O PCP nas presidenciais: dois futuros líderes, nenhuma mulher
O Comité Central do PCP decide este sábado quem será o candidato do partido às eleições presidenciais de janeiro. Um escrutínio que, há quatro anos, redundou no pior resultado de sempre de um candidato comunista - com 183 mil votos, Edgar Silva ficou-se pelos 3,95% dos votos.
Não se sabendo ainda quem é o nome escolhido, o histórico do PCP nas presidenciais sugere algumas pistas. E uma delas pode ter um interesse acrescido em vésperas de congresso do partido (marcado para novembro) e numa altura em que o atual secretário-geral leva 16 anos de liderança: quer Jerónimo de Sousa quer o anterior líder, Carlos Carvalhas, foram lançados como candidatos presidenciais antes de assumirem o partido. Por agora, e provavelmente até ao congresso, Jerónimo não esclareceu se haverá mudanças na liderança a curto-prazo, dizendo apenas que isso nunca será um problema no congresso do partido.
Desde as primeiras eleições para o Belém o PCP nunca deixou de apresentar um candidato próprio às presidenciais, na esmagadora maioria dos casos uma figura de primeira linha, próxima da direção. Mas nem sempre os candidatos chegaram ao final da corrida: em três atos eleitorais o nome lançado pelo PCP desistiu.
Em 76, nas eleições que deram a vitória a Ramalho Eanes, avançou Otávio Pato, líder parlamentar da bancada comunista na Assembleia Constituinte, que obteve 7,59% dos votos (365.586 votos). Quatro anos depois, novamente contra Eanes, apresentou-se Carlos Brito, um histórico, também ele dirigente nacional do partido. Carlos Brito viria a desistir em favor de Eanes.
Em 1986, nas mais disputadas eleições presidenciais de sempre, o PCP fez avançar Ângelo Veloso, uma candidatura que também não chegou a ir a votos, desistindo em favor de Salgado Zenha, o candidato apoiado pelo PRD que havia entrado em rutura com Mário Soares. Mas seria o ex-primeiro-ministro a passar à segunda volta, em confronto direto com Freitas do Amaral, dando azo a uma decisão histórica que seria decisiva para a vitória de Soares, que partiu para a segunda volta 20 pontos atrás de Freitas.
Fechada a primeira volta, em apenas cinco dias o PCP preparou e reuniu-se no seu XI congresso, com as presidenciais como único ponto da agenda. A 2 de fevereiro de 1986 o PCP dá indicação de voto em Soares, arqui-rival de Álvaro Cunhal e uma figura muito pouco apreciada entre os comunistas. Foi nesse congresso que Cunhal pronunciou uma frase que ficou para a História: "Se for preciso tapem a cara [de Soares no boletim de voto] com uma mão e votem com a outra". Soares viria a ganhar a segunda volta das presidenciais à tangente, com 51,18% dos votos.
Em 1991, na recandidatura de Soares, o PCP lança Carlos Carvalhas, que termina o plebiscito com 12,92% (635.373 votos), o melhor resultado de sempre de um candidato comunista nas presidenciais. Um ano depois, com a saída do líder histórico do partido, Álvaro Cunhal, Carlos Carvalhas assume o lugar de secretário-geral. E é nessa condição que, cinco anos depois, o então líder lança Jerónimo de Sousa na corrida presidencial. Mas Jerónimo não chega a ir às urnas, desistindo a favor de Jorge Sampaio no confronto contra Cavaco Silva.
Mas é de Jerónimo uma das imagens fortes que ficou dessa campanha eleitoral, com o candidato do PCP a dançar numa ação de campanha na noite da passagem de ano.
Em 2001 é a vez de António Abreu, vereador na câmara de Lisboa, que alcança 5,13% dos votos (221.971 votos). Nas eleições seguintes Jerónimo de Sousa repete a candidatura a Belém, agora já como secretário-geral, e desta vez vai mesmo às urnas, terminando com 8,59% (466.507 votos). Em 2011, na recandidatura de Cavaco Silva à presidência, apresenta-se a votos Francisco Lopes, da direção do partido, que obtém 7,14%.
Nas últimas presidenciais, em 2016, o PCP avança com Edgar Silva, ex-dirigente do PCP na Madeira, que disputa a eleição com Marcelo Rebelo de Sousa, Sampaio da Nóvoa, Maria de Belém Roseira e Marisa Matias. O candidato do PCP fica-se pelo quinto lugar. No duelo à esquerda com o BE, muito atrás de Marisa Matias, que consegue a melhor votação de sempre para os bloquistas em presidenciais, com 10,12% dos votos.
O candidato que for decidido este fim de semana pelo PCP - e que será apresentado formalmente na próxima quinta-feira - voltará a ter pela frente Marisa Matias, Ana Gomes e, expectavelmente, o recandidato Marcelo Rebelo de Sousa.
A única certeza, por agora, é que não será Jerónimo de Sousa a protagonizar a candidatura do PCP. O próprio já tinha dito que o partido "encontrará mais e melhores soluções para uma batalha tão difícil". Na última terça-feira encerrou o assunto, dizendo que o partido terá "outro candidato, outra candidata". "Eu candidato? Costuma-se dizer que não há duas sem três, mas já participei nessas batalhas", disse então.
Como fez na última terça-feira, Jerónimo tem feito questão de deixar sempre em cima a possibilidade de avançar com uma candidata, o que seria uma novidade no historial de candidaturas a Belém do partido.