Menezes apoia Rio "até à vitória" nas legislativas
O confronto começou no Conselho Nacional extraordinário do PSD, no Porto. com Pedro Pinto, líder da distrital de Lisboa do PSD, uma das que andou a recolher assinaturas para uma moção de censura ao líder do partido, a abrir as hostilidades. Segundo fontes do Conselho disse que Rui Rio não tem "condições para levar o PSD até às próximas eleições".
O antigo presidente da Assembleia da República, Mota Amaral, saiu em defesa de Rio, defendendo a continuidade do presidente do partido. "Temos os nossos adversários fora do partido". Foi o primeiro a trazer a debate a questão da votação nominal da moção de confiança, tal como já tinha defendido publicamente. "As pessoas devem assumir as suas responsabilidades perante os seus eleitores" e relembrou a votação de quarta-feira na Grã-Bretanha do Brexit. "Sá Carneiro sempre tomou as suas posições de cabeça erguida".
O presidente do governo regional da Madeira, Miguel Albuquerque, também considerou "um erro" eleições internas a poucos meses das eleições europeias.
Hugo Soares, o líder parlamentar do PSD que sucedeu a Luís Montenegro e um dos seus mais próximos, criticou, como era de esperar a estratégia do presidente do partido e voltou a usar a analogia do "carro que vai contra a parede". Censurou o facto de Rio se mostrar disponível para o diálogo com o governo. "Se o Dr. Rui Rio tivesse intervenções como teve na semana passada contra António Costa como teve contra Luís Montenegro, não estávamos aqui", assegurou.
Os apoiantes de um lado e de outro continuam a discursar, em intervenções de 5 minutos no máximo, das mais de 70 inscrições para falar. Pedro Alves, presidente da distrital de Viseu, que foi apoiante de Rui Rio nas diretas, mas que esteve agora no movimento de distritais contra a liderança, considerou que o partido não tem conseguido demonstrar que o PS anda a enganar os portugueses e defendeu que por uma questão de "clarificação" deveria sair do Conselho Nacional a decisão de ir para eleições diretas, ou seja, rejeitar a moção de confiança de Rio.
Luís Filipe Menezes, que em tempos foi arqui-inimigo de Rui Rio, e que se tem mantido muito afastado da vida política desde que deixou a liderança do partido, foi ao Conselho Nacional dizer que Rio tem o seu apoio "até à vitória" nas legislativas de outubro. "Esta discussão deveria ter sido feita há um ano, nas eleições diretas". Menezes atacou ainda Santana Lopes, dizendo que não "vai amuar e fazer um partido para acabar a carreira política a ter 3 ou 4%". E lançou, dali do Porto, uma farpa ao antigo líder do partido Marcelo Rebelo de Sousa. "Não quero um Presidente da República só para selfies".
À saída, Menezes reafirmou o que disse na sua intervenção e fez um forte ataque a Manuela Ferreira Leite. Afirmando que o partido deve cerrar fileiras e estar unido, "sem ódios nem vinganças", o antigo líder do PSD disse ser necessário tirar "alguns maus amigos que não ajudam". E concretizou. "Manuela Ferreira Leite quando vai à televisão pretensamente ajudar Rui Rio, não vai. Vai atacar Passos Coelho. Está a prejudicar o PSD e Rui Rio", disse. O futuro do partido não pode dar lugar a ressentimentos, prosseguiu Menezes, para quem o importante é criticar o atual governo. "Este governo é um bluff, esta coligação é um buraco. Aquela senhora pequenina do BE e o dr. Jerónimo deixam passar tudo."
Este foi mesmo um inesperado apoio ao líder do PSD que motivou um forte abraço a Menezes, após décadas em que eram vistos como inimigos dentro do partido por "guerras"nas estruturas do Porto, que datam da década de 1990.
Na reunião do CN, que decorre à porta fechada, o eurodeputado Paulo Rangel, que deverá ser o cabeça de lista do partido às eleições europeias de maio, defendeu perante os restantes conselheiros que não faz sentido interromper um mandato sem que um facto excecional o justifique. " É mal compreendido pela opinião pública", disse e assegurou que "as pessoas que estão em casa não estão a ver com os olhos dos militantes e dos jornalistas e não compreendem". Na sua opinião, se o partido entrar num processo de eleições internas "terá um efeito muito negativo", sobretudo por "estarmos num período eleitoral".
Paulo Rangel pronunciou-se ainda sob a polémica em torno do modo de votação da moção de confiança, defendendo o voto de braço no ar, ao contrário dos críticos de Rio. "Um Conselho Nacional é um Parlamento do partido, No parlamento estão os representantes dos militantes. O que é normal é que os representantes votem de modo a que os representados saibam".