Esquerda quer saber papel da Base das Lajes no ataque dos EUA ao Irão
O Livre juntou-se este domingo ao PS, ao PCP e ao Bloco nas interrogações acerca do papel da Base das lajes, nos Açores, na intervenção dos Estados Unidos no conflito entre Israel e o Irão.
Numa pergunta dirigida este domingo ao chefe do executivo PSD/CDS-PP, Luís Montenegro, a bancada do Livre pergunta se o Governo foi informado do propósito da utilização da Base das Lajes, no arquipélago dos Açores, por parte da Força Aérea norte-americana, que nos últimos dias intensificou a sua presença com mais de uma dezena de aeronaves reabastecedoras no local.
Dado o atual contexto de tensão no Médio Oriente, o Livre pergunta se o Governo português pode garantir que os aviões dos EUA que passaram por aquela base “não foram utilizados para atacar o Irão ou de outro modo auxiliar tal ataque, ao arrepio do Direito Internacional”.
Na pergunta, assinada pela líder parlamentar, Isabel Mendes Lopes, o Livre pretende saber se o executivo nacional foi “informado antecipadamente” dos ataques dos EUA ao Irão – que na noite de sábado bombardearam as três principais instalações envolvidas no programa nuclear iraniano – e que posição pretende tomar relativamente a estes ataques, “tanto a nível nacional como junto dos parceiros europeus”.
“Considera o Governo que estes ataques respeitam o Direito Internacional, designadamente com a Carta das Nações Unidas? Caso não considere, o que pretende o Governo fazer junto da ONU para condenar estes ataques?”, lê-se no documento.
O Livre quer ainda saber que medidas é que foram ou serão adotadas para garantir que o território nacional, “em particular a Base das Lajes, e incluindo o espaço aéreo português, não são, direta ou indiretamente, utilizados para facilitar ações contrárias ao Direito Internacional”.
Já no sábado, o PS e o PCP tinham levantado questões relativamente à situação das Lajes.
“Aquilo que o PS quer saber é se o Governo português tem conhecimento desse movimento, se foi notificado pelas autoridades americanas desse mesmo movimento, e se tenciona, como foi sempre da praxe, dar conhecimento quer aos maiores partidos políticos, a nível nacional, naturalmente, quer à própria população sobre a razão e a causa deste mesmo movimento”, explicou Francisco César, deputado e líder do PS/Açores, em declarações à agência Lusa.
Mais tarde, José Luís Carneiro reforçou este pedido de explicações sobre presença de aviões reabastecedores na Base das Lajes. "Eu acho que é importante que o governo possa ter um diálogo institucional com os partidos da oposição para procurarmos compreender em que se enquadram esses movimentos", disse o deputado e candidato à liderança do partido.
O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, por seu lado, recusou que Portugal volte a ficar "com as mãos manchadas" e "ser cúmplice da guerra" com a utilização da Base das Lajes pelos norte-americanos.
"Perante os aviões norte-americanos que se estão a instalar na Base das Lajes é bom que não se repita a triste figura que aconteceu aquando do Iraque", defendeu no sábado o líder comunista, ao intervir numa sessão pública em Beja, depois de o PCP ter emitido um comunivado em que dizia que "as notícias sobre a presença de aviões das forças armadas norte-americanas na Terceira, na região autónoma dos Açores, exigem um pronto e urgente esclarecimento por parte do Governo PSD/CDS".
Também no sábado, o Bloco de Esquerda questionou o primeiro-ministro se tinha conhecimento da "súbita intensificação" do recurso à Base Aérea das Lajes pela Força Aérea norte-americana ou se recebeu alguma explicação.
Na sexta-feira, a Lusa constatou no local 12 aeronaves de reabastecimento aéreo naquela infraestrutura.
Questionada sobre a presença destas aeronaves nas Lajes, fonte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América (EUA) disse apenas que “o Comando Europeu dos EUA acolhe habitualmente aviões militares (e pessoal) dos EUA em regime transitório, em conformidade com acordos de acesso a bases e sobrevoo com aliados e parceiros”.
“Para além disso, não temos mais nada a partilhar”, acrescentou.
*com Lusa