da República [PR]. O senhor Presidente, por diversas vezes, transmite [a sua opinião] em privado e em público. Desta vez, teve maior visibilidade", disse hoje Ana Abrunhosa aos jornalistas.
A ministra da Coesão Territorial falava na Guarda, à margem da inauguração dos Passadiços do Mondego, que estão integrados no Parque Natural da Serra da Estrela e no Estrela Geopark Mundial da UNESCO.
"Não há melindres, há uma partilha de preocupações e há uma partilha da ambição de aproveitarmos bem estes fundos [europeus] que nós temos à nossa disposição. E não vale a pena dramatizar, não vale a pena, porque o senhor Presidente faz o seu papel, que é exigir ao Governo que faça trabalho", disse, quando confrontada com as declarações do PR.
A ministra explicou aos jornalistas que a intervenção do PR "foi num ambiente muito informal" e que a sua preocupação é "perfeitamente legítima".
"Estamos num momento em que temos recursos financeiros à nossa disposição, muitos recursos financeiros, mas todos também sabemos, e não é só no nosso país que o setor da construção é um setor onde os preços aumentam todas as semanas, muitas das vezes os concursos ficam desertos, portanto, a execução dos projetos demora mais do que aquilo que desejamos", justificou.
Acrescentou que a preocupação do PR sobre os fundos europeus "é legítima" e a forma informal como se lhe dirigiu "é porque tem amizade à ministra".
"Eu já ouvi muitas vezes o senhor Presidente da República a preocupar-se com a execução dos fundos", disse.
Ana Abrunhosa explicou, ainda, que as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa foram feitas após a sua intervenção onde disse que o projeto inaugurado na Trofa tinha usado fundos europeus, tinha feito uma homenagem aos autarcas e "referido que a vida pública é uma vida de grande entrega, de grandes dificuldades e exposição".
"Portanto, nessa sequência, é normal que o senhor Presidente da República tenha feito a intervenção que fez", rematou.
A ministra da Coesão Territorial referiu também que o Governo "está atento" aos fundos comunitários e "está sempre preocupado".
Apontou, no entanto, que a responsabilidade da execução dos fundos comunitários "é a diferentes níveis".
No sábado, na Trofa, no dia em que foram inaugurados os Paços do Concelho de um município criado há 24 anos, Marcelo Rebelo de Sousa começou o discurso dirigindo-se a Ana Abrunhosa a quem, disse, queria dizer "duas coisas".
"E como não tenho tido oportunidade de o dizer digo-lhe hoje. Quando aceitamos funções políticas sabemos que é para o bom e para o mal. Não somos obrigados a aceitar. Sabemos que são difíceis, são árduas, que estão sujeitas a um controlo e a um escrutínio crescente -- a democracia é isso -- e há dias bons e dias maus, dias felizes e dias infelizes. A proporção é dois dias felizes por 10 dias infelizes", referiu.
E prosseguiu, ainda dirigido à ministra, com um aviso sobre a execução dos fundos europeus.
"Este é um dia super feliz, mas há dias super infelizes. E verdadeiramente super infeliz para si será o dia em que eu descubra que a taxa de execução dos fundos europeus não é aquela que eu acho que deve ser. Nesse caso não lhe perdoo. Espero que esse dia não chegue, mas estarei atento para o caso de chegar", declarou.