Elisa Ferreira e os conflitos de interesse: "não se trata do julgamento do passado"
A comissária indigitada pelo governo português Elisa Ferreira reuniu-se esta tarde com o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, "para trocar algumas impressões e ouvir quais são as suas expectativas relativamente ao próximo mandato da comissão".
Este primeiro encontro serve também para Elisa Ferreira apresentar "ideias sobre aquilo que deve ser feito", ao longo dos próximos cinco anos, de mandato na Comissão Europeia, onde deverá estar à frente da pasta da Coesão e Reformas, escapando ao limite "daquelas três horas de perguntas intensas, com uma grande audição", marcada para a próxima quarta-feira dia 2 de outubro.
Uma das questões que espera levar resolvida para a audição prende-se com um potencial conflito de interesses, relativo à posse de "um pequeno lote de ações", do grupo Sonae. A Comissária indigitada já tratou entretanto de alienar o conjunto de ações, acreditando que "a questão ficou resolvida".
"O Júri pôs a hipótese, se eu não poderia vender uma participação acionista muito pequenina, de uma empresa portuguesa e eu imediatamente - até antes de a carta chegar - já tinha vendido porque de facto não tinha nenhum interesse naquilo que era perturbador", afirmou Elisa Ferreira, elogiando o "escrutínio dos conflitos de interesse das pessoas".
"Faz parte e acho que é muito bom que sejam postas as coisas de uma forma clara", disse, salientando que "não se trata do julgamento do passado", mas sim de "criar as condições para que a fase que - se tudo correr bem - agora se inicia seja uma fase em que não haja dúvidas".
Quando iniciar funções a 1 de novembro, Elisa Ferreira quer que todas as questões "já estejam esclarecidas", incluindo as que foram levantadas na imprensa portuguesa, relacionadas com as funções do seu marido, que "o Parlamento Europeu não valorizou"
Os eurodeputados consideraram que "não há relação" entre o cargo de Fernando Freire de Sousa, na CCDR-Norte, e o futuro cargo de Elisa Ferreira na comissão europeia, na pasta da Coesão e Reformas, apurou o DN.
Ainda assim, a comissária indigitada pediu "um esclarecimento para que não restem dúvidas aqui no Parlamento", embora o assunto "não tenha minimamente valorizado porque de facto não não encontraram o outro interesse que poderia estar em conflito com o interesse público.
Elisa Ferreira já esteve reunida com a futura presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, que ainda "não conhecia", mas de quem dá a entender ter retido uma boa primeira impressão.
"Gostei muito do discurso que ela fez no plenário, achei que foi um discurso muito acima ou articulado. E fiquei convencida de que é uma pessoa que quer fazer bem e tem na agenda alguns assuntos que, para mim pessoalmente, e para todos os europeístas é importante que sejam realizados".
"Ouvir uma pessoa que é alemã - e que vem do PPE e eu outra que vem do PS - protagonizar questões como a necessidade de fazer uma garantia de depósitos, a necessidade de fazer um [mecanismo] de salvaguarda para a gestão dos bancos em crise. Uma pessoa que fala de um orçamento europeu para a zona euro, que fala de flexibilizar o Pacto de Estabilidade e Crescimento de criar alguns mecanismos de inteira ajuda, para criar potencialmente e no futuro qualquer coisa parecida como um subsídio desemprego europeu que dê estabilidade aos cidadãos, acho que ela colocou na agenda de facto assuntos que a mim pessoalmente me são muito caros.