Covid-19. Costa confessa atrasos nas entregas de materiais de saúde comprados pelo Estado
Para a pequena história dos debates quinzenais em Portugal, o desta tarde de terça-feira no Parlamento ficará marcado por um gesto inusitado do líder do PSD.
Irritado porque na sua bancada - que ele ainda lidera - estavam o dobro dos deputados do que tinha sido combinado por razões de segurança (estavam 36, tinham sido combinados 18) -, Rui Rio abandonou a sala do plenário, para "dar o exemplo".
"O PSD tem um conjunto de deputados que estão aqui e não deviam estar. Eu vou ser o primeiro a sair para dar o exemplo", anunciou - e lá saiu da sala.
16 deputados do PSD - um quinto da bancada - tinha sido o número combinado na conferência de líderes.
O debate, é claro, prosseguiu. Na sua primeira ida ao Parlamento depois de decretado o estado de emergência, António Costa aproveitou para admitir dificuldades crescentes em ter em Portugal nos prazos de entrega combinados o material comprado fora para acudir ao SNS no combate à pandemia do coronavírus.
Há por exemplo 500 ventiladores comprados à China e "todos os dias surgem desagradáveis surpresas" com o prolongamento dos prazos de entrega. Sendo que, no caso destes 500 ventiladores, Portugal até teve de pagar dez milhões de dólares a pronto para assegurar a encomenda visto que, segundo o primeiro-ministro, estava em concorrência com outro país.
Costa divulgou os números das encomendas já feitas: 380 482 batas, 549 837 fatos de proteção, 6 813 259 de luvas esterilizadas, 10 674 459 luvas não esterilizadas, 368 397 máscaras com viseira, 17 145 762 máscaras cirúrgicas, 8 665 775 mascara cirúrgicas específicas, 743 575 protetores de calçado e 1 262 472 toucas.
Mais tarde acrescentaria outros números, quanto aos testes: há um stock de 27 mil (10 mil no SNS e 17 mil nos privados). O Governo encomendou mais 280 mil e 80 mil chegam até dia 29.
De resto, o primeiro-ministro aproveitou o debate para ir reforçando a ideia de que a crise do covid-19 veio para durar - "e ainda não se sabe como vai ser no inverno". Para já, deixou claro que o Governo já se está a preparar para prorrogar o fecho das escolas para o 3º período. E no início de abril, o estado de emergência em vigor será prorrogado.
Aproveitou também para deixar a UE duras críticas, nomeadamente ao pacote financeiro de 37 mil milhões de euros anunciado para ajudar os países.
"Não vale a pena enganarmo-nos uns aos outros. Quando a União Europeia fala num plano de 37 mil milhões de euros [para combate ao coronavírus], sabemos que não é dinheiro novo, mas a possibilidade de reprogramarmos o que já estava a nós atribuído no âmbito do Portugal 2020. A flexibilização [dos limites ao défice] ajuda-nos, claro, mas priva-nos de ter músculo económico".
E deixou a exigência: "Precisamos de uma resposta, já. E implica dinheiro novo". De caminho anunciou que dentro de dias será oficialmente confirmado que o saldo das contas públicas em 2019 foi positivo (superavit em vez de défice).
Na oposição, o registo continua a ser "soft" face ao Governo. À esquerda, BE, PCP e PEV denunciaram a uma só vez empresas que já estão a aproveitar a crise para despedir trabalhadores, exigindo ao Governo que faça alguma coisa. Todos os partidos apertaram também Costa sobre carências no SNS - mas o primeiro-ministro foi insistindo na ideia de que, "no essencial", está tudo bem.
Face ao CDS, que voltou a recordar ter sido o primeiro partido a defender o encerramento das escolas - dias antes deste encerramento efetivamente acontecer -, Costa contra argumentou, como habitualmente, com a necessidade da "gradualidade" nas medidas, até por causa da "dimensão da saúde mental dos portugueses", que "é essencial que o país mantenha".
"Temos de ir vendo a par e passo como a mola aguenta a pressão de isto tudo estar fechado", insistiu.