Derrota nas europeias. Oposição a Rio vai manter-se na sombra
Nos bastidores, todos assumem que a "derrota foi pesada" e que o grande vencedor foi "António Costa". Insistem que com a estratégia seguida pelo líder do PSD, sem se diferenciar muito do PS, o resultado nas legislativas de outubro "será desastroso". E esperarão até esse momento para o tentar derrubar. Até lá só no Conselho Nacional, que será marcado para analisar os resultados eleitorais (o pior de sempre, com 21,94% dos votos e seis eurodeputados eleitos), se poderão levantar algumas vozes, poucas no entanto, contra o caminho que Rio tem percorrido ao leme do partido.
Luís Montenegro, que desafiou no início do ano a liderança de Rio, mas foi derrotado em Conselho Nacional, continua a ter as suas tropas acantonadas à espera do momento certo.
Outros setores críticos de Rio, mais próximos de Pedro Passos Coelho, tanto disparam sobre a liderança como sobre o antigo líder parlamentar: "Foi um disparate Montenegro abanar o barco naquela altura. Perdeu e agora estancou a possibilidade de fazer críticas mais contundentes", afirma uma fonte desta ala. Defende também que "Rio tem de levar até ao fim o seu mandato e provar nas urnas, nas legislativas, se a sua orientação política é compensada pelo eleitorado".
No PSD há ainda quem esteja preocupado com a "fragmentação" da direita, que não se conseguiu "reconfigurar". "Mesmo a promessa de renovação não veio dos partidos pequenos", afirma outro destacado militante social-democrata, que considera os resultados um péssimo sinal para o que se irá passar nas eleições em outubro.
Na noite eleitoral, Rui Rio nunca usou a expressão "derrota" no seu discurso, mas um dos seus vice-presidentes, Salvador Malheiro, escreveu-a conjugada com a palavra "grande" nas redes sociais. "Ontem, foi o dia de uma grande derrota. O povo é quem mais ordena".
No distrito de Aveiro, cuja distrital é liderada precisamente por Salvador Malheiro, o PSD ficou um pouco atrás do PS, com 29,7% dos votos contra 31,2%.
Os melhores resultados do partido foram nos distritos em que os líderes das estruturas locais estão com Rui Rio, como chama a atenção uma fonte do PSD, à exceção de Braga que ficou abaixo das expectativas. Um dos piores resultados foi em Lisboa, já que o partido ficou praticamente a metade da votação dos socialistas, com 16,4% contra os 32,73% do PS, dos votos na cidade e também muito distante na área metropolitana no seu conjunto.
Fontes do PSD admitem que haverá alguma pressão da direção do partido para deitar abaixo o líder da distrital de Lisboa, Pedro Pinto, muito próximo de Passos Coelho e apoiante de Luís Montenegro. E viram nas palavras elogiosas de Rui Rio para Carlos Coelho na noite eleitoral, o sétimo candidato da lista indicado por Lisboa e que não foi eleito, um sinal disso mesmo. "O Conselho Nacional vai analisar os resultados distrito a distrito e Lisboa fica mal no filme. Queria deixar uma palavra especial para Carlos Coelho que não conseguiu ser reeleito por ser o sétimo candidato, quando o PSD só conseguiu eleger seis", disse Rio, relembrando que o eurodeputado aceitou passar de segundo candidato para sétimo lugar da lista, mesmo sabendo que podia pôr em risco o seu lugar", disse Rio, no domingo, no Porto.
Ainda assim, há quem rejubile com o que se passou na capital. A vereadora substituta do PSD na Câmara de Lisboa, Sofia Vala Rocha, manifestou-se muito satisfeita com o facto de o CDS ter passado para trás do seu partido na capital. "De 1 de outubro de 2017 a 26 de maio de 2019, o CDS foi o partido de centro-direita mais votado em Lisboa. Isso acabou ontem. O PSD ontem, embora com um mau resultado, foi o partido de centro-direita mais votado em Lisboa. Teve muitos mais votos do que o CDS e o Aliança juntos"
A também conselheira nacional do PSD, que foi a voz mais crítica sobre a escolha de Passos para encabeçar a lista do partido nas autárquicas em Lisboa, no caso do nome de Teresa Leal Coelho, lembrou os resultados menos felizes em 2017: "Demonstra que aquelas autárquicas de 2017 de má memória castigaram os erros de casting de maus candidatos e de má estratégia. Aqueles sinistros 10% não são para repetir. Foram um caso isolado. A partir de hoje, 27 de maio de 2019, o PSD pode reescrever a sua história em Lisboa."
Rui Rio foi o primeiro a assumir, perante o desaire eleitoral, que as campanhas estão desatualizadas e que é preciso arranjar "novas formas" de chegar ao eleitorado. Ideia que foi partilhada por um dos potenciais candidatos à liderança do PSD, Miguel Pinto Luz, num artigo de opinião publicado esta segunda-feira no Jornal de Notícias. O vice-presidente da Câmara de Cascais escreveu: "Em vez de arruadas, mercados, mega-jantares, eu gostaria que houvesse uma verdadeira preocupação de explicar a todos os portugueses o impacto e a importância da Europa nas nossas vidas"