Variante de covid-19 vinda de Itália causou 3800 infeções em Portugal
O início da pandemia de covid-19 em Portugal foi marcado pela disseminação massiva de uma variante da doença vinda da Lombardia, em Itália, que foi responsável por pelo menos 3800 infeções especialmente no norte do país. A informação foi avançada pelo secretário de Estado adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, na conferência de imprensa sobre o balanço do coronavírus em Portugal.
Esta conclusão faz parte do "Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal", um projeto de investigação coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que visou monitorizar a diversidade genética do novo coronavírus, especialmente durante os primeiros meses da epidemia.
João Paulo Gomes, coordenador do estudo, disse que os resultados finais serão apresentados em duas ou três semanas. De acordo com este responsável, a covid-19 terá entrado no país a 20 de fevereiro, oriunda da Lombardia, e terá ficado sem detetar durante uns dez dias.
Um em cada quatro casos de covid-19 no início de abril terá sido causado por esta variante genética, explicou, indicando que esta esteve presente principalmente no norte e no centro do país. As medidas de saúde pública que foram tomadas permitiram estrangular a disseminação massiva para o resto do país, tendo esta variante praticamente desaparecido.
João Paulo Gomes indicou que este é um estudo retrospetivo, cujas conclusões servirão para nos prepararmos para o futuro. "Será importante para percebermos exatamente como chegámos ao ponto a que chegámos e até onde as medidas de saúde pública foram atempadas e eficazes", disse, referindo que será importante para perceber quais as medidas que foram tomadas que terão mais sentido noutra pandemia.
O coordenador do estudo disse ainda que, em toda a região de fronteira, os coronavírus que circulam têm muito que ver com as linhagens que circulam em Espanha, o que não quer dizer que tenham circulado para outros lados do país.
Nesta segunda-feira há registo de mais 425 casos e mais quatro mortes por covid-19 nas últimas 24 horas. Desde o início da pandemia, 1957 pessoas morreram. A taxa de letalidade global é de 2,6%, sendo que acima dos 70 anos é de 13,6%. O número de infetados chega agora aos 74 029.
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A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, indicou ainda na conferência de imprensa que há 51 surtos ativos (isto é, que têm gerado casos nos últimos 28 dias) em 51 estruturas residenciais para idosos. A maioria, 33, na região de Lisboa e vale do Tejo, havendo ainda registo de dez na região norte, dois no centro, três no Alentejo e outros três no Algarve.
Em relação às escolas, há 12 com surtos ativos (seis na região de Lisboa e vale do Tejo, cinco na região norte e uma no centro), que no total envolvem 78 casos confirmados. Graça Freitas indicou contudo que nesta contagem estão apenas os surtos, o que não quer dizer que não haja outros casos isolados detetados nas escolas.
Em relação aos hospitais ou clínicas, Graça Freitas indicou que as autoridades de saúde estão a acompanhar os casos ativos e a observar para ver se existem cadeias de transmissão fora destes locais. A diretora-geral de Saúde deu conta de vários surtos, mas indicou que não se confirma um no hospital de Santarém.
Segundo o secretário de Estado, desde o início da pandemia 4970 profissionais de saúde já estiveram infetados (629 médicos, 1435 enfermeiros, 1401 assistentes operacionais, 166 assistentes técnicos, 167 técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica e 1162 outros). De acordo com o mesmo responsável, 4108 já recuperaram.
A primeira fase de vacinação contra a gripe começou nesta segunda-feira, estando já disponíveis 335 mil doses que serão adminisradas nos lares a utentes e funcionários e às mulheres grávidas.
As autoridades falam num esforço dos centros de saúde que se organizam com os lares e as unidades de cuidados continuados para vacinar os utentes e os profissionais. "Não são todos vacinados no mesmo dia", lembrou Graça Freitas.
"As pessoas não serão vacinadas todas de uma vez", disse também Lacerda Sales, lembrando que neste ano haverá dois milhões de vacinas disponíveis. "É um processo que decorrerá com serenidade até ao final do ano", referiu.
"Além da vacinação nos centros de saúde neste ano, cerca de 10% das vacinas reservadas à população com mais de 65 anos poderão ser administradas em duas mil farmácias de todo o país graças também a um esforço e empenho" da Associação Nacional de Farmácias e da Associação de Farmácias de Portugal, "em regime de complementaridade ao Serviço Nacional de Saúde", avançou o secretário de Estado.
"A pandemia tem-nos ensinado muito sobre união. Tem sido através do esforço de todos que temos conseguido ultrapassar muitos dos desafios", disse Lacerda Sales, indicando que também para enfrentar a gripe haverá união.
Foi lançada entretanto uma campanha de comunicação, em conjunto com a Ordem dos Médicos, a Ordem dos Farmacêuticos e a Ordem dos Enfermeiros, para que ninguém fique sem vacinar neste ano. "Vacine-se por si, vacine-se por todos" é o lema. A segunda fase de vacinação começa a 19 de outubro.