Rui Rio dá valentes caneladas nos opositores
A festa do Pontal na versão de Rui Rio era para ser um "convívio" com as bases. Mas acabou por ser palco do maior ataque do líder aos opositores internos.
Sob um calor infernal, num local recôndito, onde nem rede de telemóvel chega, uma plateia de cerca de 500 militantes e simpatizantes ouviu Rio disparar em direção a quem o tem criticado na comunicação social. Os que servem "interesses pessoais". Nunca mencionou nenhum dos que estão do outro lado da barricada. Entre os visados estaria, muito provavelmente, o ex-coordenador autárquico do PSD, Carlos Carreiras, que o censurou por andar às "caneladas" a companheiros de partido.
Mas parece que os militantes gostam das investidas ao osso. Este sábado, Rio arrancou palmas calorosas quando avisou: "Há quem esteja a fazer isto porque quer defender um lugarzinho ou o lugarzinho de um amigo, mas comigo isso defende-se com trabalho e lealdade". A esses também disse que está para lavar e durar até final do mandato. Mostrou-se ainda convicto que o PSD pode ganhar as europeias, legislativas e regionais da Madeira. O apelo à mobilização das bases foi feito assim.
Paradoxalmente, Rio fez também neste almoço o que os críticos lhe pedem, uma oposição mais enérgica ao governo. Do Algarve engrossou a voz contra António Costa, que o tinha acusado de querer privatizar o Serviço Nacional de Saúde. Traçou um retrato negro do setor, para se assumir como "social-democrata ainda antes do 25 de Abril" e que, por isso, defende a iniciativa privada mas nunca a destruição do SNS.
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Rio mostrou-se convicto que o PSD pode ganhar as europeias, legislativas e regionais dos Açores
Criticou ainda o crescimento económico feito com base no consumo, em detrimento das exportações e do investimento. O que se passou no incêndio de Monchique serviu-lhe para vaticinar uma vida difícil ao governo até às legislativas de 2019. Aos militantes pediu paciência para que vingue a estratégia de um líder diferente dos outros (ele próprio). Há tempo para os portugueses perceberem que nem tudo vai bem no país, garantiu-lhes.
Logo pela manhã, Rio já tinha dado sinais de que veio de férias pronto a enfrentar os adversários. Chegou ao campo em Vale Garrão, também em Loulé, para participar num torneio de futebol antes das 10.00 previstas e equipado a preceito. De chuteiras já gastas, número 7 inscrito na camisola, o de Cristiano Ronaldo, foi direto ao jogo político. Exigem-lhe que ande já em campanha, ele disse que não o fará. "Procurarei adiar o máximo possível", disse aos jornalistas, porque acha que o combate prematuro entre os partidos desvia o país dos problemas reais.

Rui Rio falou para uma plateia de cerca de 500 militantes e simpatizantes do PSD
© Luís Forra / Lusa
A ironia de Paulo Rangel
Quando entrou em campo, pouco depois, já sabia que o número 7 não o ia fazer o "melhor em campo", mas ainda conseguiu marcar dois golos no primeiro jogo. Falhou um penálti e uma lesão no joelho, que já trazia, atirou-o para o banco várias vezes. "Coitado, na rentrée e já está lesionado?", gracejou o presidente da câmara da Guarda, Álvaro Amaro, o homem a quem confiou as negociações da descentralização com o governo.
Paulo Rangel, o eurodeputado que quase, quase foi seu opositor nas diretas, assistiu às jogadas do líder de uma bancada improvisada. Com humor fino, assinalou a ironia do destino. "Esta é a reconciliação do dr. Rio com o futebol! Se Pinto da Costa sabe disto...". O passado de autarca de Rio e a "guerra" com o FC Porto a persegui-lo até no Algarve.
Nas pausas entre os jogos das quatro equipas em campo - dirigentes nacionais, membros do Conselho Estratégico Nacional, autarcas e deputados -, Rio foi chutando à baliza dos opositores internos, sempre que os jornalistas lhe pediram. E se no torneio viu a sua equipa ficar em 4.º lugar, na política joga "para primeiro". "Joguei a médio, na política jogo a ponta de lança. Aqui a idade (tem 61 anos) conta, na política é ao contrário".
Na segunda ronda do torneio, Rio ficou mais vezes no banco. Poiares Maduro, antigo ministro-adjunto de Passos Coelho, e o comissário europeu Carlos Moedas, na equipa do líder, foram os que se aguentaram melhor em campo. Morais Sarmento, vice-presidente do PSD, e o líder parlamentar social-democrata, Fernando Negrão, resistiram até ao fim. Saíram esfalfados do relvado. No torneio, Rio conseguiu gerir melhor a energia para os ataques da hora de almoço: "Ando nisto há muito tempo", disse a sorrir, à saída do campo de futebol.