"Paguei à banca 231 milhões de euros em troco de nada", diz Berardo

Em carta aberta ao presidente da Assembleia da República, Joe Berrado diz-se vítima de "julgamento político" no Parlamento e pede a Ferro Rodrigues que garanta "regular funcionamento" das comissões parlamentares de inquérito

Joe Berardo enviou esta segunda-feira uma carta aberta ao presidente da Assembleia da República, na qual se declara vítima "de julgamento político" pela comissão parlamentar de inquérito, na qual respondeu a 10 de maio, e pede a Ferro Rodrigues que garanta "o regular funcionamento das comissões de inquérito", para evitar que situações futuras idênticas.

No documento, Berardo afirma ainda que já pagou à banca, em juros, "à volta de 231 milhões de euros, em troco de nada".

O empresário começa por afirmar na carta que "pouco deve ao Estado português", uma vez que em Portugal só frequentou o ensino primário, tendo começado a trabalhar aos 13 anos, e emigrado depois para a África do Sul.

Sobre a sua presença na II Comissão de Inquérito à Caixa geral de Depósitos, Berardo garante que não tinha permitido o acesso aos meios de comunicação social - "direito que foi reconhecido pelo presidente da comissão parlamentar", explica - e que, por isso mesmo, ficou surpreendido por a sessão ter sido transmitida em direto no canal do Parlamento. "Fui sujeito a um interrogatório de 5 horas, sem direito a contraditório", indigna-se.

Dessa situação, na qual admite "momentos infelizes, em que respondi no mesmo tom de desafio a perguntas também elas provocatórias", resultaram "danos" à sua "honra pessoal", assinala.

"Fui objeto de um verdadeiro julgamento popular nessa tarde de sexta-feira, com várias qualificações sumárias do meu carácter, sujeito a transmissão televisiva que não autorizei", acusa Berardo.

O empresário madeirense nega por outro lado ter tido ao seu dispor, "ou qualquer entidade ligada" a si, "dinheiro emprestado pela Caixa Geral de Depósitos, ou outros bancos".

Todo esse dinheiro, diz, " foi perdido por ter sido imediatamente usado na aquisição de ações", que acabaram por perder valor na crise de 2008. Depois disso, escreve Berardo na carta a Ferro Rodrigues, o que fez foi pagar juros à banca, no valor de 231 milhões de euros, "em troco de nada".

Em 20 de abril, CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de quase 1.000 milhões de euros, executando ainda a Fundação José Berardo e duas empresas ligadas ao empresário.

O valor em dívida às três instituições financeiras totaliza 962 milhões de euros e o empresário viu bens imóveis arrestados por ordem do tribunal.

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