Gabriel Mithá Ribeiro
Gabriel Mithá RibeiroFoto: Leonardo Negrão / Global Imagens

Mithá Ribeiro explica porque saiu do Chega e aponta os "sete pecados mortais" de André Ventura

Ex-deputado utilizou 29 vezes a palavra “narcísico” para se referir ao líder do partido e revelou que foi impedido de falar sobre racismo no parlamento para não se tornar "uma nova Joacine".
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Gabriel Mithá Ribeiro explicou esta sexta-feira, 17 de outubro, num artigo de opinião publicado no Observador, que saiu da Assembleia da República após ter ficado fora do governo-sombra escolhido por André Ventura.

O ex-deputado do Chega utilizou 29 vezes a palavra “narcísico” para se referir ao líder do partido, ao qual apontou "sete pecados mortais": “Desprezo [pelo ideal reformista]”, “Inconsciência [moral]”, “Negligência [cívica]”, “Frieza [desumana de líder de ignorantes]”, “Soberba [de violador do exercício de função soberana]”, “Irresponsabilidade [de brincar ao governo sombra]” e “Imaturidade [de políticos destruidores de povos]”.

"Desvinculei-me do Chega, pois não toleraria a mim mesmo arrastar-me numa das mais escandalosas práticas de parasitismo social e subsidiodependência, a condição de deputado-joguete nas mãos de um líder narcísico incompatível com qualquer forma de sujeito coletivo, que tratou de destruir os fundamentos de uma instituição sólida que lhe servisse de filtro existencial", escreveu o ex-deputado.

Gabriel Mithá Ribeiro
Ex-deputado do Chega Mithá Ribeiro desistiu da candidatura à Câmara de Pombal

Mithá Ribeiro acusa Ventura de não conseguir “conter o demónio vingativo contra quem o critique” e preferir “prejudicar uma sociedade inteira a correr o risco de expor o seu ego ao desconhecimento de determinada matéria”.

O ex-parlamentar, que nasceu em Moçambique, foi filiado no PSD durante 15 anos e é professor e investigador doutorado em Estudos Africanos, revelou ainda que foi impedido de falar sobre racismo na Assembleia da República. “André Ventura impediu-me de falar sobre o assunto no Parlamento e, até hoje, o tema foi banido do radar político e cívico do Chega na mais cobarde irresponsabilidade social, cívica, civilizacional”, prosseguiu, adiantando que “um outro militante" lhe recomendou não tocar no assunto por causa do risco de se tornar "uma nova Joacine”.

Mithá Ribeiro acusa Ventura de não compreender "a essência ideológica do seu próprio partido político”, que está “cada vez mais disfuncional no sentido patológico do termo”.

Gabriel Mithá Ribeiro
Chega anuncia renúncia ao mandato do deputado Gabriel Mithá Ribeiro

“A sua personalidade tóxica envenena o que ele mesmo semeou numa direita que não mais se pode permitir a si mesma ser infantil, primária, imoral, irracional, irresponsável, submissa a um dono”, continuou, tendo ainda comparado Ventura a José Sócrates: “A sua impossibilidade de olhar o meio envolvente sem o filtro narcísico move-o numa cruzada insana contra o sujeito coletivo. Tal pulsão existencial alimenta no núcleo duro do seu poder interdependências pessoais deprimentes, moralmente dissolventes e socialmente danosas no caso de ser governo. O país provou do mesmo veneno com o Partido Socialista de José Sócrates.”

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Agressão estará na origem da demissão de Gabriel Mithá Ribeiro

Mithá Ribeiro foi eleito deputado na XV, XVI e XVII legislaturas, sempre pelo círculo de Leiria, tendo sido reconduzido como secretário da mesa da Assembleia da República em junho passado, depois das eleições legislativas antecipadas. Porém, em 22 setembro o grupo parlamentar do Chega anunciou que o deputado pediu a renúncia ao mandato e que seria substituído por Rui Fernandes, sem revelar os motivos desta decisão.

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