Eram o terror do bairro. Abusaram de uma menina e esfaquearam o pai que a tentou proteger

Suspeitos têm entre 17 e 23 anos. Durante a investigação da polícia, fizeram ameaças de morte e prometeram consumar o crime sexual se a criança falasse.
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Não era a primeira vez que a menina, de 13 anos, era vítima da atenção dos três jovens residentes num bairro social do concelho de Vila Franca de Xira. Mas, no dia 27 de março, em plena luz do dia, a linguagem obscena de que era alvo passou a apalpões.

Os três suspeitos, com idades entre os 16 e os 23 anos na altura do crime, agarraram a criança e chegaram a introduzir as mãos por dentro da sua roupa. A polícia acredita que a violação poderia ter sido consumada se a vítima se tivesse cruzado com os suspeitos mais tarde ou num sítio menos exposto. Porque, apesar de estar acompanhada por um amigo e colega da escola, da mesma idade, isso não impediu que os abusos acontecessem.

Quando se conseguiu libertar dos agressores, a criança fugiu em lágrimas para casa onde contou tudo ao pai, que decidiu confrontar os suspeitos. Esfaquearam-no várias vezes e mesmo com a investigação a decorrer, continuaram a ameaçar pai e filha para que não colaborassem com a polícia.

"O mais velho era o terror do bairro", conta ao DN José Matos, coordenador da secção que investiga a criminalidade sexual na Diretoria de Lisboa e Vale do Tejo da Polícia Judiciária (PJ).

Apesar de os crimes terem acontecido em março, a obrigatoriedade de confinamento devido à pandemia dificultou a investigação e arrastou o processo.

O pai da vítima não foi ouvido na altura pelos inspetores uma vez que uma das "várias" facadas que sofreu lhe atingiu a pleura (perto do pulmão), o que lhe poderia ter causado a morte e obrigou ao seu internamento hospitalar por vários dias.

Os três agressores não eram desconhecidos das autoridades, apesar de nenhum ter estado detido ou ter sido acusado no passado de crimes sexuais.

Eram conhecidos por estarem ligados ao tráfico de droga e a posse de arma, num bairro descrito por José Matos como "complicado" e onde a lei da rua parece sobrepor-se à lei impressa.

O mais novo dos suspeitos tinha apenas 16 anos quando participou nos crimes e já antes tinha estado detido num centro de detenção juvenil, do qual tinha fugido. O mais velho era o líder, ou queria ser o "chefe" do bairro, aterrorizando a vizinhança.

Já tinha sido indiciado por roubo, furtos em estabelecimentos, tráfico de estupefacientes e ameaça com arma de fogo. Não passara, no entanto, um único dia na prisão. Pensou, talvez, que era intocável.

Após os crimes, os três suspeitos fugiram, e apesar de a pandemia ter atrasado as detenções, o confinamento acabou por proteger a criança, que não foi mais à escola e ficou protegida em casa. Mas em clima de medo.

Desde março até à altura das detenções, na passada quinta-feira (3 de setembro), pai e filha receberam ameaças através do telemóvel e das redes sociais. "Diziam que praticariam um crime sexual mais grave contra a criança e chegaram a ameaçar de morte o pai e a criança", contou ao DN o coordenador da PJ.

Após recolhida prova material e testemunhal e com os mandados de busca e detenção na sua posse, às sete da manhã do dia marcado para as buscas, uma equipa da PJ irrompeu no bairro, acompanhada por elementos da PSP - a polícia de proximidade e que por isso conhece bem a zona.

Dois dos suspeitos foram logo detidos, bem como apreendidas armas de fogo ilegais. O terceiro suspeito só foi detido 24 horas depois. Nenhum deles escapou ao radar da polícia.

José Matos acredita que o que esteve em causa nestes crimes foi o "exercício de poder de um dealer que teve a impressão que mandava no bairro" e que poderia ficar impune por qualquer ato praticado, memo que fossem abusos sexuais contra uma menor de idade.

É o único que está detido preventivamente, porque é suspeito de ofensa à integridade física grave - uma vez que o pai da criança correu risco de vida devido aos ferimentos. Os outros dois ficaram obrigados a apresentações diárias na PSP e estão proibidos de contactar as vítimas.

São suspeitos de abuso sexual de uma criança, ofensa, ameaças e posse de arma proibida.

"Foram quatro, cinco meses de terror para pai e filha, mas acredito que com estas detenções possam ter encontrado alguma paz", admite José Matos.

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