Pinto Luz: "Se o país não voltar a funcionar, a fome e a pobreza voltarão em força"
O vice-presidente da Câmara de Cascais e ex-candidato à liderança do PSD, Miguel Pinto Luz, é um dos promotores da carta que já juntou 159 figuras dos mais variados setores, a pedir para que o país retome gradual e controladamente a atividade económica e explica ao DN a urgência de dar o passo seguinte no combate à pandemia. "Se não se implementarem medidas e se o país voltar a passar por uma segunda onda do vírus, podemos esquecer Portugal. A forme a pobreza voltarão em força", garante.
Miguel Pinto Luz admite que gostaria de ver espelhadas no já esperado decreto presidencial a renovar o estado de emergência as medidas que são propostas na carta. Entre as quais duas mais polémicas que são o uso generalizado de máscaras e a identificação e notificação automática, via SMS, das pessoas em risco. Sobre esta última medida, e as questões que poderá levantar sobre a proteção de dados, o vice-presidente da câmara de Cascais, que também foi secretário de Estado, lembra o trabalho ciclópico dos delegados de saúde para identificarem e chegarem até todas as pessoas que contactam sempre que há um cidadão infetado com covid-19. "Se se puder fazer através da notificação através das operadoras de comunicação, com a devida proteção de dados, seria instantâneo", afirma. O que na sua opinião é essencial para que a sociedade entre mais rápido na normalidade possível.
A carta - que Miguel Pinto Luz garante mostrar que o "país está unido" sobre esta necessidade de avançar à medida que a pandemia vai ficando mais controlada - está assinada por profissionais de saúde, gestores e empresários, entre eles os presidentes da Altice, da Vodafone e da Nós, assim como gestores ligados à indústria, à cultura e ao turismo, entre outros. E a lista vai continuar a crescer, garante o autarca.
Da lista, destaca o facto de estarem juntos no apelo ao governo, Presidente da República e presidente da Assembleia da República personalidades como o líder da UGT, Carlos Silva, e o presidente da CIP, António Saraiva, bastonários, médicos, e o presidente da Liga de Futebol, Pedro Proença.
Outro dos subscritores da carte é o embaixador Martins da Cruz, que também sublinha a necessidade de encontrar um ponto de equilíbrio entre as questões sanitárias e o regresso às atividades económicas. "O ponto de equilíbrio é difícil mas tem de ser conseguido". O embaixador lembra que está estimado que o PIB nacional irá cair 2 a 3% por cada mês de confinamento, até porque o setor que mais tem contribuído para o seu crescimento, o turismo, "acabou este ano". A que se soma o facto de os países para os quais Portugal exporta 70% da sua produção - a Espanha, França, Alemanha e Reino Unido - estarem em situação muito difícil e com os respetivos PIBs em queda.
Ainda assim, Martins da Cruz frisa que países como a Espanha, tão flagelados pela pandemia, está já a começar a tomar medidas para regressarem à atividades setores como a construção. "Os países que já ultrapassaram esta praga, já estão a retomar a atividade económica", afirma e cita a China, Coreia do Sul, Singapura e Macau, locais onde a população usa máscaras na rua e para trabalhar. Recomendação, diz, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) já fez e que convém adotar. "Se não há em número suficiente em Portugal importam-se, o que não se pode permitir é que a economia pare".
O embaixador afirma que os "mais afetados" com a paralisação da economia são os "menos protegidos da sociedade". E dá o exemplo da chamada "economia submergida", pessoas que trabalham sem declarar todo o seu rendimento, como empregadas domésticas, e que representam 20% do PIB nacional, e questiona: "Como é que esses portugueses estão a viver no confinamento? O governo tem de olhar para eles". Deixa ainda uma crítica: "Estamos a ver muita conferência de imprensa, mas pouca concretização".
A resposta para o problema económico provocado pela pandemia também não chega da União Europeia. Todos os mecanismos desencadeados por Bruxelas, no final vão parar à nossa dívida ou ao nosso défice. "A União Europeia não é o padre Américo, nem os mercados o são", reforça.
O secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro: afirma que "é muito relevante termos uma tão ampla representação da sociedade civil a ilustrar uma leitura tão completa da realidade. Compatibilizar a segurança e a saúde pública com a retoma gradual, progressiva da actividade social e económica é o grande desafio às instituições políticas" . Recorda que, as reuniões com o Infarmed na proxima quarta-feira e no fim do mês de abril serão muito importantes para avaliar o controlo e a reducão do contágio e, em resultado dessa avaliação, tomar a decisão política que melhor se adeque a esse desafio".
O PSD não quis comentar esta iniciativa da sociedade civil.