Surto de listeriose: Portugal sem razão para alarme, garante DGS
Não há razão para alarme em Portugal - nem para medidas extraordinárias da parte da Direção-Geral da Saúde (DGS) - em relação ao surto de listeriose que atingiu Espanha e que já infetou mais de 200 pessoas. Esta segunda-feira foi revelado que pode ter sido encontrado o primeiro caso de contaminação pela bactéria fora do país - um turista britânico que esteve de férias em Sevilha. No mesmo dia, a Confederação Espanhola de Negócios Veterinários (CEVE) disse ter detetado dois possíveis casos de listeriose em cães que consumiram carne contaminada.
"A Direção Geral de Alimentação e Veterinária tem alertado os viajantes que tenham como destino as regiões de Madrid e a Andaluzia, para a necessidade de adoção de medidas preventivas, nomeadamente a eliminação de produtos da marca [La Mechá] que eventualmente possam ter adquirido", disse ao DN fonte da DGS, sublinhando que nenhum dos produtos onde foi detetada a origem da contaminação ser comercializado em Portugal - nem mesmo a marca branca da empresa.
Também não têm existido pedidos de informação ou de orientação em relação ao surto de listeriose em Espanha por parte de hospitais ou centros de saúde portugueses, pelo que a DGS considera que "não há necessidade" de adotar outras medidas além daquelas que têm sido tomadas pela Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).
Em comunicado divulgado a semana passada, a DGAV disse estar "a acompanhar a evolução do surto de listeriose detetado a 15 de agosto na Andaluzia, em Espanha" e esclareceu que o alerta emitido pelo RASFF, o Sistema de Alerta Rápido para a Segurança dos Alimentos na União Europeia, "indica que o produto contaminado com Listeria monocytogenes foi distribuído e comercializado exclusivamente em território espanhol".
Nenhuma das principais cadeias espanholas a operar em Portugal - como os supermercados El Corte Inglés ou o mais recente hipermercado Mercadona - comercializam produtos da marca "La Mechá", confirmou a DGAV. Entretanto, "toda a produção da Magrudis desde abril, incluindo a marca "La Mechá", já foi retirada do mercado pela própria empresa, que se encontra neste momento encerrada", esclarece ainda a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária.
Também a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) disse estar "a acompanhar o surto de intoxicação alimentar, causado pela bactéria Listeria monocytogenes (listeriose) associado ao consumo de carne em Espanha, confirmando que a AESAN - Agencia Española de Seguridad Alimentaria y Nutrición, confirmou após rastreabilidade efetuada pelas autoridades sanitárias não ter sido comercializado este produto em Portugal, encontrando-se o surto circunscrito à região da Andaluzia.
A ASAE recomenda a quem possa ter comprado em Espanha o produto "La Mechá" que "tome medidas preventivas de destruição daqueles produtos" E esclarece que "as autoridades continuam a monitorizar a situação".
Em Portugal, a listeriose humana é uma doença de notificação obrigatória desde 2014, através do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SINAVE).
O turista inglês a quem foi diagnosticada infeção por listeriose terá ingerido carne da marca "La Mechá". Ao El Mundo, o diretor do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências de Saúde (Ccaes), Fernando Simón, confirmou o caso, acrescentando que o homem ficou doente depois de ingerir a carne contaminada e chegou a ser visto por um médico num centro de saúde de Sevilha. Já em França, acabou por ficar internado "um ou dois dias", tendo depois recebido alta e seguido para Inglaterra, segundo declarações de Fernando Simón à rádio Cadena SER.
Também esta segunda-feira, a Confederação Espanhola de Negócios Veterinários (CEVE) disse que podem ter sido encontrados dois possíveis casos de listeriose em cães que consumiram carne contaminada.
O primeiro caso é o de um galgo de 10 anos que vive com uma família em que vários membros se encontram hospitalizados em Málaga por causa do surto de listeriose, e o segundo caso foi detetado em Madrid e trata-se de um cão que comeu do lixo a carne contaminada que os donos tinham deitado fora após perceberem que pertencia ao lote afetado.
Citada pela imprensa espanhola, a presidente da CEVE, Delia Saleno, alertou que estes podem não ser casos isolados de animais afetados pelo surto.
"Infelizmente é provável que sejam mais e que nem todos sejam detetados", afirmou, criticando a falta de "protocolos oficiais de ação quando há casos suspeitos" como este. Os responsáveis pela associação criticaram o facto de o alerta de saúde para este surto de listeriose não ter incluído "avisos sobre os riscos envolvidos no consumo de alimentos contaminados por animais de estimação".
Um porta-voz de CEVE disse ainda que a população não está a ser informada do risco que existe da bactéria poder ser disseminada através de animais - ainda que "o contágio direto com pessoas seja difícil", mas poderá acontecer, de forma indireta, se forem manusear alimentos sem terem lavado as mãos de forma adequada, esclareceu.
A listeriose é uma infeção causada pela bactéria 'Listeria monocytogenes', habitualmente associada ao consumo de alimentos contaminados. Apesar de pouco frequente, a infeção pode ser grave, especialmente em imunodeprimidos e recém-nascidos. É uma infeção grave, com uma taxa de mortalidade de 30% (em doentes imunodeprimidos e em idosos ocorrem, por vezes, infeções graves como sépsis, meningite ou encefalite).
Ao contrário de outras bactérias alimentares, a Listeria sobrevive e multiplica-se em baixas temperaturas.
Segundo o site da Direção-Geral da Saúde, a maioria dos adultos saudáveis não desenvolve doença após infeção. No entanto, a listeriose, à semelhança de outras doenças transmitidas por alimentos, manifesta-se habitualmente por uma gastroenterite com febre, náuseas e diarreia.
A doença tem um período de incubação médio de 3 semanas, podendo variar entre 3 e 70 dias.
A bactéria pode ser transmitida no contacto direto com animais (reservatórios); consumo de alimentos e produtos alimentares contaminados, de origem animal e vegetal, processados ou não; de mãe para feto (vertical) ou durante a passagem pelo canal de parto infetado.
Os alimentos e produtos alimentares contaminados, mais frequentemente associados à aquisição de infeção, incluem: carne crua de vaca, porco ou aves; crustáceos, mariscos ou moluscos; leite e derivados não pasteurizados; frutas e vegetais crus ou mal lavados.
Pode ainda ocorrer contaminação cruzada em alimentos processados, nomeadamente charcutaria e congelados.