Os custos para o erário público do apoio estatal às empresas com trabalhadores em lay off ainda está a milhas de distância dos mil milhões de euros/mês estimados inicialmente pelo primeiro-ministro e pelo ministro das Finanças..Até agora, com dois meses e meio passados sobre o início das medidas especiais de contenção à pandemia covid-19, o Estado só gastou 470 milhões de euros..O número foi avançado pela ministra da Segurança Social, esta tarde, numa interpelação parlamentar do PS ao Governo subordinada ao tema "Respostas do Estado Social à pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2"..Segundo Ana Mendes Godinho, o lay-off simplificado "protegeu 804 mil postos de trabalho em 99500 empresas e com apoios pagos na ordem dos 470 milhões de euros". Ou seja: 584,6 euros por trabalhador abrangido..E a estas medidas há que somar outras de apoios sociais. No total, ainda segundo a ministra, já abrangeram 1,2 milhões de trabalhadores e 140 mil empresas, no valor global de 620 milhões de euros..Ana Mendes Godinho falou em seguida de apoios às famílias, em articulação com a Educação, tendo em vista dar a garantia de que os pais "podiam acompanhar os filhos quando as escolas tiveram de suspender as atividades letivas presenciais".."O apoio aos trabalhadores independentes já abrangeu 160 mil trabalhadores e o apoio aos sócios-gerentes chegou acerca de 14 mil. Assistiu-se também à prorrogação automática das prestações sociais mínimas para que ninguém fique para trás - algo que já abrangeu mais de 40 mil pessoas.".Segundo a ministra, nestes últimos meses, assistiu-se igualmente a "momentos de total entrega por parte de todos os que trabalham no Estado social e que asseguram resposta a todos os que estão a precisar".."A Segurança Social mostrou que é quem responde a quem precisa quando precisa", completou, aqui numa nota mais política, antes de defender que Portugal registou "bons" resultados ao nível da prevenção da covid-19 em matéria de contágio em lares de idosos: "Fizemos em conjunto mais de 110 mil testes aos trabalhadores dos lares e das creches.".Nesta intervenção, a ministra abordou também a questão da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), advogando que só no último mês entraram em funções 188 novos inspetores. "Tem agora 486 inspetores em funções, o número mais elevado desde que a ACT foi criada. No último mês, houve a capacidade de fazer 5500 ações inspetivas, abrangendo 150 mil trabalhadores.".O PSD e o CDS-PP aproveitaram o debate agendado pelo PS para apontar falhas na resposta do Estado social na pandemia de covid-19..Na intervenção de fundo do PSD, o deputado Hugo Carvalho salientou que a opção dos sociais-democratas não foi a de "quanto pior melhor", mas estranhou que os socialistas tenham escolhido "parar para balanço".."Foram muitas as solicitações ao Estado, mesmo por parte dos da antipolítica e dos que não acreditam no Estado Social. Mas a verdadeira resposta do Estado Social não foi a do PS, foi a da sociedade civil", disse, apontando "as horas extra e o trabalho incansável" dos profissionais de saúde, das forças de segurança, dos professores ou dos transportes, entre outros..O deputado da JSD acusou o Governo de falhar às pequenas empresas, aos sócios gerentes, aos fornecedores ou aos trabalhadores de áreas como a cultura, dos ginásios ou aos feirantes, que continuam "sem resposta do Estado social". "O Estado social não pode ser o apoio de apenas alguns, não pode ser menos do que a situação exige", acusou..Na parte mais 'quente' da interpelação, a deputada do PS Sónia Fertuzinhos respondeu às críticas do PSD com acusações ao executivo PSD/CDD-PP, que governou entre 2011 e 2015.."Não deixa de ser engraçado que tenha vindo falar das dificuldades destes trabalhadores e do muito que lhes devemos, quando foi o Governo do partido que o senhor apoiou que lhes cortou salários e que lhes aumentou os horários", acusou, sob grandes protestos da bancada do PSD..A deputada socialista fez o contraponto entre o que disse serem medidas de austeridade desse executivo, e que levaram muitos jovens a emigrar, e as "medidas contracíclicas" que o Governo PS está a adotar.."Percebemos pela sua intervenção e pelas medidas que o dr. Rui Rio apresentou hoje que infelizmente o PSD não aprendeu nada", criticou a deputada socialista, referindo-se ao programa na área social hoje anunciado pelo líder do PSD.."Enquanto a senhora deputada faz esse joguete parlamentar as pessoas que estão em casa ficam exatamente na mesma, sem respostas nenhumas e a perderem o interesse na política", lamentou Hugo Carvalho, na réplica..Antes, o deputado do CDS-PP João Almeida tinha lamentado que o a interpelação do PS não tenha servido para discutir "o que correu melhor e pior", mas para fazer "um ajuste de contas, dizendo "quem são os bons e os maus da história"..A esquerda, BE, PCP e PEV pediram ao Governo mais apoios para os trabalhadores que viram o seu rendimento cortado ou anulado pela pandemia de covid-19, e salientaram que "nem todos estão no mesmo barco" nesta crise..O deputado do BE José Soeiro apontou que existem hoje "mais de 800 mil pessoas a viver com cortes de salário" no âmbito do regime de `lay-off´ simplificado. "Está o Governo disponível para devolver este corte de um terço aos trabalhadores? Está o Governo disponível para reduzir o prazo de garantia para aceder ao subsídio de desemprego e aumentar o tempo da sua concessão, cortado pela `troika´?", questionou..O deputado apontou ainda o caso dos trabalhadores independentes, que constituem a grande maioria do setor da cultura, e que não recebem mais de 219 euros, defendendo que se é necessário "valorizar o que já foi feito, é preciso fazer muito mais para não deixar ninguém para trás"..Também a deputada do PCP Diana Ferreira avisou que "nem todos estão no mesmo barco", salientando que os trabalhadores com vínculos precários "foram os primeiros a serem considerados descartáveis".."O PCP propôs aqui a proibição de despedimentos, tal como defendemos o pagamento dos salários a 100%", recordou, questionando o Governo da sua disponibilidade para aprovar a proposta do PCP de um apoio social extraordinário aos trabalhadores que não se enquadram nas restantes medidas..Na mesma linha, José Luís Ferreira, dos Verdes, considerou que se a atual crise "está a demonstrar a importância do Estado social", também irá "pôr a prova" o Governo em matéria de proteção dos trabalhadores, manifestando-se contra o prolongamento do atual modelo de `lay-off´ - uma "medida coxa" que implica um corte de um terço do rendimento dos trabalhadores..Na resposta, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, afirmou - tal como na quarta-feira já tinha sido dito pelo primeiro-ministro, António Costa - que o Governo está a "preparar a regulamentação do apoio à manutenção dos postos de trabalho"..Já a líder parlamentar do PAN, Inês Sousa Real, aproveitou para advertr o Governo que vai ter de escolher "a quem dá a mão" na presente crise.."É urgente que o Governo tenha a coragem de afrontar todos aqueles que durante as crises anteriores têm ficado protegidos. O Governo vai ter de escolher a quem quer dar mão, se às pessoas ou aos interesses instalados, que minam a nossa democracia, como os benefícios fiscais e outros subsídios ambientalmente perversos às indústrias poluentes", afirmou.