Marques Mendes abriu e encerrou o "debate bastante vivo" entre André Ventura e João Cotrim de Figueiredo

Marques Mendes abriu e encerrou o "debate bastante vivo" entre André Ventura e João Cotrim de Figueiredo

Líder do Chega e ex-presidente da Iniciativa Liberal trocaram ataques na SIC. Debate acabou com Cotrim de Figueiredo a pedir voto útil dos eleitores do Chega contra "o pior que o sistema já produziu".
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Muitos ataques num debate entre candidatos que se tratam por tu

O debate entre André Ventura e João Cotrim de Figueiredo, transmitido pela SIC nesta sexta-feira começou com a moderadora, Clara de Sousa, a fazer com que os dois candidatos presidenciais que tinha em estúdio se posicionassem perante desafios de transparência lançados pela candidatura de Marques Mendes. E o antigo líder social-democrata tornou-se uma espécie de terceiro passageiro do confronto entre dois homens que há apenas seis anos eram deputados únicos (e líderes) de partidos emergentes, mas agora têm pé e meio (Ventura) na segunda volta das eleições presidenciais, ou parecem estar à distância de um salto (Cotrim de Figueiredo), cabendo ao liberal ter uma intervenção final nada meiga para Mendes.

"Se votarem em André Ventura estão a fazer que alguém que é provavelmente do pior que o sistema já produziu ganhe na segunda volta", disse Cotrim de Figueiredo, dirigindo-se aos eleitores do Chega, depois de defender que o líder do partido não tem intenção de vencer, perfil para ser Presidente da República e possibilidade de vencer no confronto direto com outros candidatos. E, sendo certo que o eurodeputado da Iniciativa Liberal, não nomeou Marques Mendes, que veio desmentir que tenha procurado incentivar a sua desistência da corrida ao Palácio de Belém, dificilmente poderia estar a referir-se a Gouveia e Melo ou a António José Seguro como o possível adversário de Ventura na segunda volta.

Ao longo do debate, apesar da conhecida proximidade entre os dois candidatos, que se trataram por tu diversas vezes - embora Ventura o tenha feito com maior frequência do que Cotrim de Figueiredo -, sucederam-se os ataques. O líder do Chega acusou o adversário de ter despedido Manuela Moura Guedes, quando era administrador executivo da TVI, "a pedido de Sócrates", o que foi prontamente desmentido, tal como Ventura desmentira ter algum dia votado no ex-primeiro-ministro socialista.

Cotrim de Figueiredo divergiu de Ventura no "braço de ferro com o Tribunal Constitucional" que o primeiro acusa o segundo de querer manter, o que colocará em perigo a entrada em vigor de uma Lei da Nacionalidade que ámbos consideram necessária para fazer face ao "descontrolo" que existe em Portugal no que toca à imigração. E os dois mostraram estar ainda mais distantes no que toca às pensões. O líder do Chega disse que os liberais "querem miséria e mercado selvagem", enquanto o eurodeputado da Iniciativa Liberal acusou o Chega de não fazer contas quando apresenta propostas, exemplificando com o impacto de dez mil milhões de euros que teria a equiparação das pensões mínimas ao salário mínimo nacional.

Entre os dois candidatos que estarão mais bem posicionados entre os eleitores mais jovens, seja pelas "soluções" ou pelo "alarido", ou pela diferença entre "o Príncipe Real e o país real" - uma frase que terá valido um jantar ao ex-líder da Iniciativa Liberal, pois apostou que seria dita pelo líder do Chega - também houve tempo para acusações cruzadas de hipocrisia. Ventura disse que Cotrim de Figueiredo votou no Parlamento Europeu a favor do Pacto das Migrações, enquanto o eurodeputado ripostou com as "dezenas de votos" dos Patriotas pela Europa, família política do Chega, "a favor de Putin". Tal como houve referências à idade de Cotrim, que teve direito a uma "resposta estúpida" para uma "dúvida estúpida", para encerrar aquilo que o liberal descreveu como "um debate bastante vivo e bastante interessante".

Leia a seguir o "filme" do debate:

Príncipe Real, José Sócrates e Manuela Moura Guedes entram num debate...

Inquirido por Clara de Sousa sobre o motivo de estar a liderar as sondagens entre os mais jovens, Cotrim de Figueiredo diz que "as pessoas sentem que quando digo alguma coisa sei do que estou a falar e tenho soluções paara os problemas que levanto". E lança ataques ao interlocutor: "Não faço só alarido, muitas vezes chamativo, mas pouco útil para a resolução dos problemas."

Por seu lado, André Ventura questiona a pergunta. "Tivemos cinco sondagens nos últimos dias e estou em primeiro em todas. Acho graça que me pergunte porque não estou em primeiro num segmento", comenta, acrescentando que "os eleitores estão a reconhecer esta campaha como a mais importante", embora considere "francamente" que o mais provável será que o eleitorado mais jovem dê preferência a si ou ao adversário que tem à frente.

No entanto, logo voltam os ataques ao eurodeputado da Iniciativa Liberal. "Há uma diferença nesta mesa. O João é o candidato do Príncipe Real e eu sou o candidato do país real", diz, levando Cotrim de Figueiredo a mencionar que tinha apostado um jantar em que a frase seria ouvida durante o debate.

Ventura diz que o homem à sua frente votou contra o aumento de pensões, apesar de Portugal ter uma pensão mínima de 331 euros. "Não é o país de Bruxelas", remata.

Abertas as hostilidades, Cotrim de Figueiredo diz ser "tanto das elites" que não passou de ser inspetor tributário para "dar conselhos a milionários para verem como fugir aos impostos". E, recordando que Ventura foi testemunha num julgamento que envolvia atribuição de vistos gold, acusa-o de já ter votado em José Sócrates, o que o líder do Chega garante ser falso.

Sobre as pensões baixas, Cotrim de Figueiredo diz-se "tão preocupado com as pensões de hoje como com as daqui a 20 e 30 anos", o que motivou a Iniciativa Liberal a votar contra propostas de aumento que o partido entendeu não serem sustentáveis. "Sei que não é frequente o Chega fazer contas. Chegou a tentar fazer a proposta de equivaler as pensões ao salário mínimo", diz, calculando que o impacto seria de 10 mil milhões de euros.

André Ventura responde com "muito orgulho em ser funcionário público", dizendo que os quer despedir nem afastar, deixando no ar que esse é o objetivo dos liberais. E passa ao ataque, dizendo que quando era inspetor tributário "não estava na TVI, a despedir a Manuela Moura Guedes, a pedido de Sócrates".

É a vez de Cotrim de Figueiredo dizer que isso é falso e a acrescentar que saiu da TVI "incompatibilizado com os acionistas, que eram amigos de Sócrates".

Depois de Ventura alegar que tem "uma visão social", ao contrário dos liberais, que "querem pobreza e mercado selvagem", Cotrim de Figueiredo acusa-o de "debater usando mentiras" e acusa-o de hipocrisia por se insurgir com o caso do ex-adjunto pedófilo do Ministério da Justiça quando no Chega os casos de pedofilia sucedem-se. "Quem bate no peito contra a pedofilia não pode ter estes casos", prossegue o candidato liberal, realçando a proximidade de Ventura com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban, cujo regime está a ser afetado por escândalos de abuso de menores.

Ventura comenta que a diferença entre si e Cotrim é que não recebe "chantagem de financiadores para afastar candidatos" e pretende a castração dos pedófilos, mas a última palavra no debate cabe ao adversário.

E o candidato apoiado pela Iniciativa Liberal diz que, num "debate bastante interessante e bastante vivo", esteve com "alguém que não quer ser Presidente da República, que mostrou não ter perfil para ser Presidente da República e que as sondagens mostram que não vai conseguir sê-lo", referindo-se a cenários de segunda volta. Pelo que, dirigindo-se diretamente aos eleitores do Chega, e num ataque também a Marques Mendes, diz-lhes que, "se votarem em André Ventura estão a fazer que alguém que é provavelmente do pior que o sistema já produziu ganhe na segunda volta", oferecendo-se como alternativa "se quiserem que as coisas mudem".

De Trump e da inundação de imigrantes à reforma dourada

A nova estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos e o apoio norte-americano a forças políticas europeias que se opõem à imigração, leva Clara de Sousa a perguntar a André Ventura, que tem feito "elogios rasgados a Donald Trump", de que lado está.

O líder do Chega diz que não só discorda de Trump "em muita coisa" como considera que o documento norte-americano limita-se a constatar "o óbvio", pois a Europa "está a ficar inundada em imigração", pois terá havido anos com "mais de um milhão de pedidos de asilo". "Vamos abrir os olhos. Não podemos continuar a ter uma Europa a receber gente de todo o lado e a ficarmos a pagar-lhes casa, carro e subsídios", acrescenta.

João Cotrim de Figueiredo responde que os ataques de Trump ao que considera ser a fraqueza da Europa constituem uma boa oportunidade de defender o projeto europeu. "É muito fácil criticar o que se passa na União Europeia e não discutr qual seria a alternativa. Se formos patriotas, no interesse de Portugal, temos a obrigação de ajudar a Europa a reformar-se rapidamente", acrescenta o liberal.

"E deixar entrar toda a gente?", interrompe Ventura, levando Cotrim de Figueiredo a irritar-se. "Reformar-se, homem! Falei de imigração?", continua, acusando o interlocutor não saber "falar de outra coisa" a não ser "imigração, corrupção e sei lá o quê".

Sobre a estratégia de segurança nacional dos Estados Unidos, Cotrim de Figueiredo diz que "a desintegração do projeto europeu" é aquilo que interessa a Trump. E, respondendo a uma pergunta de Clara de Sousa, quanto à importância relativa das dimensões atlântica e europeia de Portugal, aponta a União Europeia como "principal parceiro comercial, político e cultural".

"Nisso estamos de acordo. Quero o euro, quero a Europa e quero a NATO", diz Ventura, que logo de seguida aponta o acordo da União Europeia com o Mercosul como lesivo dos agricultores portugueses. E aposta numa sucessão de farpar ao adversário, a quem aponta "o maior erro da vida" ter deixado a liderança da Iniciativa Liberal "para ter a reforma dourada no Parlamento Europeu".

"Percebes mais de agricultura do que a CAP, cujo secretário-geral disse que era uma tragédia para a agrcultura portuguesa o adiamento do acordo com o Mercosul", ironiza Cotrim de Figueiredo, realçando que milhares de empregos de portugueses dependem do comércio com esse espaço comercial sul-americano, com 2500 milhões de euros em exportações

Sobre a alusão aos motivos que o levaram a candidatar-se ao Parlamento Europeu, Cotrim de Figueiredo opta pelo mesmo registo. "Tenho uma reforma dourada tão boa que resolvi candidatar-me a Presidente da República", diz, ouvindo mais tarde Ventura diagnosticar-lhe uma questão de ego para se lançar na corrida a Belém.

Quanto à acusação de querer enviar jovens para combater na Ucrânia, Cotrim de Figueiredo recorda que, como Gouveia e Melo disse no ano passado, numa entrevista ao DN, Portugal tem obrigações enquanto membro da NATO. Mas que para isso Portugal tem soldados profissionais, dos quais 1100 estarão atualmente em cenários de guerra.

O liberal aproveita também para criticar a família europeia do Chega, dizendo que os eurodeputados dos Patriotas pela Europa votaram "dezenas de vezes a favor de Putin".

Particularmente bizarra acaba por ser uma troca de palavras em que André Ventura recorda que Cotrim de Figueiredo chegou a dizer que não ficaria na política até aos 70 anos, mas está disposto a ser Presidente da República, o que implicaria ter essa idade no final do primeiro mandato. O antigo líder da Iniciativa Liberal corrige que ainda terá 69 anos nessa altura, levando Ventura a notar que se trata de "uma questão de meses".

"André Ventura, se a dúvida é estúpida, eu dou uma resposta estúpida", reage Cotrim de Figueiredo.

"Braço de ferro" com o Tribunal Constitucional divide candidatos

Ultrapassado o tema Marques Mendes, Clara de Sousa vira o debate para a Lei da Nacionalidade, que teve normas chumbadas pelos juízes do Tribunal Constitucional. A moderadora recorda que Cotrim de Figueiredo disse que a promulgaria, caso fosse eleito Presidente da República, ao que o candidato realça que promulgaria as alterações à Lei da Nacionalidade e nao as alterações ao Código Penal

"É uma lei que é absolutamente necessária que exista e que seja atualizada", defende Cotrim de Figueiredo, argumentando que o Instituto Nacional de Estatística suspendeu a divulgação dos dados sobre imigrantes em 2024 porque existem "fundadas dúvidas" sobre os dados provenientes da AIMA. "A grande ideia do PS que foi extinguir o SEF, introduzir a manifestação de interesse e acabar com a exigência de prova de meios de subsistência conduziu a este descontrolo total", acrescenta o eurodeputado da Iniciativa Liberal.

Cotrim de Figueiredo estabelece como grande diferença em relação a Ventura o facto de que não insistiria na alteração Código Penal. "Entrar num braço de ferro com o Tribubnal Constitucional é adiar a entrada desta lei em funcionamento. E isso é um desfavor ao controlo da politica migratória que precisamos de ter", defende, reduzindo a posição do Chega a uma "birra".

Por seu lado, André Ventura garante que não vai abdicar de defender que quem comete crimes em Portugal seja expulso e perca a nacionalidade portguesa. "Se alguém vem para cá, se torna português, e comete crimes de violação, terrorismo ou até golpe de Estado, tem de perder a nacionalidade", diz.

Atacando o adversário por ter votado favoravelmente, no Parlamento Europeu, o Pacto Migratório "que permitiu a distribuição de migrantes pelos estados todos", André Ventura diz que "francamente estamos um bocadinho cheios de migrantes", sublinhando que Portugal "não pode ser um reduto da Índia, do Bangladesh ou do Nepal".

Em mais um ataque a Cotrim de Figueiredo, Ventura recua a 2019, quando o então deputado único da Iniciativa Liberal considerava "regra geral" que "todos os que aqui nasçam, e o desejem, possam ser portugueses". E que, "no fim do dia", não percebe a posição de quem já veio dizer que promulgaria a Lei da Nacionalidade.

O candidato apoiado pela Iniciativa Liberal contrapõe que a consequência do "braço de ferro" com o Tribunal Constitucional é que não haverá uma nova Lei da Nacionalidade. "Ou está a dizer que, enquanto Presidente da República, promulgaria uma lei que o Tribunal Constitucional vetou?", pergunta a Ventura.

"Não faço taticismo político com convicções. Ou temos a convicção que não devemos dar a nacionalidade portuguesea a criminosos ou não temos", responde o líder partidário, ouvindo Cotrim de Figueiredo ironizar que "é para isto que serve o Chega", pois não haverá lei para "termos os princípios respeitados".

"Quem vem para Portugal e quer a nacionalidade tem de cumprir as nossas regras e os nossos valores", diz Ventura, para quem deve perder a nacionalidade quem cometer crimes e "não é toda a gente que aqui nasça num comboio" que tem direito a ser português.

Cotrim de Figueiredo diz que "tudo o que estamos a dizer é compaginável" com uma Lei da Nacionalidade capaz de entrar em vigor, mas o mesmo não se aplica às alterações ao Código Penal aprovadas pela Assembleia da República. E diz que, se for eleito Presidente da República, chamará os partidos empenhados na alteração legislativa - PSD, CDS, Chega e Iniciativa Liberal - e dir-lhes-á "para serem sensatos".

André Ventura garante que não desistirá, tal como não desiste do combate ao enriquecimento ilícito, apesar de o Tribunal Constitucional não concordar. "Vamos desistir? Não vamos desistir", repete, ouvindo de Cotrim de Figueiredo que os países que têm perda de nacionalidade a quem comete crimes o fazem por crimes contra o Estado, como terrorismo, sedição e traição à pátria".

"Queres ficar com o país cheio de bandidagem?", pergunta Ventura ao interlocutor, antes de se passar ao tema seguinte.

Ventura diz que já pediu suspensão de mandato e Cotrim explica que não o pode fazer

No terceiro round do tema inicial do debate, Clara de Sousa começa por dizer que Marques Mendes dissolveu a empresa familiar e desvinculou-se da Abreu Advogados. E pergunta aos dois candidatos presidenciais que estão consigo no estúdio se estão dispostos a suspender os seus mandatos enquanto deputados.

"Estaria, se essa figura existisse", responde Cotrim de Figueiredo, esclarecendo que não existe a figura de suspensão de mandato no Parlamento Europeu. Mas garante que, caso fosse possível, "fá-lo-ia, de certeza", por uma "questão de disponibilidade e de compromisso", pois quer ser Presidente da República.

Por seu lado, André Ventura revela que já pediu a suspensão de mandato, esperando a tramitação na Comissão Parlamentar de Transparência, "face às regras que existem". Assim sendo, durante a campanha eleitoral não será candidato à Presidência da República e deputado em simultâneo. "Como sinto que vou à segunda volta das eleições, ainda vai ser um período longo", remata.

Cotrim nega ter dito que Mendes não é uma pessoa séria

Também desafiado por Clara de Sousa a dizer quando revelará os clientes para quem trabalhou, João Cotrim de Figueiredo diz que já o fez antes de entrar em campanha. "Publiquei um livro, há um mês, que tem toda a minha vida profissional até entrar na política", diz, acrescentando que, depois disso, entregou várias vezes declarações de rendimentos e de património. "É consultável e público. Nada a esconder", reforça.

Cotrim de Figueiredo nega ter dito que a atividade de Marques Mendes na advocacia permitisse afirmar com certezas que se trata de uma pessoa séria, como teria alegadamente dito numa entrevista. "Certamente que o Expresso divulgará as gravações da entrevistas, mas o que me perguntaram é se podia dizer alguma coisa agradável acerca de António José Seguro. E eu disse que era um homem sério. E perguntaram se podia dizer o mesmo sobre Marques Mendes, ao que disse que ignoro o seu passado profissional. Não podia dizer por ignorância, e não por suspeitas", argumenta o eurodeputado da Iniciativa Liberal com a moderadora, que ao longo dos últimos anos partilhou estúdio com Marques Mendes nos seus comentários televisivos.

Clara de Sousa refere que Cotrim de Figueiredo tem como mandatário o não nomeado José Miguel Júdice, chamando-lhe "um dos grandes advogados deste país na área dos negócios", pelo que isso "poderá parecer contraditório" com as reservas do eurodeputado da Iniciatva Liberal quanto à atividade de Mendes. Cotrim de Figueiredo diz que nunca pediu a divulgação de clientes em processos, mas que "quando a atividade é de consultoria gostaria de saber quais são".

"Eu não exijo a divulgação dos nomes. Mas do ponto de vista do interesse do candidato Marques Mendes, e do esclarecimento dos eleitores, era bom que o fizesse", continua Cotrim de Figueiredo.

Nesse momento, André Ventura levanta "uma questão relevante", dizendo que o problema não tem só a ver com "ligações empresariais que Marques Mendes pode ou não querer explicar". Para o líder do Chega, está em causa sobretudo a notícia de que o candidato presidencial apoiado pelo PSD e pelo CDS "recusa explicar como é que aumentou o património em centenas de milhar de euros".

Para Cotrim de Figueiredo, há que explicar como é possível acumular 700 mil euros no espaço de dois anos "em trabalho que não é jurídico", como a revista Sábado revelou ter acontecido com Marques Mendes e a sociedade Abreu Advogados.

André Ventura interrompe para dizer que, na sua candidatura, "estamos completamente à vontade" quanto a apoiantes que poderão ter feito contratos com entidades públicas, como foi referido pelo ex-ministro social-democrata Miguel Poiares Maduro, membro da comissão política da candidatura de Marques Mendes.

Ventura diz que não tem "nada a declarar" sobre rendimentos

O debate arranca com Clara de Sousa a perguntar a André Ventura se, tal como Marques Mendes fez nesta sexta-feira, estará disponível para divulgar quem eram os seus clientes. "Antes de mais, eu não era dono de nenhuma sociedade. Era um colaborador, como a Clara era colaboradora da SIC", responde o líder do Chega, acrescentando que entrega "desde há muitos anos" declarações de transparência, enquanto deputado e conselheiro de Estado, mostrando a evolução do seu património.

Posto isto, Ventura recua ao seu debate com Marques Mendes, dizendo ter sido quem desafiou o antigo presidente do PSD a esclarecer as suas ligações a Angola, defendendo que o "deixavam condicionado" a não reconhecer que as declarações do presidente do país, João Lourenço, eram "uma humilhação para Portugal".

André Ventura recorda que foi comentador de um canal de televisão, sem nomear a CMTV, e que fez consultoria e deu aulas em duas universidades. "É claríssimo isso, e é positivo. Só tenho uma conta bancária, o património está lá todo, não tenho aplicações financeiras", acrescenta, repetindo a Clara de Sousa que não tem "nada a declarar".

"De quem se candidata a um cargo público tem de se saber as relações que teve, com quem teve, o património que tem, e de onde vem, porque alguns chegam a Lisboa e ficam logo ricos", continua Ventura, para quem Marques Mendes "disse hoje aquilo que queria dizer". Mas, aos seus olhos, o também conselheiro de Estado "é o candidato mais condicionado aos piores interesses e negócios que o sistema tem" e é também "o candidato do sistema por estar ligado ao Governo".

De colegas de corredor a rivais nas presidenciais

André Ventura e João Cotrim de Figueiredo, que se encontram na SIC na mesma sexta-feira em que uma sondagem da Intercampus coloca o seu eventual reencontro na segunda volta das presidenciais como possível - ainda que não provável, pois André Ventura tem 18,7% de intenções de voto, Marques Mendes segue com 16,9% e Cotrim de Figueiredo com 13,6%, existindo uma margem de erro de quatro pontos percentuais -, já foram vizinhos de corredor.

Aconteceu na legislatura decorrente das eleições legislativas de 2019, quando Ventura e Cotrim de Figueiredo se tornaram os primeiros deputados do Chega e da Iniciativa Liberal. Tinham os seus gabinetes lado a lado, num corredor do edifício novo da Assembleia da República, mas depressa passaram para o edifício antigo, à medida que os seus grupos parlamentares se multiplicaram, mas com vantagem para o Chega, que elegeu 12 deputados em 2022, 50 em 2024 e 60 em 2025, enquanto a Iniciativa Liberal passou para oito mandatos, que manteve em 2024, já sem Rui Rocha, subindo para nove este ano.

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