Política
28 outubro 2021 às 15h02

Rangel sugere legislativas a 20 ou 27 de fevereiro e anuncia Poiares Maduro

O candidato à liderança do PSD pede eleições num espaço "razoável" para os sociais-democratas se reorganizarem. E anunciou Miguel Poiares Maduro como coordenador do seu programa eleitoral e o economista Fernando Alexandre para a área económica.

Paulo Rangel apelou ontem para que as eleições legislativas antecipadas, na sequência da crise política do chumbo do Orçamento do Estado para 2022, se realizem "num prazo razoável, racional e rápido". E apontou para os dias 20 ou 27 de fevereiro para que se compatibilizem com a estabilização dos órgãos do PSD e CDS, que têm eleições para a direção e congressos. O DN sabe que Rui Rio se vai bater para que ocorram já em janeiro, até porque tem maior facilidade na elaboração da lista de deputados caso vença as diretas de 4 de dezembro.

Mas para o ainda eurodeputado social-democrata o final de fevereiro permitiria também a preparação "cuidada" das listas de deputados e minimizar os riscos da pandemia em campanha eleitoral em pleno inverno. Recorde-se que Paulo Rangel foi recebido pelo Presidente da República em Belém e terá sido, eventualmente, ouvido sobre o processo interno no PSD.

Interpelado sobre o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ter apontado para janeiro como o mês mais provável para legislativas antecipadas, o candidato à liderança do PSD lembrou que a marcação da data das eleições é da "exclusiva responsabilidade" do Presidente da República.

Paulo Rangel manifestou também o seu apoio ao requerimento que um conjunto de conselheiros nacionais entregou para a realização de um Conselho Nacional extraordinário que possa antecipar a data do congresso do PSD. Defendem que este se realize a 17, 18 e 19 de dezembro, em vez de 14, 15 e 16 de janeiro, com o estava previsto. A direção do PSD não é favorável a esta antecipação.

"É um dever de Estado, mas também do sentido democrático, garantir que as regras democráticas, tanto na República como na vida interna do partido, são integralmente cumpridas e respeitadas", disse, ao defender que se deve manter a data de 4 de dezembro para as eleições diretas no PSD, como foi aprovado pelo Conselho Nacional de 14 de outubro.

E sem "estados de emergência ou de exceção", "nenhuma razão se antevê para alterar, cancelar, suspender ou anular as eleições porque é perfeitamente compatível com a marcação de eleições legislativas", acrescentou. Esta defesa da data de 4 de dezembro para as diretas no PSD são já preventivas, depois de notícias a sugerir que Rui Rio, o adversário na corrida à liderança, poderia querer alterar a data.

Para Rangel, o curto mês de campanha interna será como as primárias noutros países e "será uma grande oportunidade para o PSD apresentar seus projetos e respetivas equipas e as propostas para os portugueses e cidadãos em geral".
Foi partindo desta ideia que avançou já para a preparação das bases da sua moção de estratégia e de um programa eleitoral porque, lembrou, "nestas eleições está em causa um candidato a primeiro-ministro".

Daí foi um passo a anunciar dois trunfos na sua equipa: Miguel Poiares Maduro, antigo ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional de Passos Coelho, para coordenador do programa eleitoral, e o economista Fernando Alexandre como responsável pela área económica.

Paulo Rangel aproveitou esta primeira declaração pós-chumbo do OE 2022 para atacar o PS e, em particular, António Costa, com quem disse que nunca se entenderá politicamente, reafirmando a ideia de que com ele não haverá um Bloco Central PSD/PS. "Importa sublinhar que a responsabilidade da crise política é atribuível por inteiro ao PS e ao seu secretário-geral António Costa". Que, "em seis anos, com o apoio pontual, circunstancial e titubeante dos partidos da esquerda radical, quiseram simular a estabilidade política", quando ela era "frágil, insegura e contida", condicionando "o crescimento do país e pondo em causa o Estado-social".

Esta aliança entre PS e os partidos à esquerda terminou com "estrondo" e mostra que o "todo e cada voto no PS será inútil". Rangel explicou: inútil porque o PS não terá interlocutores nem à esquerda nem à direita. Isto se for eleito presidente do PSD.

Já interpelado sobre o seu encontro com o Presidente da República, mesmo antes de Marcelo ter recebido os partidos, Paulo Rangel aproveitou para atacar Rui Rio, que foi duro com o Presidente. "Verbero a forma como tratou o Presidente. Um candidato a líder de um partido deve sempre o respeito institucional ao Presidente da República".

O requerimento a pedir a antecipação do Congresso do PSD para dezembro já foi entretanto entregue esta quinta-feira na sede, com 68 assinaturas de conselheiros nacionais com direito a voto, incluindo os antigos presidentes Rui Machete e Luís Filipe Menezes.

Em comunicado enviado à Lusa, refere-se que foi entregue, na sede nacional do PSD ao cuidado do presidente do Conselho Nacional, "o requerimento potestativo para convocação, no prazo de 5 dias, de reunião extraordinária do Conselho Nacional do PSD para que possa deliberar a antecipação do 39º Congresso Nacional do PSD para os dias 17, 18 e 19 de dezembro do presente ano", em vez de entre 14 e 16 de janeiro, como estava previsto.

Entre os proponentes, refere a nota, estão também "vários dirigentes distritais, jovens, autarcas, deputados e muitos outros militantes". E esta é uma posição defendida por Paulo Rangel.

"Esta antecipação do Congresso Nacional do PSD contribui, sobretudo, para o interesse nacional viabilizando um calendário de eleições legislativas rápido, com as várias forças políticas, incluindo as mais representativas, em plenas e iguais condições políticas, de legitimidade, formais e operacionais para oferecerem aos portugueses as suas melhores equipas e projetos, com a clareza de alternativas que uma democracia saudável merece", justificam.

Para os requerentes, "a garantia do regular funcionamento das instituições e processos democráticos internos do PSD, enquanto partido pilar do sistema democrático, é também crucial para a defesa da democracia e consequentemente do interesse nacional" e consideram que o requerimento respeita a decisão de marcação de diretas para 04 de dezembro, "a data mais próxima proposta (e preferida) pela Comissão Política Nacional".

"O processo democrático interno deverá assim ser prosseguido e completado, sem interrupção ou suspensão permitindo a posse atempada de todos os órgãos do partido", defende, considerando que esta proposta garante a realização do Congresso Nacional do PSD, "momento de grande visibilidade e afirmação política externa do partido", numa data próxima das eleições diretas e não distante da data das eleições legislativas antecipadas.

Os requerentes apelam aos órgãos nacionais, incluindo à direção e aos dois candidatos já anunciados a presidente do PSD, Rui Rio e Paulo Rangel, "que possam acolher e acompanhar esta iniciativa de militantes do PSD".

Na contagem de espingardas nas estruturas e autarcas do PSD, Paulo Rangel vai à frente. O candidato à presidência do partido conta com o apoio das distritais sociais-democratas de Viseu (Pedro Alves), Santarém (João Moura) e Castelo Branco (Luís Santos), tal como as do Porto (Alberto Machado), de Coimbra (Paulo Leitão) e de Beja (Gonçalo Henrique).

Os apoios anunciados pela candidatura de Rangel incluem ainda os presidentes da Câmara de Bragança (Hernâni Dias), Esposende (Benjamim Pereira), Vila Nova de Famalicão (Mário Passos), Póvoa de Varzim, (Aires Pereira) ou Santa Maria da Feira (Emídio Sousa).

O atual presidente do PSD, Rui Rio, conta com o seu diretor de campanha, Salvador Malheiro, que além de presidir à Câmara de Ovar lidera a distrital de Aveiro, e o apoio de mais de uma dezena de presidentes de câmara, entre os quais Ribau Esteves (Aveiro), Rogério Bacalhau (Faro) ou Mário Constantino (Barcelos). Também os presidentes das distritais do PSD de Viana do Castelo, Bragança e Vila Real anunciaram o apoio à recandidatura de Rio.

paulasa@dn.pt com Lusa