A autoexclusão de Mário Centeno das eleições presidenciais de 2026, comunicada pelo governador do Banco de Portugal numa entrevista à RTP, veio estreitar o rol de candidatos em busca de apoio do PS. Mas não foi decisiva para que o antigo líder do partido António José Seguro se tenha imposto como a escolha para tentar terminar um ciclo de duas décadas em que os socialistas estiveram afastados do Palácio de Belém.O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, reagiu nesta quinta-feira com um “agora temos de esperar” à entrevista de Mário Centeno, feita na noite anterior pela RTP3. Tendo em conta que já houve sinais de disponibilidade de figuras como o ex-comissário europeu António Vitorino, a ex-eurodeputada Ana Gomes - segunda mais votada nas Presidenciais de 2021, com 12,96% dos votos, mas sem impedir a reeleição de Marcelo Rebelo de Sousa à primeira volta -, do antigo presidente da Assembleia da República Augusto Santos Silva, ou da também antiga comissária europeia Elisa Ferreira, disse que o partido “tomará a sua decisão” quando todos tornarem público se querem avançar. Algo que nem António José Seguro assumiu até agora, sendo que Pedro Nuno Santos confirmou que poderão estar em causa vontades “de mais do que uma pessoa”.O secretário-geral do PS acrescentou, em declarações a jornalistas na Assembleia da República, que “candidatos ideais não existem”. E deixou dois avisos à navegação. Depois de dizer que “não vamos estar condicionados nem presos a nenhuma candidatura em particular”, reiterou que “queremos conhecer quem está disponível na nossa área política e no nosso partido”. Algo que socialistas ouvidos pelo DN interpretam como um sinal de abertura a um candidato presidencial que compense a falta de cartão de militante com a capacidade de mobilizar eleitores mais à esquerda, numa altura em que há movimentações para que o professor universitário jubilado António Sampaio da Nóvoa volte a candidatar-se à Presidência da República, depois de obter mais de um milhão de votos (22,88% do total) em 2016.Mas a candidatura alternativa a António José Seguro tida como mais plausível é a de António Vitorino. Tal hipótese já foi admitida pelo atual presidente do Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, órgão consultivo do Governo de Luís Montenegro, mas nunca concretizada ou afastada. E vai servindo de porto de abrigo para quem dentro do PS manifesta reticências ao perfil de António José Seguro, um autodenominado “homem dos compromissos e da convergência”.Existindo a perspetiva de que Portugal possa assistir à primeira segunda volta nas eleições Presidenciais desde 1986, quando Mário Soares superou o vencedor da primeira volta, Freitas do Amaral, Pedro Nuno Santos disse que “o espaço do centro-esquerda tem a obrigação de ter um candidato forte para restituir a confiança ao país”. E contrapôs “o cidadão militar, sem experiência e atividade na política”, “o comentador de política” e o “líder da extrema-direita” que “a direita tem para oferecer”, posicionando Gouveia e Melo - favorito em todas as sondagens até agora realizadas - desse lado do espetro político, em competição com Marques Mendes e com André Ventura.Por seu lado, a autoexclusão de Centeno terá sido encarada por Seguro “como se nada fosse”, por muito que retire do seu caminho um potencial escolhido pelo PS. Fontes próximas do professor universitário e agora comentador político dizem que “continua no seu calendário”. Com as eleições Presidenciais previstas para janeiro de 2026, a decisão deve estar para breve, ainda que os únicos que até agora confirmaram estar na corrida sejam o empresário Tim Vieira, o sindicalista André Pestana, a psicóloga clínica e comentadora televisiva Joana Amaral Dias e o presidente do Chega, André Ventura, que tem a apresentação oficial da candidatura marcada para 28 de fevereiro, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa..Centeno: "Não vou ser candidato à Presidência da República".Centeno em causa.Enquanto isso, Mário Centeno, que revelou ao jornalista Vítor Gonçalves, na “Grande Entrevista” da RTP3, a “decisão pessoal e muito amadurecida” de não se candidatar à Presidência da República, tendo-a comunicado “a um conjunto de pessoas”, entre as quais Pedro Nuno Santos, terá em risco a recondução para um segundo mandato enquanto governador do Banco de Portugal. A notícia de que o Executivo de Luís Montenegro não irá manter em funções o antigo ministro das Finanças de António Costa para lá do final deste mandato, que termina em junho, foi avançada ontem pela SIC, citando fontes governamentais. Mas não foi confirmada pelo ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, que garantiu não ter discutido o assunto com o primeiro-ministro, tal como nunca terá sido levado a Conselho de Ministros. “No momento em que o final do mandato se aproximar, tomaremos uma decisão”, disse o responsável pela tutela, a quem é apontada uma relação complicada com o homem que foi o autor do programa económico que o PS apresentou nas legislativas de 2015. Mais tarde, num debate com António Costa, o então líder social-democrata Rui Rio referiu-se a Sarmento, então presidente do Conselho Estratégico Nacional do PSD, como “o meu Centeno”. Acerca da sua visão “pessoal e profissional”, Centeno garantiu que pretende continuar no Banco de Portugal. “Tenho tido uma voz muito ativa e presente em termos europeus na questão da inflação e das taxas de juro e de uma visão gradualista e que possa ser transmitida às pessoas. Esse é o meu foco”, disse.Depois de ter sido apontado por Pedro Nuno Santos como um de uma série de possíveis candidatos presidenciais que poderiam ter apoio do PS, Centeno admitira, na conferência anual da CNN Portugal, que o seu futuro poderia passar pelo Palácio de Belém. “Mudanças acontecem. Algumas vezes são esperadas, outras vezes não são esperadas. Mudanças aconteceram na minha vida nos últimos 10 anos. Algumas delas foram inesperadas. Eu não temo a mudança”, respondeu em novembro.Acusado por alguns partidos de tirar partido do seu cargo para fazer política, Centeno chegou a ouvir o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, dizer que deveria seguir o exemplo de Gouveia e Melo, quando o então chefe do Estado-Maior da Armada, deixou claro que não procurava ser reconduzido nesse cargo. “Quero dizer que é uma boa decisão, que evidencia que até para o próprio almirante Gouveia e Melo a utilização abusiva dos meios da Armada era já insustentável”, disse Rocha, desafiando o governador a assumir publicamente a entrada na corrida presidencial e renunciar ao cargo, para “não continuar a utilizar os meios públicos, os meios do Banco de Portugal, para promover a sua candidatura”. Respondendo às críticas, o governador do Banco de Portugal disse à RTP3 que a sua independência “é muito fácil de avaliar”, pois “não é um estado de espírito”, consistindo na “capacidade técnica de afirmar e de analisar, de forma autónoma, consciente e rigorosa” as decisões a tomar. .Ministro das Finanças diz que Governo ainda não tomou decisão sobre recondução de Centeno no Banco de Portugal