O lobo da Malásia que financiou o filme de DiCaprio

Low Taek Jho está implicado num escândalo de desvio de milhares de milhões de euros de fundos públicos do seu país. Por ironia, cem milhões terão servido para financiar o filme sobre um burlão que não lhe chegava aos calcanhares

Rechonchudo, de óculos, Low Taek Jho não encaixa no perfil do socialite de Nova Iorque. Mas era exatamente por isso que era conhecido este milionário, formado na escola de negócios de Wharton, na Pensilvânia, que aos 24 anos já fazia negócios imobiliários de milhões na Big Apple.

As festas que oferecia, em Nova Iorque e em Las Vegas, eram célebres pelos gastos extravagantes e pela lista de VIP que conseguia reunir. Numa ocasião, em que festejou o aniversário no resort de luxo Wynn, em Las Vegas, teve Leonardo DiCaprio a fazer de DJ, numa festa cuja lista de convidados incluiu nomes como Britney Spears, Kim Kardashian, Leonardo DiCaprio e Jamie Foxx.

De onde tinha saído este excêntrico aristocrata asiático ninguém sabia muito bem. E também ninguém se preocupava em perguntar. O que fazia constar era que a sua família era uma das mais ricas do seu país e isso bastava para convencer os notáveis que não hesitavam em festejar ao seu lado.

Mas agora - que em vez dos paparazzi tem no seu alcance forças policiais de vários países, encontrando-se em parte incerta - começam a revelar-se os segredos da sua fortuna, ligada a um dos maiores escândalos financeiros da Malásia, o seu país natal, no centro do qual está o primeiro-ministro em exercício, Najib Razak.

Low, atualmente com 33 ou 34 anos, está a ser investigado nos Estados Unidos, na Malásia e em Singapura por ter recebido nas suas contas bancárias mais de 482 milhões de euros que se suspeita terem sido desviados de um fundo estatal de investimento, o 1MDB, que era supervisionado por Najib Razak e tinha como fim proporcionar "desenvolvimento económico e social ao povo malaio". Ou pelo menos a uma (muito) pequena parte desse povo.

Low, amigo de Riza Aziz, um dos genros do primeiro-ministro, nunca trabalhou diretamente para o fundo, mas seria o "homem do dinheiro" no alegado esquema em que se suspeita terem sido desviados entre 2,7 e 5,5 mil milhões de euros.

Ironicamente, um dos vários negócios suspeitos de Low é o financiamento, através da Red Granite, companhia liderada por Riza Aziz, da produção de O Lobo de Wall Street. O filme, protagonizado por DiCaprio, que conta a história de um burlão, Jordan Belford, que no final dos anos 1990 foi condenado por ter desviado pouco mais de 100 milhões de dólares (91,15 milhões de euros).

Uma ninharia, comparada com as verbas que terão passado pelas mãos do malaio. De resto, só a produção do filme custou exatamente 100 milhões, o que, a confirmar-se, faz da obra o primeiro caso (conhecido) de um filme sobre um desfalque financiado por outro desfalque.

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