Testes regulares a profissionais de saúde, novos circuitos, casos suspeitos. O que diz o Plano de Outono-Inverno?

Ministério da Saúde apresentou, nesta segunda-feira, o documento que mostra como se deve preparar o Serviço Nacional de Saúde para o outono e inverno. Os principais objetivos são "preservar vidas humanas, proteger os mais vulneráveis e preparar respostas para um previsível aumento de casos de covid-19", sintetizou o secretário de Estado adjunto da Saúde.
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A menos de 24 horas de chegar o outono, o Ministério da Saúde revelou, nesta segunda-feira, a tão prometida estratégia para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) lidar com um outono e um inverno particularmente desafiantes. O plano passa pelo aumento dos testes de rastreio à covid-19, que inclui exames regulares a profissionais de saúde; a definição de novos circuitos de tratamento, com Áreas Dedicadas para Doentes Respiratórios, maior colaboração dos cuidados de saúde primários e de hospitalização domiciliária, e ainda um reforço da vacinação contra a gripe e do armazenamento de equipamentos de proteção individual e medicamentos.

O objetivo do Plano da Saúde para o Outono-Inverno 2020-21 é, em poucas palavras, "preservar vidas humanas, proteger os mais vulneráveis e preparar respostas para um previsível aumento de casos de covid-19", descreveu o secretário de estado adjunto da Saúde, António Lacerda Sales, em conferência de imprensa.

O reforço da capacidade de testagem tem sido um dos eixos centrais da estratégia de combate ao novo coronavírus, tendo o Governo já anunciado a duplicação dos meios laboratoriais. Portugal já chegou a fazer mais de 20 mil exames de rastreio nos últimos dias e agora o plano para as próximas estações vem criar a intenção de realizar testes "periódicos e regulares aos profissionais de saúde, designadamente aos profissionais que trabalham simultaneamente no SNS e em ERPI [estruturas residenciais para idosos], outras instituições de acolhimento social e outras unidades de prestação de cuidados de saúde (como as Unidades de Hemodiálise)", aponta o documento.

A ideia é que o resultado destes testes passe a ser conhecido também mais rapidamente, com o aumento da capacidade laboratorial, mas também com a nova utilização de teste rápidos, aprovados e sujeitos ao controlo de qualidade do Infarmed e do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Estes últimos podem diminuir o tempo de espera dos resultados para 60 minutos.

António Lacerda Sales destacou, em conferência de imprensa, que, apesar das autoridades de saúde irem usar testes rápidos, estes "não devem constituir um critério único na avaliação", por causa da "alta probabilidade de testes negativos". Para o secretário adjunto, os exames rápidos podem ser "uma mais-valia" num "contexto de escassez de recursos, de evolução epidemiológica e de situações especificas", tais como surtos em lares ou em escolas, mas é importante não esquecer que "por princípio estes testes de antigénio têm também uma sensibilidade ligeiramente menor do que os testes convencionais que fazemos".

Para além do investimento feito em exames, o Governo tem indicado estar a abastecer a reserva nacional estratégica com equipamentos de proteção individual, dispositivos médicos e medicamentos que podem ser utilizados no tratamento à covid, sendo mencionada no documento a compra do Remdesivir para este mesmo efeito.

"No outono-inverno a gestão de casos suspeitos de covid-19 implica a gestão a montante de todos os casos suspeitos de infeção respiratória aguda, cujo diagnóstico diferencial inclui, entre outros, a infeção por SARS-CoV-2, por vírus da gripe e por vírus sincicial respiratório", aponta o Plano. Quer isto dizer, que a definação de caso suspeito de covid-19 terá de ser adaptada, uma vez que a covid será uma entre várias infeções respiratórias, com sintomas coincidentes com os de outros vírus. Todos os doentes com infeção respiratória podem ser potênciais doentes covid.

Por esta razão, o Plano prevê a adaptação "das principais áreas de covid-19 em áreas dedicadas aos doentes respiratórias, e os circuitos hospitalares de cada uma das respostas". Chamar-se-ão precisamente Áreas Dedicadas para Doentes Respiratórios (ADR), quer nas unidades de cuidados de saúde primários (ADR-C), quer nos serviços de urgência das unidades hospitalares (ADR-SU).

Nestas áreas continua a ser imperativo o respeito pela distância de segurança e "estão em implementação medidas para dotar as ADR com pontos de colheita de amostras adequadas para a realização de testes laboratoriais".

Sempre que possível a triagem de casos suspeitos deve continuar a ser feita de forma não presencial, ou seja, através da linha SNS 24 [808 24 24 24], para facilitar a separarção de circuitos.

Embora obedeça a um planeamento nacional, as Admnistrações Regionais de Saúde (ARS) têm um papel fundamental no que diz respeito aos mecanismos que devem ou não ser acionados em dado momento. "As ARS continuam a acompanhar a identificação e seleção dos locais mais apropriados para a instalação de ADR, nas suas várias tipologias, de forma a garantir a sua rápida ativação sempre que a situação epidemiológica o exigir", refere o documento.

"Nas áreas metropolitanas, será também planeada a instalação de hospitais de campanha, e, nas unidades hospitalares de maiores dimensões, será ponderada a conversão total de edifícios para a instalação de ADR-SU e áreas de internamento para doentes com infeção respiratória aguda e covid-19", acrescentam.

Sobre as unidades que devem receber doentes suspeitos de covid, nomeadamente no que diz respeito aos cuidados intensivos, numa primeira fase (enquanto o SNS conseguir assegurar, sem esforço maior, a resposta) estes podem permancer "em todas as unidades hospitalares". Mas, numa segunda fase, está prevista "uma separação clara" de hospitais covid e não covid, pelo menos, nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.

A pensar nos doentes não covid, as autoridades de saúde proposeram a criação de uma "task-force de resposta não-covid-19", que ficará na dependência do ministério e que definirá "critérios de seleção dos utentes cujo seguimento possa ser assegurado, pelo menos parcialmente, por teleconsulta e telemonitorização". Para além de garantir que o plano de contigência ligado à não covid é cumprido.

Neste ponto, há ainda a referir uma aposta substâncial na articulação com os cuidados de saúde primários, nomeadamente, para atender situações de urgência menos grave, libertando as urgências hospitalares para os casos mais agudos, tal como o DN noticiava em agosto a partir de conversas com os três maiores centros hospitalares do país.

Outra estratégia será o maior recurso à hospitalização domiciliária (quando uma equipa hospitalar vai a casa do paciente).

Sempre que possível serão priviligiados mecanismos de telessaúde e telemonitorização para evitar que os utentes se desloquem às unidades de saúde. Também a medicação dos doentes crónicos deverá ser enviada para casa.

O Governo anuncia ainda que vai criar "hospitais de retaguarda", principalmente nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, para transferir doentes com alta que se mantêm internados por razões sociais.

O objetivo é "maximizar a resposta e a capacidade hospitalar" para a atividade não-covid-19 e, por isso, serão também reforçadas as quipas de gestão de altas em articulação com o setor social para evitar o prolongamento do internamento por motivos sociais.

Dados divulgados pela Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH) em maio apontavam que mais de 1500 camas dos hospitais públicos estavam ocupadas, em 18 de fevereiro, por pessoas que já tiveram alta, mas que se mantinham internadas por falta de resposta extra-hospitalar, correspondendo a 8,7% dos internamentos.

Estas são as linhas gerais de um plano que não está fechado, nem nunca poderá estar, porque deverá ser aperfeiçoado de acordo com as necessidades, ou seja, com a situação epidemiológica do país e ainda com a melhor evidência cientifica disponível em cada momento. Assim, a estratégia será alvo de uma reavaliação bimensal com o contributo do Conselho Nacional de Saúde e do Conselho Económico e Social. A primeira revisão será feita ainda antes de começar o inverno.

Este será o primeiro outono e inverno em que Portugal enfrenta o desafio de lidar com a covid-19 ao mesmo tempo que circulam os vírus sazonais e as temperaturas baixam. É ainda fundamental manter a atividade programada funcional - ao contrário do que aconteceu nos primeiros tempos de pandemia - e recuperar os doentes que não foram atendidos nessa altura.

Tudo isto, em quanto as pessoas se movem, porque um novo período de confinamento é de evitar a todo o custo, segundo o primeiro-ministro.

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