As Eleições Presidenciais ainda estão a um ano de distância, mas a pressão para encontrar candidatos vencedores que recai sobre os vários partidos não é menor, mesmo que seja uma candidatura individual e não vinculada a nenhuma força política. A esta distância de janeiro de 2026, já Luís Marques Mendes, com um apoio tão assumido como tímido do PSD, oficializou a candidatura, e André Ventura, do Chega, segue o mesmo caminho, com a cerimónia já marcada para dia 28 de fevereiro. Também já estão de olhos postos na corrida Mariana Leitão, da IL, o sindicalista do S.T.O.P. André Pestana e o empresário Tim Vieira. Apesar de as peças estarem a conjugar-se, nos últimos 40 anos todos os chefes de Estado foram do PS ou do PSD. Em relação aos primeiros 10 anos, com António Ramalho Eanes, os dois partidos estiveram alinhados. Porém, agora, no PS só há silêncio, mesmo no rescaldo de uma reunião da Comissão Nacional do partido que prometia responder a esse enigma.Lembrando que os únicos dois candidatos do PS que chegaram à Presidência foram Mário Soares e Jorge Sampaio, o antigo deputado socialista José Junqueiro sublinha ao DN que “ambos tiveram a iniciativa de avançar”, tendo sido depois apoiados pelo partido.“Desta vez, aquilo que me parece é que o Partido Socialista não tem nenhuma estratégia”, defende José Junqueiro, sem esquecer que a candidatura à Presidência da República é uma iniciativa individual e não partidária, ainda que exista “um trabalho feito ao longo do tempo no sentido de perceber que pessoas é que podem reunir estas condições”. Em relação ao seu partido, aponta que “esse trabalho não foi feito e isso culminou numa trapalhada”, aludindo às declarações do presidente do PS, Carlos César, na CNN Portugal, há uma semana, quando este garantiu que a reunião da Comissão Política pelo menos iria definir “um perfil ou um calendário para o tratamento do tema”. Tendo em conta que tal não aconteceu, continua José Junqueiro, “fica provado que o PS não tinha e não tem nenhuma estratégia”, pelo que acredita que o partido fique agora “à espera de uma figura que se possa afirmar na área do socialismo democrático para depois se posicionar”.Em relação aos dois possíveis candidatos socialistas de que se fala - António Vitorino e António José Seguro - José Junqueiro diz sobre o primeiro que vê essa candidatura como “difícil”, porque “tudo isto já foi parecido com uma grande confusão”.“Não sei se neste contexto ele avançará”, completa.Em relação a Seguro, José Junqueiro diz estar “convencido de que poderá avançar”, mas só o faz “fora de qualquer pressão do PS”.Face aos candidatos que até agora estão apontados, oficializados ou apenas referidos, que são caracterizados por uma certa “confusão”, em todos os espetros políticos, a análise sociológica de José Junqueiro aponta para um eleitorado que estará “inclinado a apoiar uma candidatura fora da caixa”.“Estou a referir-me ao almirante Gouveia e Melo, em detrimento de candidaturas que são justamente partidárias”, explicou, com uma comparação: “Nós tivemos um Presidente que as pessoas admiraram muito, e ainda hoje admiram e consideram, que é o Ramalho Eanes, que também teve apoio do PS.”Em relação ao primeiro Presidente eleito em democracia, o antigo deputado diz que deixou “uma impressão digital na vida pública de uma grande honestidade pessoal, independente e de alguma maneira patriótico.” “Quem se aproximar mais dessa impressão digital, acho que vai ser o vencedor dessas eleições.”Já o politólogo Adelino Maltez defende, em relação ao PS, que, “enquanto se não adota uma estratégia em relação às Presidenciais daqui a um ano, é uma atuação tática”.Parafraseando o líder do PS, Pedro Nuno Santos, o professor de Ciência Política diz que a corrida a Belém “foi inventada pelos analistas e comentadores. Não há objetivamente corrida e ainda demora”, afirma, até “porque depende muito de como é que o almirante vai posicionar-se”. “O almirante podia ser apoiado pelo PSD e pelo PS”, considera, enquanto destaca que “estamos todos a escolher modelos passados: Um mais ou menos ‘eanista’ e os outros de prémio de carreira.”Também é com o foco na natureza da candidatura presidencial que a politóloga Paula do Espírito Santo explicou ao DN que o “PS não pode sobrepor-se ou criar uma estratégia que vá além do próprio contexto atual”, que “não faz surgir uma figura que se apresente como dominante ou mais competitiva” entre aquelas que surgem nas “sondagens de forma espontânea”. “Aqueles nomes são apresentados não como candidatos, mas como figuras que po deriam vir a ser presidentes ou em quem as pessoas votariam”, explica, acrescentando que “nesse plano o PS não tem uma figura que se sobreponha de forma inequívoca - não só internamente, mas também num plano externo junto à opinião pública”, remata.Em relação a Gouveia e Melo, a professor de Ciência Política, com base nas sondagens, aponta que os “ultrapassou largamente quase para o dobro, e isso é uma ameaça aos partidos”. “Significa que alguém de fora do sistema está a ser aclamado, ainda sem qualquer intenção, pelo menos expressa, de se candidatar, o que faz com que os partidos considerem uma aceleração do processo, o que não está a ser presente no PS”, explica.