
Legislativas 2019
Na estrada com... André Silva, o político que "vive consoante aquilo que prega"
Um dia na campanha do Pessoas-Animais-Natureza, com André Silva muito bem-disposto e confiante num bom resultado eleitoral. O clima esteve em grande destaque, mas também houve propostas sociais.
O abraço é carregado de emoção. Quando larga André Silva, cabeça de lista do PAN por Lisboa, Joana Oliveira está a chorar. O tom meigo com que fala e as lágrimas que lhe escorrerem pela cara contrastam com o ar mais duro que um olhar malicioso poderia vislumbrar nas tatuagens e nos piercings desta apoiante do Pessoas-Animais-Natureza.
Joana já largou o candidato, mas continua o discurso emocionado. Também carregado de indignação: "Tenho dois sobrinhos de sete e cinco anos, o Leonardo e o Pedro, e temo pelo futuro deles. Eu tenho 32 anos, mas eles não vão ter oportunidade de ver tanta coisa, nem de respirar, nem de viver, estamos a destruir o planeta. Os nossos oceanos estão carregados de plástico."
Joana agradeceu ao líder do PAN por "estar a lutar contra os poderes instituídos, empresa e políticos, que só se interessam por eles". "Por causa de um número de pessoas, estamos todos a sofrer as consequências".
O abraço de Joana, foi um dos muitos que André Silva recebeu no dia em que se juntou à manifestação da greve climática - na passada sexta-feira - e que o levou a percorrer, como peixe na água, as ruas da capital entre o Cais do Sodré e o Rossio, juntamente com milhares de estudantes.
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Apoiantes do PAN fazem questão de abraçar o líder do partido, André Silva.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Quem se aproxima de André Silva não se aproxima só de uma cara conhecida da televisão, sabe o que ele defende e àquilo que vem. Para esses, ele é o homem que defende o planeta e os animais. E naquela tarde todos defendiam o mesmo - a sobrevivência do planeta.
Até Vítor Vidal sabia que aquela manifestação não ia ser boa para o negócio. Encheu dois sacos reutilizáveis do supermercado de garrafas de água e de cerveja, mas apesar do calor, pouco vendia. Aproxima-se de André Silva e diz-lhe: "Lá no Parlamento vendo, aqui não. Por causa do plástico... Vou meter a água em vidro", diz a brincar, ao mesmo tempo que garante conhecer todos os deputados uns por um. Só não diz em quem vota, porque o voto é secreto.
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O negócio de Vítor Vidal não correu bem na manifestação pelo clima porque tinha garrafas de água em garrafas de plástico para vender. Mas ainda fez rir André Silva.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Um candidato entre os seus
"Estamos no fundo no meio de pessoas com outro tipo de consciência mais madura que a nossa classe política nacional. Apesar de a maioria serem muito jovens, é também por estarem sub-representados no parlamento que defendemos a sua capacidade eleitoral a partir dos 16 anos", diz o candidato aproveitando para dar uma achega ao programa eleitoral.
André Silva está, de facto, no seu habitat natural. Apesar de outras forças políticas terem aderido à iniciativa. Sempre bem-disposto, grita palavras de ordem, às vezes o corpo até lhe puxa para uns saltinhos, mas é preciso ir caminhando até ao Rossio. A boa disposição, garante, "tem que ver com a dinâmica, toda uma experiência que vamos ganhando e um à-vontade" maior em campanha comparativamente com a primeira, há quatro anos.

André Silva, sempre com a garrafa de água em vidro.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Também não é alheia à boa disposição, a perspetiva de poder aumentar a representação parlamentar de um para dois ou três deputados. Um bom resultado para o PAN, garante, seria reeleger-se a si próprio, mas também Inês Real e Nélson Silva - respetivamente os três primeiros nomes da lista por Lisboa. E ver crescer a votação em distritos como Setúbal, Porto, Braga e Aveiro.
"As boas perspetivas vêm da rua, são cada vez mais as pessoas que nos cumprimentam, que nos acarinham, que nos apoiam e que nos dão coragem para continuar que pedem para não desistirmos mesmo perante alguns ataques infundados e excessivos. E isso dá-nos força", sublinha o líder do PAN.
A cabeça da manifestação já está no início da Rua do Ouro quando a representação do PAN se aproxima da Praça do Comércio. Ana Cardoso, desceu do Ministério da Agricultura onde trabalha para ver o cortejo, fotografa com o telemóvel e atira um beijo com a mão. Um beijo para André Silva. Porque, afirma, "ele vive consoante aquilo que prega".
"Conheci-o antes de ele entrar no PAN, passei um fim de ano onde ele também estava e, apesar de lá haver muita oferta, levou a sua comida vegan. Voto PAN, porque estão todos lá para encher os bolsos. Ele é alguém que está a atentar uma solução para o país e para o planeta", justifica Ana.
Das fraldas ecológicas ao berço encontrado na rua
De Bruxelas veio para a manifestação e para a última semana de campanha o recém-eleito eurodeputado do PAN, Francisco Guerreiro. No protesto teve a companhia da mulher e das duas filhas, Emília com 12 anos e Emma com seis meses. Umas vezes empurrada no carrinho, outras vezes ao colo do pai, a bebé não deixou de provocar as preocupações que uma criança que usa fraldas suscita. Mas o pai levantava o polegar em sinal de que estava tudo bem.

O PAN conta esta semana com a participação do eurodeputado Francisco Guerreiro na campanha. Para a manifestação trouxe a família, incluindo a filha de seis meses.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
Francisco explicava depois que as preocupações ecológicas no crescimento da filha não se limitam às fraldas ecológicas, mais caras mas biodegradáveis. As roupas e o carrinho também são "reciclados", ou seja, já tiveram outros donos. Até o berço foi recuperado. "Um berço novinho, no valor de uns 150 euros, que encontrámos junto ao contentor. Foi tudo limpo e está impecável."
Lutar contra o consumo excessivo e o desperdício era um dos motes da manifestação. André Silva dava a big picture: "Os estudantes convocaram-nos para relembrar que um dos direitos fundamentais de todos nós é habitarmos num planeta saudável. Precisamos de maior sobriedade, de gastar e consumir menos, precisamos de um maior enriquecimento cultural e precisamos de fazer transições na nossa economia, na mobilidade, na forma como produzimos energia, transitar da queima do carvão para a energia fotovoltaica. Também no turismo é importante desenvolver a atividade de forma sustentável para que não a esgotemos nos próximos anos e também ao nível da agricultura termos uma forma de produção de alimentos mais sustentável, menos impactante."
Quinta do Cabrinha: as preocupações sociais
Logo pela manhã, umas horas antes da manifestação pelo clima, a campanha do PAN esteve na Quinta do Cabrinha para conhecer os projetos sociais da Associação Crescer na ajuda aos sem-abrigo, consumidores de substâncias psicoativas e refugiados.
Antes, André Silva bebeu um café com os seus pares da lista por Lisboa no Águias Recreativo Clube, num rés-do-chão dos prédios coloridos. Ao balcão, Alexandra Bettencourt não o reconheceu. Só percebeu quem era quando perguntou aos jornalistas.

Antes da visita à Crescer, bebeu um café com Inês Real e Nélson Silva, números dois e três, respetivamente, na lista do PAN por Lisboa.
© Álvaro Isidoro / Global Imagens
Mas, em breves instantes, ainda conseguiu mostrar-lhe a transformação facial que fez no Programa da Cristina. No telemóvel tinha fotos da sua cara ainda com o queixo e os dentes completamente sobressaídos e o nariz de papagaio. "Não tinha autoestima, não me davam emprego."
Está irreconhecível. "Fico muito contente, felicidades", deseja-lhe André Silva antes de entrar na Crescer. Só já não tem tempo para ouvir a idosa que vai contando que o pai lhe dizia que era preferível ela namorar do que se meter na política para não ser levada pela PIDE.
Já na associação, ouviu o trabalho que fazem no terreno e os problemas com que se deparam. No final, antes de uma fotografia de família, defendeu o aproveitamento de imóveis do Estado para dar habitação aos sem-abrigo. Com pouco mais de dois milhões de euros, disse, dava-se casa a 360 pessoas em Lisboa.
Além da habitação, o PAN defende igualmente que é preciso assegurar a manutenção do Rendimento Social de Inserção (RSI) até que a pessoa aufira um rendimento conjunto equivalente ao salário mínimo nacional.

André Silva esteve na Crescer na Quinta do Cabrinha, em Lisboa, e defendeu que casas do Estado fossem disponibilizadas aos sem-abrigo.
© Álvaro Isidoro / Global Imagens
"Alguém que tem um RSI na ordem dos 200 euros e encontra uma casa, arranja um apoio ou consegue um part-time, muitas vezes perde o RSI por ter um ou outro tipo de apoio e rendimento. Propomos que, até que o rendimento conjunto não atinja o patamar dos 600 euros, a pessoa mantenha o RSI, para que possa, com tempo, ter um rendimento mínimo para desenvolver a sua reabilitação e inserção na sociedade", defendeu André Silva.
Uma resposta àqueles que dizem que o PAN é o partido dos animais. Já o chateia ouvir dizer que se preocupa mais com os animais do que com as pessoas? "Já estou habituado. Quem diz isso são comentaristas e opinadores que acabam por ter a sua agenda ao serviço de outros partidos ou de interesses e económicos. Esse não é o sentimento geral da população. Mas até é um bom sinal, ou seja, quando temos o campo político da esquerda a acusar-nos sermos de direita e o campo político da direita a acusar-nos sermos da esquerda significa que estamos a fazer um bom trabalho."

No final da manifestação e de muito gritar palavras de ordem, André Silva pôs os telefonemas em ordem.
© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens