R. Kelly acusado de prender mulheres num culto
O músico norte-americano R. Kelly está a ser acusado de ter criado um culto em que aprisiona mulheres e controla todos os aspetos das suas vidas. Segundo uma investigação especial do BuzzFeed, o autor do êxito I Believe I Can Fly tem várias mulheres presas contra a sua vontade numa casa e decide o que comem, vestem, quando tomam banho e se podem sair dos quartos para falar umas com as outras.
De acordo com as acusações, o músico filma os encontros sexuais com estas mulheres e depois mostra aos amigos, e elas são obrigadas e ficar em pé a olhar para a parede de cada vez que outro homem entra na casa. As mulheres não têm telemóvel e são proibidas de falar com amigos e famílias. Além disso, são obrigadas a chamar Kellly de "Daddy".
Estas acusações vieram a público esta segunda-feira, quando foi publicada uma reportagem do Buzzfeed, que incluía entrevistas aos pais de duas das raparigas alegadamente presas por Kelly, e testemunhos de três mulheres que já fizeram parte desta espécie de culto e confirmaram esta versão dos factos.
Segundo as três mulheres que já viveram com Kelly, há seis mulheres a serem abusadas física e psicologicamente pelo músico em duas casas, uma em Chicago e outra em Atlanta. Todas elas são maiores de idade, já que a idade mínima de consentimento para relação sexual nos estados de Illinois e Geórgia - onde estão as casas - é de, respetivamente, 16 e 17 anos. A mulher mais nova a viver com Kelly terá 18 anos e a mais velha 31.
As famílias das mulheres pediram ajuda às autoridades mas, aos olhos da lei, elas são adultas e podem escolher viver com o músico.
Robert Kelly, de 50 anos, negou veementemente todas as acusações. " Robert está alarmado e perturbado pelas recentes revelações a ele atribuídas. O senhor Kelly nega sem dúvidas estas acusações e irá empenhar-se em perseguir os acusadores e limpar o seu nome", disse um representante do cantor ao site TMZ, especializado em notícias de celebridades.
"Foi como se ela tivesse sido submetida a uma lavagem ao cérebro. Parecia uma prisioneira. Foi horrível". Foi assim que a mãe de uma das mulheres alegadamente presa por Kelly descreveu o último encontro com a filha, que ocorreu a 1 de dezembro. "Abracei-a e abracei-a. Mas ela só dizia que estava apaixonada, e que [Kelly] é aquele que toma conta dela", continuou, segundo o BuzzFeed.
Num comunicado enviado à agência Reuters, o BuzzFeed disse que esta reportagem foi fruto de nove meses de investigação e entrevistas.
"Estou ótima e num lugar feliz"
No mesmo dia em que foi publicada a reportagem, segunda-feira, uma das jovens que vive com o cantor deu uma entrevista ao TMZ em que disse estar bem e "num lugar feliz". Joycelyn Savage, de 21 anos, disse que não sofreu nenhuma lavagem cerebral e que decidiu falar porque a situação ficou fora de controlo.
"Só quero que os meus pais e toda a gente saiba que eu estou ótima e que está tudo bem comigo", disse a jovem.
Joycelyn disse que não está presa contra a sua vontade e que não percebe porque os pais estão tão preocupados. "A última vez que falei com os meus pais foi provavelmente há cinco ou seis meses. Não tenho falado muito com eles porque eles têm provocado muitos problemas na minha vida", continuou a jovem.
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"Dizem que eu fui raptada e que estou presa. Estou com o coração partido com esta situação. E já chegou a um ponto em que está fora de controlo", disse Joycelyn. "Não quero falar com eles por causa do que eles estão a fazer".
Durante a entrevista, Joycelyn não quis dizer onde estava e se estava a partilhar a casa com outras mulheres. "Não vou responder a isso", disse a jovem, quando questionada se estava no estado de Geórgia.
Os pais de Joycelyn deram uma conferência de imprensa na segunda-feira em que disseram que a filha sofre de Síndrome de Estocolmo, ou seja, começou a desenvolver sentimentos pelo agressor e sequestrador.
"A minha filha sofreu uma completa lavagem cerebral ao ponto de dizer tudo o que ele quer que ela diga", disse a mãe de Joycelyn. "Ela não é a mesma Joycelyn que nós conhecemos".
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Na conferência de imprensa também estava Asante McGee, uma mulher que diz ter vivido com o músico durante três anos nas mesmas condições que estas mulheres. Asante diz ter testemunhado a maneira como R. Kelly manipula as mulheres e que conseguiu escapar da casa onde estava no verão passado.
"Tínhamos de pedir permissão para tomar banho, comer, para de ir de um quarto para outro", contou Asante. "Ele realmente manipula-nos por causa de quem é, da sua fama. Estas raparigas estão com ele há tanto tempo que precisam de ajuda. Ele faz-nos acreditar que estão todos contra nós".
R. Kelly é um dos músicos de R&B com mais sucesso, com cerca de 60 milhões de álbuns vendidos e três prémios Grammy. O artista já esteve envolvido em vários escândalos sexuais. Em 2007 foi acusado de pornografia infantil, por se ter filmado a ter relações sexuais com uma adolescente de 14 anos, segundo a BBC.
A relação de R. Kelly com a cantora Aaliyah, que morreu em 2001, também foi criticada. Em 1994, R. Kelly, na altura com 27 anos, casou-se com Aaliyah, que tinha 15 anos, segundo a Fox News.
Nessa altura, Aaliyah lançou um álbum com o título Age aint Nothing But a Number, (a idade é só um número, numa tradução literal para português).