Complôs políticos, Avante! e a crise no Governo "que não existiu". Marcelo voltou à rua
Marcelo Rebelo de Sousa esteve este domingo na Ericeira, para uma visita ao mercado municipal e um passeio junto à praia dos Pescadores, numa iniciativa que serviu também de apelo aos portugueses para que voltem a sair mais à rua, tomando os cuidados impostos pela situação de pandemia. É tempo de "fazer a abertura, com cuidado, pequenos passos, e ir perdendo o medo, ir aparecendo e consumindo", referiu o chefe de Estado, reforçando assim a mensagem que foi deixada ontem pelo primeiro-ministro, numa visita à Baixa lisboeta.
Mas Marcelo não falou só do desconfinamento. Falou de António Costa e de complôs políticos, das festas partidárias e das regras que têm de valer para todos e das presidenciais de janeiro do próximo ano - e ainda não desfez o tabu da recandidatura.
Se o Presidente da República se prepara para aumentar as saídas e incentivar os portugueses ao consumo, há companhias que são de evitar. Marcelo diz que quer evitar "coisas a mais com o primeiro-ministro",. Porquê? Para que não se pense em "complôs políticos".
"Amanhã [segunda-feira] irei visitar museus, depois irei almoçar fora ou jantar fora a restaurantes diferentes, tascas. O primeiro-ministro vai almoçar com o presidente da Assembleia da República", anunciou o chefe de Estado.
"Decidimos assim, se não às tantas diziam que eram coisas a mais com o primeiro-ministro, começavam a encontrar logo complôs políticos", foi acrescentando Marcelo, mas revelando também que já há novo encontro aprazado, "numa iniciativa diferente no fim da semana". "Irei com o senhor primeiro-ministro numa visita a uma área muito significativa do país. E depois continuarei nas próximas semanas aos poucos, com pequenos passos como eu sempre defendi, para os portugueses se sentirem mais à vontade - seguros, mas à vontade, sem correrem riscos desnecessários, mas começando tanto quanto possível a normalizar a vida social".
Marcelo referiu-se também aos acontecimentos que marcaram a última semana, desmentindo qualquer crise no Executivo. "Ainda ontem [sábado] o senhor primeiro-ministro disse - e disse bem - que não houve crise política ou do Governo. Não há crise. E, portanto, isso não existiu e não existe", afirmou o chefe de Estado aos jornalistas.
Quanto à permanência ou não de Mário Centeno no Governo, Marcelo Rebelo de Sousa remeteu essa questão para o primeiro-ministro, mas considerou: "Se me pergunta se os portugueses devem estar gratos ao ministro das Finanças por aquilo que tem vindo a fazer ao longo dos anos, ah, isso é evidente". "Tão evidente que eu reafirmei-o há mês e meio, dois meses, em Belém", acrescentou.
Confrontado com as críticas que recebeu pela sua intervenção, na última quarta-feira, a favor da posição que o primeiro-ministro assumiu no parlamento sobre as transferências para o Fundo de Resolução destinadas ao Novo Banco, o Presidente da República não lhes respondeu diretamente, mas centrou este caso no controlo do uso do dinheiro público.
"O dinheiro público é dinheiro dos contribuintes, portanto, saber se é bem utilizado, como é que é utilizado, isso é uma questão que não tem a ver com A, com B ou com C. É tão óbvio, tão óbvio, tão óbvio que toda a gente percebe que num período de dificuldade ainda é mais importante controlar o uso do dinheiro público", sustentou.
Marcelo Rebelo de Sousa remeteu depois para a nota que divulgou na quinta-feira, na qual se afastou de "questões internas do Governo", embora reiterando o entendimento de que "não é indiferente, em termos políticos" ser transferido dinheiro para o Novo Banco com ou sem conclusões da auditoria em curso que cobre o período de 2000 até 2018.
Passando de Belém e São Bento para a Quinta da Atalaia, Marcelo defendeu que as regras a definir pelas autoridades sanitárias para festas partidárias ou populares têm de "valer para todos", argumentando que o novo coronavírus não muda consoante a natureza das iniciativas.
Questionado sobre a realização da Festa do Avante!, do PCP, no início de setembro, o Presidente da República defende que a resposta "é muito simples" - cabe às autoridades sanitárias, "em função da situação sanitária vivida num determinado momento, dizerem o que é possível e o que não é possível fazer" e isso "tem de valer para todos. O que se disser vale para A, para B, para C, para D, para E".
"Há várias instituições que organizam as suas iniciativas, e a avaliação sanitária há de valer da mesma maneira para todas as iniciativas", reforçou, observando: "Não me parece que o vírus mude de natureza de acordo com a natureza das iniciativas".
A este propósito, o Presidente da República - que já marcou presença na Festa do Avante! - deu um exemplo pessoal: "Eu, por exemplo, gostaria muito de em setembro ir à festa do Viso, que é uma festa tradicional em Celorico de Basto e que reúne milhares de pessoas. Pois, tem de se esperar para ver".
Com os jornalistas a lembrar que Marcelo admitiu que o 1.º de Maio fosse celebrado pela CGTP-IN, e questionando em seguida a Festa do Avante!, Marcelo defendeu que "são coisas diferentes". "O 1.º de Maio, como o 25 de Abril, como o 10 de Junho são cerimónias nacionais, a que correspondem feriados nacionais, e pareceu-me a mim óbvio, para que se não dissesse que a democracia estava suspensa com o estado de emergência, que deviam ser celebrados, simbolicamente", especificou Marcelo, reiterando que no caso do Dia do Trabalhador esperava "uma comemoração simbólica".
"Outra coisa completamente diferente são atuações, atividades, celebrações de partidos, de organizações sociais, de organizações políticas, de organizações da sociedade civil" - "As autoridades sanitárias dirão em relação a iniciativas, não apenas partidárias, mas também populares, sociais, festas tradicionais, romarias, se sim, se não, em que condições sanitárias".
Marcelo Rebelo de Sousa voltou também a ser questionado e a pronunciar-se sobre as presidenciais, para dizer que... ainda não tem nada para dizer.
"Primeiro, eu não sei ainda se serei candidato, decidirei oportunamente", reiterou o chefe de Estado, que diz não estar nada preocupado com os moldes em que decorrerá a campanha às eleições de janeiro de 2021. Nem o próprio, nem a generalidade dos portugueses. "Entendo que os portugueses neste momento têm grandes preocupações, e a última preocupação é saber como é que é a campanha eleitoral", acrescentou Marcelo, considerando que isso está "assim em décimo lugar" na lista de preocupações.
"Eu já tive há quatro anos uma campanha muito original, porque não tinha comícios", recordou o Presidente da República, referindo que "achava então que uma campanha com comícios era uma campanha do sistema, de um candidato do sistema".
Para Marcelo "é evidente" que na campanha para as presidenciais de 2021 haverá "uma parte de distanciamento social" devido à doença covid-19, até porque pode haver "um novo surto no outono/inverno", e nesse caso "a campanha tem de ser como são campanhas lá fora, naturalmente reservadas".
"Portanto, as campanhas são aquilo que for possível serem. Como é natural, há prioridades, há coisas mais importantes na vida dos portugueses do que propriamente estar a pensar em campanhas daqui a oito meses" - "Antes disso ainda haverá eleições regionais nos Açores, só depois presidenciais e muito mais tarde autárquicas".