Presidenciais. PS não apoia ninguém, os dirigentes apoiam toda a gente
Uns não apoiam ninguém; outros Marcelo; outros Ana Gomes; e até há quem apoie João Ferreira. O PS não vai ter posição nas presidenciais. E, como tal, divide-se. Viu-se esta tarde na reunião da Comissão Nacional. Pedro Nuno Santos com Ana Gomes; Fernando Medina com Marcelo.
A Comissão Política do PS para definir a linha dos socialistas nas eleições presidenciais foi hoje marcada por intervenções a favor de Marcelo Rebelo de Sousa e também por manifestações de apoio à candidatura de Ana Gomes.
Relacionados
Fontes socialistas referiram à agência Lusa que o secretário-geral do PS, António Costa, abriu a reunião em defesa da orientação da liberdade de voto nas eleições presidenciais, fazendo elogios às relações institucionais entre o Presidente da República e o Governo desde março de 2016.
António Costa caracterizou depois a candidata presidencial Ana Gomes como uma "ilustre militante" e não fez qualquer crítica à diplomata e ex-eurodeputada socialista.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Apesar de ter salientado a importância das eleições presidenciais e de uma mobilização do eleitorado em relação a este ato eleitoral em janeiro próximo, o secretário-geral do PS voltou a defender que o partido deve concentrar-se na governação, definindo como prioridades o combate à pandemia de covid-19 e a recuperação económica.
Ainda em relação à questão das presidenciais, António Costa disse que tem consultado "vários militantes ilustres do PS", com uns a manifestarem preferência por Marcelo Rebelo de Sousa, outros por Ana Gomes, e contou que até ouviu quem esteja disponível para apoiar a candidatura presidencial do eurodeputado do PCP João Ferreira (que já recebeu o apoio público de dois deputados do PS, Isabel Moreira e Ascenso Simões).
Nas intervenções que se seguiram, o ministro Augusto Santos Silva, o ex-ministro Vieira da Silva e a dirigente socialista Edite Estrela fizeram discursos a elogiar a forma como Marcelo Rebelo de Sousa tem desempenhado as funções de Presidente da República. O presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, também terá afirmado, segundo a Lusa, que irá apoiar Marcelo.
No lado contrário, de acordo com as mesmas fontes socialistas, colocaram-se o sindicalista Carlos Trindade e o líder da FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa) do PS e secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.
Duarte Cordeiro justificou a sua opção por Ana Gomes sobretudo por motivos ideológicos, posição também acompanhada por Carlos Trindade, que, no entanto, criticou a diplomata por não ter falado com o secretário-geral do PS antes de ter apresentado publicamente a sua candidatura.
Segundo o Observador, uma das intervenções mais fortes a favor de Ana Gomes foi a do ministro das Infraestruturas e Habitação. Pedro Nuno Santos confirmou o que há muito se sabia: que apoiará Ana Gomes. Mas Pedro Nuno Santos foi mais longe: considerou que o Presidente da República é o responsável pela instabilidade na maioria de esquerda porque, ao contrário do que fez Cavaco Silva em 2015, não exigiu em 2019 um acordo escrito do PS com os partidos à sua esquerda.
Na reunião, Augusto Santos Silva disse claramente que não se identificava com a candidatura presidencial de Ana Gomes e citou sondagens que apontam que a maioria do eleitorado do PS se inclina para votar em Marcelo Rebelo de Sousa caso o atual chefe de Estado se recandidate.
O dirigente socialista Daniel Adrião, apoiante de Ana Gomes, pegou precisamente neste ponto para contrapor que a maioria dos militantes do PS não está com Marcelo Rebelo de Sousa e que, por essa razão, se impunha uma consulta interna aos membros do partido sobre o candidato a apoiar.
Daniel Adrião rejeitou também a tese de comparar o atual quadro de candidatos com o de 2016 para assim se justificar o princípio da liberdade de voto, considerando que, no caso das anteriores eleições presidenciais, havia dois candidatos no campo da esquerda democrática, Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, o que em janeiro de 2021 não vai acontecer.
Durante a reunião, de acordo com dirigentes socialistas contactados pela agência Lusa, membros da Comissão Política do PS como Pedro Silva Pereira e Pedro Delgado Alves criticaram Ana Gomes pela sua alegada propensão "para a inversão do ónus da prova" em matéria de Estado de Direito, ou por ter criticado "de forma precipitada" a proposta do Governo para a revisão do Código de Contratação Pública.
Foi também observado que a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes criticou já várias vezes o atual chefe de Estado por "encostos" ao Governo, o que indicia, segundo eles, que, se a diploma fosse eleita, criaria mais dificuldade ao PS.
Fora do quadro das eleições presidenciais, o antigo ministro socialista Jorge Lacão usou da palavra para criticar "um esvaziamento" dos órgãos do partido, principalmente a Comissão Política.
Desde a última revisão de estatutos no PS, os membros da Comissão Política deixaram de ter inerência na Comissão Nacional, o órgão máximo partidário entre congressos.