Gouveia e Melo lança indiretas a Marques Mendes e Marcelo e quer investimento em defesa entre 2 a 2,5% do PIB
MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA

Gouveia e Melo lança indiretas a Marques Mendes e Marcelo e quer investimento em defesa entre 2 a 2,5% do PIB

Candidato presidencial diz que primeira medida será "falar menos" e que ataques da concorrência lhe dão "vontade de rir". Revelou que não dissolveria AR aquando da demissão de António Costa.
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Entre subtis farpas a Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa, Henrique Gouveia e Melo deu a conhecer o que faria como Presidente da República, perante vários problemas e cenários, durante uma entrevista à TVI e CNN Portugal.

O almirante começou por dizer que tomou uma decisão final de que iria ser candidato em setembro do ano passado, perante da possibilidade de eleição de Donald Trump, e diz que "mudou muita coisa" desde que jurou que não se iria meter na política. Referindo-se às guerras, a uma situação internacional de "grande instabilidade" e ao "apelo crescente por parte da população", sentiu "vontade de fazer mais um serviço ao país".

Reconhecendo que foi importante sentir apoios, diz que tem pelo seu mandatário, Rui Rio, "admiração e afinidade", pois "é um reformista e um ator independente". Entre as ideias de que partilham está a necessidade de haver uma reforma na justiça. "O segredo de justiça não existe, há uma quebra presunção de injustiça, cria-se ruído, queimam-se as pessoas e depois os casos não dão em nada", criticou.

Referindo-se à corrupção como "um grande cancro", diz que como Presidente da República poderá contribuir para o combate à mesma exercendo "uma magistratura de influência", mantendo o "foco no problema" e a "pressão" sobre o governo.

Apesar dos casos que o marcaram a sua passagem pelo cargo de Chefe do Estado-Maior da Armada, nomeadamente o dos fuzileiros e o do navio Mondego, diz que fez o que a lei lhe exigia, mas afasta a ideia de que também vai impor uma liderança autoritária enquanto chefe de Estado: "Temos de nos adaptar aos cargos que ocupamos. Eu sou moderado por natureza."

Gouveia e Melo diz que não vai aceitar que partidos políticos o apoiem e se juntem à suas suas comitivas, mas que não pode impedir atores políticos como André Ventura de o apoiarem publicamente. "Ventura situa-se num extremo do espectro politico, com o qual não tenho afinidade, mas se o povo o eleger, terá toda a legitimidade", afirmou, frisando que o espaço onde se situa, entre o socialismo e a social-democracia, é um "espaço onde os extremo não cabem", "um espaço de consenso e de moderação", mas promete aceitar "se o povo achar que a solução é à direita ou à esquerda".

Sobre a concorrência e a insistente necessidade de Marques Mendes salientar de que tem experiência política, Gouveia e Melo diz que alguns dos ataques de que é alvo lhe dão "vontade de rir". "Um dos últimos argumentos é de que eu poderia ser um perigo para a democracia. A política não é um clube fechado. A política está acessível a todos", vincou.

Embora avise que não é "nenhum Dom Sebastião", porque não vem do "nevoeiro para resolver problemas" e estes "resolvem-se com bom senso e trabalho", diz que um dos seus pontos fortes é ser um "ator independente". "Imagine um jogo entre dois clubes e o árbitro aparecer com a camisola de um dos clubes. A minha camisola só diz 'Portugal'. "Sou um ator independente e procurarei ser um árbitro isento", assegurou, assumindo que "todas as candidaturas querem ganhar à primeira volta".

Apesar de se recusar a comentar diretamente a presidência de Marcelo Rebelo de Sousa, o almirante diz que não teria dissolvido a Assembleia da República após a demissão de António Costa, porque o parlamento "resulta de eleições legislativas e havia maioria absoluta" e porque "não está escrito na Constituição" que da saída de um primeiro-ministro deva resultar a queda de um governo.

Opinião semelhante tem Gouveia e Melo sobre o peso da aprovação do Orçamento de Estado. "A Constituição não exige que a passagem ou não do OE faça cair o Governo", vincou, considerando, por outro lado, que num caso "muito grave" de "desfasamento entre o que foi prometido no processo eleitoral e depois o que se pratica", se possa fazer cair o Governo.

Admitindo que a "reputação é importante na governação", Gouveia e Melo diz que "ser arguido não é razão para demitir um primeiro-ministro", mas se "fragilizar de forma grave a reputação do primeiro-ministro e contagiar o próprio governo, isso vai afetar a perceção do povo e numa situação mais extrema pode dissolver-se Assembleia da República".

Gouveia e Melo garante ser "imune" a influências, dando o exemplo do que fez enquanto coordenador da task force da vacinação durante a pandemia de covid-19 e lançou uma indireta a Marcelo Rebelo de Sousa quando foi questionado sobre a primeira medida que tomará enquanto Presidente da República: "Falar menos e só quando for necessário."

Questionado sobre os temas que marcam a atualidade, afirmou que "não há provas" de que a imigração contribua para o crescimento da criminalidade, mas defende uma imigração "regulada". "A imigração desregulada fere princípios humanistas, porque vamos trazer pessoas sem condições, criar guetos e problemas de imigração. A imigração é importante porque temos problema demográfico, mas deve ser regulada. O fim do SEF comprometeu controlo da imigração", considerou.

Prometendo usar o poder de veto apenas em "situações excecionais", não se comprometeu sobre a eutanásia, porque é "pró-vida" mas reconhece que "há casos de cidadãos a passar uma tortura em vida". Por isso, devolverá sempre o diploma ao Tribunal Constitucional e exigirá uma maioria qualificada na Assembleia da República. Sobre o aborto, diz que é um assunto que "está resolvido na sociedade portuguesa". "Não é tema", vincou.

O almirante esclarece que não disse que defendia o serviço militar obrigatório, mas sim que "poderia ser necessário o serviço militar obrigatório uma solução alternativa". "Temos de ter 1% por cento da população com capacidade militar, que seria 100 mil pessoas, e temos apenas 22 ou 23 mil militares. Há pessoas que podem ficar na reserva", explicou.

Ainda sobre matéria de Defesa, salientou que "ainda não é tempo para uma terceira guerra mundial" e que "Portugal deve investir o que for necessário para a sua defesa", o que que "deve ser de acordo com o que for o investimento dos aliados", defendendo um investimento entre "2 a 2,5%" do PIB o "mais rapidamente possível", mas que "antes de 2029 acho "será difícil".

Gouveia e Melo diz que aceitará se o Governo lhe propuser o reconhecimento do Estado da Palestina e mostrou-se muito preocupado com o que está a acontecer na Faixa de Gaza: "É muito grave e preocupa-me em termos humanitários."

Sobre a saúde, recordou que o setor foi alvo "financiamento de 80% a mais" e "não melhorou". "Podemos estar a desperdiçar recursos num sistema que não está organizado. Pelo que vi durante a pandemia, temos um problema de cultura organizacional. O papel da presidência também é indicar caminhos", sinalizou.

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