Rui Rio: "O governo que vier será de salvação nacional"
O líder da oposição apelou para a unidade nacional e para que os portugueses cumpram as diretivas do estado de emergência de forma a não se viver em Portugal a situação de Madrid ou do norte de Itália. Apesar de se afirmar em colaboração nestes tempos de crise, diz que não vai passar um cheque em branco ao orçamento suplementar ao Orçamento de Estado. Como medida de financiamento do Estado advoga a emissão europeia de coronabonds.
Em entrevista à RTP, Rui Rio desmentiu uma notícia do Expresso segundo a qual Rio não aceitaria fazer parte de um governo de salvação nacional, "Não vou responder sim, nem vou responder não, nem vou responder talvez. Não penso nada sobre isto. Neste momento a prioridade não é isso. A prioridade é a parte sanitária e quando a economia vier para o primeiro lugar a sociedade portuguesa vai ter de pensar em ter um governo de salvação nacional. O governo que vier vai ser sempre de salvação nacional. Então vai fazer sentido pensar nisso", afirmou.
Rui Rio começou por falar da necessidade de o país se mobilizar. "Precisamos de unidade nacional. O país tem um governo democraticamente eleito. Fragilizar o governo é fragilizar o nosso combate. Temos de pôr de lado a lógica da oposição. Devemos todos ser oposição ao vírus e não uns aos outros. Se os parceiros sociais e os partidos começarem todos uns contra os outros vamos perder isto e entrar no caos."
Ressalvou, contudo, que não deixará de fazer os reparos que achar necessários. "O que o governo tem feito tem falhas. Eu se estivesse lá também tinha falhas. Talvez a maior falha que posso indicar ao governo é a proteção dos profissionais de saúde. Neste momento o investimento público estratégico é proteger os profissionais de saúde e conseguir mais testes e mais ventiladores."
Afirmou-se "mais tranquilo porque o governo estará a fazer tudo o que pode e o que não pode", mas inquieto por outro lado. "Não sei se haverá material que chegue a todos os profissionais de saúde. Se os soldados que estão na linha da frente não têm a proteção necessária e se infetam estamos desgraçados."
Ainda assim mostrou-se relativamente otimista. "Se os portugueses continuarem a cumprir nós vamos ganhar, que é conseguir ganhar o combate com o mínimo de baixas possível.Podemos aspirar a não ter uma situação como em Espanha ou Itália, que é uma desgraça. Estamos a adiar um problema económico gigantesco mas estamos a controlar a componente da saúde.
Outro reparo de Rio é sobre o momento em que o governo decidiu o estado de emergência. "É evidente que teria sido melhor se tivéssemos sido mais rápidos em ir para o estado de emergência. Mas vamos pegar nas falhas para acreditar que se vai fazer melhor, como as encomendas de ventiladores."
Questionado se iria apontar o dedo a António Costa sobre esse tema, respondeu: "Isso está no bloco de notas de todos os portugueses. É o próprio pais que cairá em cima do governo por falhas que tiver que não sejam minimamente compreensíveis."
Também criticou a forma como se está a proceder em relação aos lares de idosos, um "elemento nevrálgico", "aquilo que temos de proteger mais". Para o antigo autarca do Porto, a resposta não foi a melhor, mas disse que há um papel essencial a desempenhar pelas câmaras e freguesias.
Rui Rio afirmou que "é obvio" que o estado de emergência terá de ser prolongado.
Sobre a questão económica, fez um aviso aos portugueses. "Todo este dinheiro, vamos pagá-lo porque o Estado somos nós. Não se entre na loucura de dar e dar porque vamos ter de pagar mais tarde", apesar de achar "evidente que o Estado vai ter de se endividar".
Tendo em conta a paralisação parcial da atividade económica, Rio espera um orçamento suplementar, mas apesar de estar "em colaboração" com o executivo socialista neste momento, disse que não vai passar "um cheque em branco".
Sobre os apoios à economia, criticou o facto de no lay-off um sócio-gerente de uma pequena empresa não tirar direito a nada.
Rui Rio mostrou-se preocupado com o futuro do projeto europeu dada a resposta de alguns países, como os Países Baixos ou a Alemanha, que recusam a emissão de títulos de dívida pública. "A Europa enfrenta a maior crise económica desde que foi criada a CEE e é transversal a todos, ninguém tem culpa. Se culpa há é lá para a China, aqui não há nenhuma. Se numa circunstância destas com um inimigo comum que nos está a destruir não somos solidários, a médio prazo vai ter sérios problemas.Se há solidariedade nas palavras mas não nos atos há o risco de se fragmentar."
O líder social-democrata crê que a Europa acabará por ter de fazer emissão de dívida, seja qual for a modalidade ou o nome encontrado, embora defenda coronabonds.