"A caixa de pandora" foi aberta. PS/Madeira quer comissão para explicar alegados casos de favorecimento
Membros ligados a anteriores governos madeirenses referiram ao DN que houve grupos económicos a serem beneficiados em obras na região. Partido da oposição vem agora pedir esclarecimentos e exige que se tomem medidas.
"Abriu-se a caixa da pandora". A frase é de Miguel Iglésias, vice-presidente do PS Madeira. O motivo? Os alegados casos de favorecimento a grupos económicos e de "obras inventadas" pelos governos regionais do PSD, que levou os socialistas da Madeira a pedirem este sábado à Assembleia Legislativa regional a abertura de uma comissão de inquérito sobre o tema.
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A informação foi avançada pelo próprio partido, em comunicado, e surge horas depois de o DN ter noticiado eventuais casos de favorecimento a empresas de construção. Sérgio Marques, um dos deputados do PSD na Assembleia da República, referia a existência de grupos económicos "que cresceram muito à conta de negócios com a região", com alguns destes grupos a acumularem "muito poder".
Também Miguel Sousa, que coordenou a economia do governo regional entre 1988 e 1992, confirmou a existência destas obras. "Qualquer pessoa conhecedora, atenta à vida da Madeira, percebe isso". Segundo o ex-governante, a partir de 2000, houve mesmo um "esbanjar de dinheiro", que começou com a entrada de Guterres no governo central - que, ao entrar, pagou a dívida dos dois governos regionais. Neste período, "a Madeira acaba o aeroporto, tem tudo feito: o que era preciso fazer. E não tinha dívida. Ora isto era o céu na terra. Melhor não era possível". Entraram depois os governos de Alberto João Jardim que representaram "um esbanjar de recursos financeiros".
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Depois do ano 2000, afirmava Sérgio Marques, "começaram a inventar-se obras, quis-se continuar no mesmo esquema de governo, a mesma linha. Obras sem necessidade, aquela lógica das sociedades de desenvolvimento, todo aquele investimento louco que foi feito pelas sociedades de desenvolvimento".
Assim, este sábado, o PS Madeira veio a público manifestar-se contra estas práticas. Segundo Rui Caetano, líder da bancada parlamentar do PS na região autónoma, estas afirmações "são de extrema gravidade" e, por isso, refere a nota publicada no site do partido, "têm de ser cabalmente esclarecidas por todos os envolvidos". Citado no comunicado, Rui Caetano refere que "as declarações de Sérgio Marques vêm comprovar aquilo que, ao longo de anos, o PS tem vindo a denunciar".
Por isso, defende o partido, há a necessidade de "exigir responsabilidades governativas e, possivelmente, criminais, perante estes atos".
O líder parlamentar socialista refere ainda que "os madeirenses ficaram com o seu futuro hipotecado e continuam a ter de pagar a pesada dívida irresponsável de mais de 6 mil milhões de euros criada pelos governos do PSD, sem que ninguém tenha assumido responsabilidades ou tenha sido condenado".
Na nota, o líder parlamentar dos socialistas frisa que não se pode permitir que "quem atenta desta forma contra os direitos e os interesses da Madeira e dos madeirenses continue impune". Rui Caetano confronta também o atual líder do governo regional, Miguel Albuquerque, com esta situação e "com o facto de continuar a privilegiar os amigos e os grupos económicos do regime, bem como de persistir no despesismo irresponsável, injetando milhões e milhões de euros do erário público nas sociedades de desenvolvimento falidas e que, como agora se comprova, estiveram ligadas a "investimentos loucos".
No final, os socialistas deixam ainda o pedido a Miguel Albuquerque para que explique qual o escrutínio prévio ao recrutar Sérgio Marques para o seu governo (foi secretário regional entre 2015 e 2017) e para figurar nas listas pela Madeira à Assembleia da República.