Segunda volta inédita no PSD. Rio recusa desafio de Montenegro para debate
Rui Rio teve 49,4%, Luís Montenegro 41,2% e Miguel Pinto Luz 9,3%. Haverá uma segunda volta no PSD, como já era esperado. No seu discurso de vitória, o presidente social-democrata e recandidato ao cargo abriu o leque de apoiantes a "todos os portugueses" e lançou algumas farpas ao opositor que vai defrontar novamente no próximo sábado, dia 18.
O vencedor da primeira volta, que ficou a 344 votos desse objetivo, rejeitou o desafio que momentos antes Montenegro lhe fez para um debate televisivo. Preferiu exaltar a "vitória expressiva" que teve, que o levou a ficar a 0,56% da maioria. E dos agradecimentos aos que estiveram com ele na campanha, disse valorizar tanto ou mais o apoio que sentiu dos portugueses que lhe pediram para não desistir. "O apoio na rua é absolutamente vital e deu-me muito ânimo para a decisão de me recandidatar".
Sobre os que nele votaram internamente garantiu: "Não há nenhum voto que não tenha sido por convicção, porque não negociei nenhum lugar". Com isto pretendeu dar a ideia de que o adversário, esse sim, andou a negociar lugares para ter votos. E assim é que insistiu que os que antes o apoiaram e agora não o fazem é "por interesse próprio ou de amigos". Quis ainda marcar a diferença para Montenegro ao dizer que não é só quando se é eleito que se conta com os outros.
Rio voltou a reafirmar que as próximas autárquicas são uma prioridade, de "conseguir mais câmaras, mais juntas de freguesia, mais autarcas e vereadores"; e de manter uma oposição construtiva e de abrir o PSD à sociedade.
Muito sorridente, foi assim que Luís Montenegro falou aos jornalistas logo após a divulgação dos resultados oficiais. E não perdeu tempo a piscar o olho aos que votaram em Miguel Pinto Luz, garantindo que se for eleito contará com ele "e com os seus apoiantes" para os desafios que terá pela frente.
"Hoje foram mais os que votaram na mudança dos que os que votaram na continuidade", sublinhou. Garantiu que vai à segunda volta com três preocupações:: unidade, clarificação e ambição.
"Quero ser um líder agregador", disse, prometendo que contará com pessoas das listas de Rui Rio e de Pinto Luz caso vença a segunda volta das diretas. A sua estratégia é de uma "oposição forme" para construir uma alternativa credível e mobilizadora em contraponto à "estratégia de subalternização" de Rui Rio em relação ao PS. E a ambição é a de vencer as próximas autárquicas e as legislativas.
Com Rui Rio a liderar a eleição direta no PSD, Miguel Pinto Luz assumiu a derrota, embora tenha sublinhado muito os 12% que conseguiu nesta corrida à liderança. "Partimos com expectativas modestas, mas surpreendemos todos os que lutaram por uma bipolarização nestas eleições", disse.
Depois de felicitar Rui Rio e Luís Montenegro, que deverão passar a uma segunda volta, o vice-presidente da Câmara de Cascais insistiu que marcou a diferença "pelas ideias", pelo "reformismo e inconformismo" e que conseguiu "recuperar mulheres e homens que estavam afastados do PSD". "É com a força das ideias que o PSD voltará a liderar o país", garantiu.
Miguel Pinto Luz manifestou-se convicto que o PSD é a única alternativa "ao modelo socialista estatizante", que afastou Portugal "do mundo moderno e contemporâneo". E assumiu-se para o futuro como "o fiel depositário desses valores reformistas". Ou seja, a apontar para uma nova candidatura em 2022.
Duas das mais importantes distritais do PSD penderam para Rui Rio, Porto e especialmente Aveiro, que é liderada por um dos seus vice-presidentes, Salvador Malheiro.
No Porto, Rio também levou a melhor sobre Montenegro, com mais 1456 votos. Em Aveiro, Rio obteve 360 votos, Luís Montenegro 45 e Miguel Pinto Luz cinco. O vice-presidente da Câmara de Cascais venceu na Madeira e, como era esperado, em Lisboa com 1591 votos, contra 1362 de Luís Montenegro e 1186 de Rui Rio.
Luís Montenegro foi o mais votado em Castelo Branco, onde obteve 345 votos contra 218 de Rio e 29 de Pinto Luz. Em Viseu, Lisboa Área Oeste, Leiria e em Braga também conseguiu ficar à frente dos adversários.
Um dos episódios que mais marcou este dia de eleições no PSD foi o pedido de impugnação das eleições na Madeira, mas também há mais dois em Portalegre e na Amadora.
"O caderno eleitoral que está aqui [Madeira] a servir de base é ilegal", disse o também mandatário regional da candidatura de Rui Rio. Jardim informou: "Já está na mesa de Santa Luzia e vou neste momento já impugnar as eleições para Lisboa".
"Acho isto um episódio lamentável porque o PSD aqui está a dar um ar perante o país de continuar-se no tempo das 'chapeladas' e da Francisquinha que paga 200 quotas a um. Isto não é um partido assim", argumentou.
O ex-líder social-democrata madeirense, que esteve à frente do partido cerca de quatro décadas, sustentou que a situação "tem que entrar nos eixos, já começou a nível nacional, tem que começar a nível regional". Alberto João Jardim considerou que esta é "obviamente uma forma de tornar mais transparentes os processos eleitorais nos partidos".
"E acho bom que se faça em todos os partidos para cada indivíduo ser responsável pela sua militância, não haver mais o poder do dinheiro dentro dos partidos", sublinhou.
A polémica surge devido a uma divergência em matéria de contabilização do número de militantes na Madeira relacionada com o modo de pagamento das quotas.
Segundo um regulamento de quotizações aprovado pelo Conselho Nacional do partido em novembro, este só poderá ser feito por multibanco (através de referência aleatória), cheque, vale postal (apenas autorizado para militantes com 60 anos ou mais), débito direto, cartão de crédito ou MB Way.
A maioria dos militantes na Madeira paga as quotas diretamente na sede, sendo que apenas 104 cumprem os requisitos do novo regulamento. Jardim rejeitou a argumentação do atual presidente do PSD/Madeira, Miguel Albuquerque, de que os processos eleitorais decorrem da mesma forma na Madeira há 40 anos, invocando a autonomia estatutária.
"Não é verdade, porque este regulamento só vem de agora. Nunca foi assim, porque eu fui sempre o candidato único até 2012" e chegou à conclusão "que era uns a pagar quotas de outros".
"Um partido não pode andar à mercê do poder do dinheiro e, portanto, tem que se encontrar um processo, que foi encontrado agora a nível nacional, de cada militante ser responsável pelo pagamento da sua quota", realçou.
Para o antigo líder madeirense, se não houver este processo, "quem tem mais dinheiro é que ganha eleições dentro dos partidos". "Essa de dizer que sempre foi assim é um 'bluff'", vinca, assegurando que "nunca foi assim" durante a sua liderança.
Também aponta que "não gostaria que o PSD nacional" tivesse a ideia de que a Madeira foi "tomada por organizações secretas". Jardim garante que não está "em confronto direto" com a liderança regional do PSD/Madeira, acrescentando rejeitar que o partido "seja governado por dinheiro".
"Gostaria que [as eleições] não fossem uma aldrabice", enfatiza, instando quem discorda da sua decisão a "ir para tribunal".
O caso concreto da Madeira promete ensombrar a votação para a liderança do partido, já que o PSD/Madeira insiste que podem votar hoje 2.500 militantes, apesar de a secretaria-geral contabilizar pouco mais de cem com quotas pagas à luz do novo regulamento.
A divergência entre a estrutura regional e nacional está no modo de pagamento das quotas, que deve permitir a identificação do militante, enquanto a maioria na Madeira paga as quotas diretamente na sede, em numerário, tendo o Conselho de Jurisdição Nacional -- o 'tribunal' do partido -- reiterado que "os regulamentos aprovados não preveem exceções".
O candidato à liderança do PSD Rui Rio apelou à participação na votação para as diretas do partido, na altura de votar, afirmando que a eventual impugnação ou irregularidade das eleições na Madeira é "um problema para resolver depois".
"Vamos acreditar que as coisas vão correr bem e que só há um problema focado na Madeira que está mais do que clarificado e será tratado nos órgãos próprios", afirmou.
O social-democrata vincou que "as regras vão ser cumpridas e que, "se em algum sítio ou circunstância não forem, há órgãos próprios para obrigar ao cumprimento". "O que pode acontecer é -- e espero que não -- isto levar a recursos", alertou. Rui Rio apelou ainda à participação dos militantes.
"Segundo me disseram à entrada, [a participação] está a ser muito grande, ou seja, os militantes estão a votar em grande escala", disse.