"Fizemos o 25 de Abril" para termos governantes "todos familiares uns dos outros"?
"Isto merece um discurso do 25 de Abril, nós fizemos o 25 de Abril para termos os titulares de cargos políticos a serem todos familiares uns dos outros? É essa a sociedade democrática e a República que queremos?", questiona Paulo Rangel a propósito dos vários caos de ligações familiares em gabinetes de governantes do atual executivo socialista.
Em entrevista à agência Lusa, o cabeça de lista do PSD às próximas eleições europeias, elencou os casos conhecidos. "No Conselho de Ministros, tem um marido e mulher, um pai e filha. Tem agora uma chefe de gabinete do sucessor do marido, cuja mulher também gere um fundo...", sublinhou, referindo-se respetivamente aos ministros Eduardo Cabrita e Ana Paula Vitorino, José Vieira da Silva e Mariana Vieira da Silva, Pedro Nuno Santos e ao secretário de Estado Duarte Cordeiro.
Rangel acrescentou ainda à lista de "promiscuidades familiares", a recente eleição de Francisco César para liderar a bancada socialista nos Açores, filho de Carlos César, que dirige o grupo parlamentar do PS na Assembleia da República, ou o facto de o irmão da secretária-geral adjunta do PS, Ana Catarina Mendes, também integrar o Governo, como secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, entre outros casos "de primos e cunhados".
"Que as pessoas em Portugal não rasguem as vestes e não se escandalizem com isto é sinal de uma certa doença e de um adormecimento da democracia", afirmou, criticando o papel da comunicação social, mas também o do chefe de Estado. "Eu acho que aqui o próprio Presidente da República, que desvalorizou o caso, não devia desvalorizar, não é salutar para a democracia", defendeu.
Questionado qual poderia ser o papel de Marcelo Rebelo de Sousa, Rangel começou por lembrar que foi o Presidente da República quem os nomeou, no caso dos ministros. Interrogado se poderia ter recusado a proposta do Governo, o eurodeputado respondeu: "Devia ter advertido o primeiro-ministro de que não deveria fazer isso".
No discurso de 25 de Abril de 2007, quando era líder parlamentar do PSD e José Sócrates do primeiro-ministro, Rangem denunciou o ambiente de "claustrofobia democrática" que considerava viver-se no país nesse tempo. Agora, entende que deve haver outra intervenção do género na próxima sessão solene.
"Isto merece um discurso do 25 de Abril, nós fizemos o 25 de Abril para termos os titulares de cargos políticos a serem todos familiares uns dos outros? É essa a sociedade democrática e a República que queremos?", questionou, apontando que tal nunca seria permitido ao anterior executivo de Passos Coelho.
No entanto, o eurodeputado social-democrata considerou que a solução não passa pela legislação, salientando que "não há nenhum Governo na Europa que tenha esta situação". "Se se aplicasse o Código de Procedimento Administrativo nas reuniões de Governo levaria a impedimentos sistemáticos de votações no Conselho de Ministros", defendeu, frisando que "se se tratasse de um caso isolado, não haveria qualquer problema".
Nesta entrevista, Rangel provoca o seu adversário do PS, Pedro Marques (ex-ministro das Infraestruturas), lembrando que "não conhece pensamento europeu ou uma ideia para a Europa" do cabeça de lista do PS Pedro Marques.
"Há uma coisa que é certa: Vital Moreira e Francisco Assis tinham pensamento sobre a Europa, Pedro Marques não tem. Francisco Assis e Vital Moreira, discordando eu deles em muitos aspetos, sempre se notabilizaram por exercerem os seus cargos com competência", afirmou.
Ao contrário, considerou, Pedro Marques foi ministro do Investimento, área que "está no grau mais baixo de sempre", criticando também a execução dos fundos comunitários sob a sua alçada, bem como o discurso do PS nesta matéria.
Paulo Rangel acusou ainda o governo de "falhar" na preparação para o 'Brexit' e estar "francamente mal" quanto à proteção de cidadãos e empresas e à salvaguarda dos interesses geopolíticos."O 'Brexit' em Portugal tem sido muito maltratado. Não podemos falar no 'Brexit ' sem olharmos para o que o governo português tem feito e há duas dimensões em que acho que estamos francamente mal", afirmou o eurodeputado,