O secretário-geral do PCP admite não ser recandidato à liderança do partido dentro de menos de dois anos porque "é da lei da vida", mas sublinha que a decisão caberá ao coletivo e que nada está decidido. Um dado é certo: o líder comunista promete não "calçar as pantufas". .Em entrevista à Lusa, insistentemente questionado sobre o seu futuro no Congresso Nacional ordinário do PCP, previsto para o final de 2020, Jerónimo de Sousa disse que acabará por ter responsabilidades diferentes no partido. "Até hoje, e já lá vão 14 anos, se há coisa que levo comigo são as grandes manifestações de solidariedade em momentos difíceis que o coletivo partidário tem tido para com o secretário-geral, nos bons e maus momentos. Aceitei esta responsabilidade que os meus camaradas entenderam atribuir-me, procurando estar à altura, o que não é fácil, mas percebi que nestas tarefas cada um de nós tem de perceber e escolher o momento para alterar as suas responsabilidades", sublinhou. .O líder comunista, que vai comemorar o seu 72.º aniversário a 13 de abril, completará década e meia como secretário-geral do PCP em novembro.."Inevitavelmente - é da lei da vida -, acabarei por ter responsabilidades no partido diferentes, alteradas, embora com um sentimento: não vou calçar as pantufas, vou continuar como militante, como a pessoa que sou, a ajudar o meu partido. Continuarei a ser comunista", garantiu Jerónimo, escusando-se a "fazer previsões", pois trata-se de "uma decisão que passa, em primeiro lugar", pelos seus "camaradas"..Colocado perante a possibilidade de não continuar na liderança do mais antigo partido político português (98 anos), Jerónimo de Sousa limitou-se a dizer que "sim, é possível, mas também não é impossível uma outra decisão".."Eu vim para a política, como jovem sindicalista, com o ardor da juventude, para ser capaz de dar a minha contribuição, o melhor que sabia e podia. Procurando, com os meus camaradas mais velhos, apreender aquela grande lição de que a política é uma coisa nobre desde que seja para servir os interesses dos trabalhadores e do povo e não a nós próprios", continuou..O atual líder comunista prevê que, em relação a 2020 a vida o dirá, mas vinca ter a "consciência" de que esteve "sempre do lado certo".."Vou sair, em termos materiais, como entrei. Pode-se ver aliás pelo balanço do Tribunal Constitucional [rendimentos de cargos públicos], não são palavras de circunstância. Ter esta consciência de que dei o melhor que sabia e podia, não sendo perfeito, não sendo o suprassumo da batata, mas acreditando nesta causa, neste projeto, dando o meu melhor", disse..Falando sobre notícias que têm vindo a público, designadamente sobre um alegado favorecimento do genro pela Câmara Municipal de Loures (que é da CDU), Jerónimo de Sousa considerou "chocante" o que se tem passado. "Você imagina o que é não saber coisa nenhuma de negócios de trabalhos na câmara, nunca ter dado uma palavra a ninguém sobre qualquer favorecimento e vir um jornalista de microfone em riste perguntar: 'o fulano tal é seu genro?' Aliás, como aconteceu com o João Ferreira: 'se não foste tu, foi o teu pai'. Nunca acusaram. Fizeram pior: insinuaram, que como é sabido é sempre a base do boato", sublinhou o secretário-geral do PCP, apontando para a existência de "um caldo inaceitável", mas "claramente orientado" por uma certa "direita económica". "Não perdoam ao PCP que pudesse estragar a festa em relação aos quatro anos que passaram e que eles pensaram que iam poder acabar com o resto. Não conseguiram", concluiu..Marcelo "tem um estilo muito próprio".Questionado sobre o mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, o secretário-geral do PCP sublinhou que "no essencial não existiu nenhuma situação jurídico-constitucional em que o Presidente da República tivesse tomado uma posição contra o espírito ou a letra da Constituição. Isso não se verificou". E acrescentou que o atual chefe de Estado tem "um estilo próprio" - "Cada um é como cada qual, ele tem um estilo muito próprio. Eu não faço juízos de valor. Não tem mal nenhum que ele seja simpático com as pessoas e que goste de tirar as 'selfies'. Ninguém pode levar o Presidente da República a mal". .Em vésperas de uma visita de Estado de Marcelo a Angola, Jerónimo de Sousa lembrou a "ligação histórica" entre o PCP e o MPLA "desde os tempos do colonialismo" e elogiou o "esforço de recuperação económica, de desenvolvimento a diversos níveis", "o combate à corrupção, que também é um elemento importante" levado a cabo pela nova liderança do Presidente João Lourenço, que substituiu José Eduardo dos Santos há cerca de um ano..O líder comunista notou, porém, que se trata de "um processo que está em desenvolvimento, não é um processo terminado", afirmando que o partido acompanha a situação com atenção.