Os portugueses que integraram a flotilha humanitária chegaram no domingo à noite a Lisboa
Os portugueses que integraram a flotilha humanitária chegaram no domingo à noite a LisboaPaulo Spranger

"Campanha panfletária" e "palhaçada". Nuno Melo e Ventura criticam flotilha

O presidente do CDS "recusa contribuir mais para as campanhas panfletárias do Bloco de Esquerda". André Ventura diz que flotilha foi "uma palhaçada, um disparate de alguém que virou as costas à luta"
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Nuno Melo defendeu esta segunda-feira, 6 de outubro, que os ativistas da flotilha humanitária por Gaza "já fizeram o seu número" e devem agora dedicar-se à campanha para as autárquicas.

Após a chegada a Portugal dos postugueses que participaram na flotilha Global Sumud e que estiveram detidos em Israel, entre os quais Mariana Mortágua, coordenadora e deputada única do Bloco de Esquerda, o presidente do CDS considerou que estes "não fizeram nada do ponto de vista humanitário".

"Não vou dar mais para esse peditório. Os ativistas já fizeram o seu número, já pararam em Ibiza, já pararam na Tunísia, chegaram a Israel, passados dois dias foram devolvidos a casa. Já fizeram a sua coisa panfletária. Não resolveram nada do ponto de vista humanitário", afirmou Nuno Melo durante uma visita à feira quinzenal de Ponte de Lima numa ação de campanha para as eleições autárquicas.

"Estou focado nas autárquicas locais, no que interessa às pessoas. Conquistar mandatos e, a colocar o CDS-PP ao serviço do povo português. É isso que estamos a fazer todos os dias. De resto não temos de contribuir mais para as campanhas panfletárias do Bloco de Esquerda. Há muito quem o faça, eu não vou fazer mais", afirmou Nuno Melo.

Também André Ventura, presidente do Chega, numa ação de campanha na Moita, criticou novamente a flotilha Golbal Sumud, que considerou "uma palhaçada feita por quem não deve ter muito que fazer".

“Eu acredito que em Gaza haja insegurança, que em Gaza haja falta de alimentos, que em Gaza haja pessoas que estão a passar mal. Mas é que aqui em Setúbal também, aqui na Moita também, em Lisboa também, em Sintra também, no Porto também, no Algarve também, no Alentejo também. A Mariana Mortágua é deputada da nação, não é deputada palestiniana”, defendeu, salientando que "quem paga o salário a Mariana Mortágua não são os habitantes de Gaza".

"Estamos a falar de pessoas que foram meter-se numa zona de guerra por sua própria vontade, que em vez de estarem cá a ajudar os portugueses foram ajudar um povo que está a milhares de quilómetros daqui, que não tem consigo nenhuma ligação... Quando o país está a passar pelas dificuldades que está viraram-lhe as costas, quando sabiam que iam arranjar problemas, porque sabiam, foram para o meio de uma zona de guerra, vieram pedir ajuda ao estado português, aos militares portugueses e aos diplomatas portugueses", disse Ventura, reafirmando que "foi uma palhaçada, um disparate de alguém que virou as costas à luta, virou as costas a um país e se juntou a um conjunto de radicais".

Montenegro garante que Governo fez tudo para repatriar ativistas

Em Vieira do Minho, também em campanha, o líder do PSD e primeiro-ministro, foi questionado sobre as expressões utilizadas pelo líder do Chega e do CDS-PP para classificar a receção no aeroporto dos ativistas, tendo recusado entrar nesse tipo de considerações. 

"Nós, na democracia, temos de respeitar as opiniões de todos. É consabido que, da minha parte, com a líder do Bloco de Esquerda, a Mariana Mortágua, há muitas divergências, mas isso não significa que nós não tenhamos as nossas responsabilidades e não tenhamos que acompanhar os portugueses, sejam eles quem forem, respeitando a manifestação da sua opinião, da sua expressão, e sobretudo dando-lhe o tratamento que é devido a qualquer compatriota", disse Luís Montenegro, defendendo ser que todos se "saibam respeitar uns aos outros e que não haja extremismo na forma como se expõem as ideias e as opiniões".

Dizendo que não gostou de ver a estação do Rossio, em Lisboa, "ser invadida" numa manifestação no sábado, Montenegro garantiu que o Governo fez tudo aquilo que estava ao seu alcance, para que os portugueses pudessem ser repatriados o mais rápido possível, num "clima de normalidade e tranquilidade". "E creio que foi isso que aconteceu", disse.

Comentando as expressões usadas por Nuno Melo, o porta-voz do Livre recomendou “mais tento” e “menos traulitada” e defendeu que a campanha eleitoral “não justifica tudo”.

“A campanha não justifica tudo, a gente sabe que isto é um bocadinho a natureza de Nuno Melo, mas quer dizer, ele é ministro, devia ter mais tento e menos traulitada, quer dizer, é o que eu aconselharia”, recomendou Rui Tavares, à margem de uma ação de campanha para as autárquicas, em Vila Nova de Gaia.

O porta-voz do Livre considerou que nos últimos tempos, Nuno Melo “tem tido uma prestação que não está ao nível do que se espera de um ministro da Defesa, de um Governo, na situação internacional que nós temos”.

Ao lado de Rui Tavares, Marisa Matias, dirigente do Bloco de Esquerda, manifestou repúdio pelas palavras de Nuno Melo, tendo equacionado se este tem condições para ser ministro da Defesa. “Ter um ministro da Defesa numa posição tão sensível, que parece nem sequer representar as posições do Governo, eu pergunto-me se tem condições para ser ministro da Defesa? E parece-me que não. Nós não podemos ter numa pasta tão sensível alguém que não tem sequer a sensibilidade de perceber as suas funções e o que é esperado das suas funções”,

No Porto, na tradicional arruada na Rua de Santa Catarina, o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo saudou a chegada dos portugueses que integraram a flotilha, considerando que é necessário que a mobilização da sociedade portuguesa continue.

"Há três aspetos fundamentais que são precisos resolver de imediato: o cessar-fogo e o fim do genocídio, o reconhecimento dos direitos nacionais do povo da Palestina e a entrada imediata de ajuda humanitária", disse, defendendo que o Governo português tem "de fazer tudo para que isso se conquiste e não andar enrolado atrás das agendas dos outros que não são as agendas do povo português".

José Luís Carneiro, líder do PS, evitou o tema. “Felizmente as pessoas tiveram a salvaguarda do Estado, a segurança do Estado, já chegaram bem a Portugal, fico satisfeito por terem chegado bem de saúde”, comentou.

Mais 170 ativistas libertados

Entretanto, Israel anunciou ter deportado, esta segunda-feira, mais 170 ativistas da flotilha, entre os quais Greta Thunberg.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel emitiu um comunicado, acompanhado de fotos de Thunberg no aeroporto, afirmando que outros 171 "provocadores" tinham sido deportados para a Grécia e Eslováquia.

O gabinete do ministro garantiu ainda que todos os direitos legais dos participantes foram respeitados e que a única violência envolveu uma ativista que mordeu uma médica na prisão israelita de Ketziot.

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