Catarina e André: convergência e uma crítica... "com toda a simpatia"
Mais lado a lado que frente a frente, Catarina Martins e André Silva reconheceram hoje uma "enorme convergência" entre o Bloco de Esquerda e o PAN em matérias como as alterações climáticas ou o bem estar animal, mas com a líder bloquista a sublinhar que o Pessoas-Animais- Natureza não parece ter com a sociedade e a democracia a mesma "solidariedade" que tem com o ecossistema.
E foi precisamente por aí que começou o debate, com a coordenadora do Bloco de Esquerda a sublinhar as convergências na Assembleia da República com o PAN, mas a mostrar-se surpreendida com o que chamou de "uma espécie de plafonamento da Segurança Social" no programa eleitoral do oponente. Um "projeto da direita há 30 anos" que agora ressurge pela mão do PAN, acusou.
Na resposta, André Silva - que começou por dar os parabéns a Catarina Martins, que faz anos este sábado - falou "numa confusão na interpretação" da proposta, explicando que aquilo que o PAN pretende é que o Estado não pague pensões milionárias, pelo que, acima de um determinado teto, abre a possibilidade de capitalização, no público ou no privado, mas sem nunca cortar nos descontos para a Segurança Social.
Mas a coordenadora do BE voltou a carregar na mesma crítica, apontando ao PAN um "problema de interpretação do próprio sistema de pensões", acrescentando que as pensões milionárias são pagas pela banca, e outro tipo de pensões altas são um privilégio pelo desempenho de determinadas funções, estas já quase extintas. A generalidade das pensões estão indexadas à carreira contributiva, prosseguiu Catarina Martins, apontando o perigo de desanexar a reforma do salário ("não podemos obrigar as pessoas a pagar para uma pensão a que não vão ter direito") e de abrir a porta das pensões aos privados, dado o "apetite do sistema financeiro pelas contribuições, 18 mil milhões de euros todos os anos". "Com toda a simpatia, a vossa proposta não está bem elaborada", rematou.
Com o debate a passar para as questões ambientais, André Silva reclamou para o PAN o mérito de ter "conseguido, nos últimos quatro anos, impor o campo ambiental como um campo político autónomo". Com exceção desta frase, tudo o resto foi convergência entre Bloco de Esquerda e PAN. Até mesmo a passar ao lado da questão lançada pela moderadora, Clara de Sousa, sobre a evaporação da água nas barragens, uma afirmação recente de Catarina Martins que provocou celeuma nas redes sociais. Nem André Silva foi por aí: "O Bloco tem razão quando diz que temos barragens a mais".
Catarina Martins também não respondei diretamente - "Há grandes barragens a mais e as grandes albufeiras são um problema". E defendeu o Governo, que André Silva tinha atacado, dizendo que as grandes barragens defendidas pelo Executivo, como pelo PSD e CDS, "não passam de negócios em que a EDP emprestou dinheiro ao Estado". "O Governo acabou por concordar que a barragem de Fridão não fosse feita", contrapôs Catarina Martins.
O mesmo para a área da agricultura, com os dois candidatos às próximas eleições a defenderem uma mudança estrutural na forma de produção agrícola, e André Siva a afirmar que isso "não interessa a quem manda no ministério da Agtreicultura, que é a CAP [Confederação dos Agricultores de Portugal]".
Mas o debate acabou por onde começou, com Catarina Martins a defender que não se pode achar "que o mercado vai resolver o problema climático" e a sustentar que não é indiferente que o controlo da distribuição de energia esteja na mão do setor público ou de privados - e André Silva retorquiu que esta não é uma questão premente para o PAN. A conclusão da líder bloquista viria mais tarde: "O BE tem um programa sobre o que é o Estado social, a solidariedade de que é feita uma democracia, a educação, a saúde públicas", que o PAN "parece que não partilha" - "Às vezes tenho uma certa pena que o PAN, que compreende a solidariedade do ponto de vista do ecossistema, tenha mais dificuldade em compreender a solidariedade na democracia".