Segurança desaparecido há três meses. PJ faz novas buscas em Pombal
A Polícia Judiciária de Coimbra continua a investigar o desaparecimento de Mário Sousinha, o segurança que foi visto pela última vez há três meses, em Pombal, sem que se vislumbre o que lhe aconteceu. O caso passou agora para o departamento de homicídios, "apesar de não existir, ainda, qualquer indício de crime", disse hoje ao DN o inspetor Camilo Oliveira, justificando a mudança da investigação com a possibilidade de, naquele departamento, a PJ ter acesso "a outros elementos e a outros meios".
Assim se percebe que, na semana passada, a polícia tenha feitos novas buscas em Pombal. O DN sabe que dois inspetores se fizeram acompanhar de Elsa Martins, a companheira de Mário Sousinha, numa busca aos locais onde habitualmente o casal ia passear os cães. Esse é um exemplo de como a PJ alargou o campo de ação.
O inspetor Camilo Oliveira - que coordena a Unidade de Crimes contra as Pessoas - confirma que, logo na altura do desaparecimento, foram feitas buscas. No entanto, "agora fizemo-las com outros meios", sublinha, mesmo que até à data nenhuma das diligências policiais tenha permitido chegar a qualquer conclusão sobre o desaparecimento de Mário. "A verdade é que já são três meses. E quando a pessoa não aparece, adensa-se a possibilidade do desaparecimento não ter sido voluntário. Neste momento, todas as hipóteses estão em aberto", conclui o inspetor.
Foi já o departamento de homicídios que, no mês passado, interrogou (nas instalações da PSP de Pombal) os amigos de Mário Sousinha. André Pereira - antigo colega de trabalho - foi um dos inquiridos, assim como Paulo Adão. Os dois seguranças têm sido dos amigos mais preocupados com o desaparecimento de Mário, de tal forma que estranharam a demora no contacto dos investigadores - justificada pela alteração no domínio da investigação. No caso de André - que acompanhara de perto a crise conjugal de Mário e Elsa, quando ela lhe descobriu uma alegada traição - os inspetores foram mais longe: levaram dois telemóveis que foram usados por Mário nos dias anteriores ai desaparecimento.
"Quando a Elsa descobriu a traição destruiu-lhe o telemóvel, que ficou em peças. Nessa altura eu emprestei um outro telemóvel ao Mário, que ele usou até ao dia 12 de outubro (desapareceu a 16)", contou ao DN o amigo André. Nesta altura a PJ está já na posse de todos os dados inerentes às chamadas efetuadas e recebidas pelo segurança.
Paula Sousinha, a irmã que continua à procura de respostas desde há três meses, confirmou ao DN os contactos constantes com os inspetores da PJ. "Eu nesta altura já não sei o que hei de pensar. A partir do momento em que o caso passa para os Homicídios uma pessoa já pensa o pior". André Pereira insiste no quão estranho é "o Mário desaparecer sem avisar a irmã, a quem era tão chegado, e a mãe, que sofre de demência e está num Lar". O antigo colega e amigo até consegue compreender que, se por acaso fosse um desaparecimento voluntário, "o Mário não dissesse nada à companheira, porque estavam numa situação de rutura. Mas não dizer à irmã? Não bate certo".
Mário Sousinha tem 52 anos, é funcionário de uma empresa de segurança e criador de cães. De acordo com os relatos conhecidos, terá saído de casa "alterado", depois de uma discussão com a companheira, Elsa Martins, com quem vivia há cerca de dois anos, na aldeia da Charneca (Pombal). Na queixa que a própria viria a apresentar na GNR, cinco dias depois, a 21 de outubro, consta que o fez "de livre e espontânea vontade". Alegadamente saiu de casa com 200 euros no bolso, a pé, só com a roupa que vestia.
Horas antes, o colega Paulo Adão falou com ele ao telefone, entre as 19:15 e as 20 horas. Nesse dia, Mário fez o último turno, das 20:00 até à meia-noite, Pombal Fashion, um complexo de lojas para revenda. Foi a última vez que se apresentou ao serviço.
Quando o DN noticiou o caso, um mês depois, a companheira confirmou a discussão, na véspera do desaparecimento. " Eu terminei o relacionamento e ele foi-se embora só com a carteira e o telemóvel". Elsa Martins justificava que não estranhou a ausência prolongada. "Aquela cabeça não funciona bem. Ele já tinha tentado fazer muitas asneiras", afirmou, sem no entanto especificar quais. Mais tarde, a irmã de Mário confirmava ser frequente ele apresentar um quadro depressivo, e por isso tomar vários medicamentos. Elsa acredita que, antes da discussão, Mário pode ter ingerido vários anti-depressivos, o que justificaria "o estado alterado".
Já Paula Sousinha não acredita que, se o irmão estivesse vivo, não tivesse dado sinais disso, para a tranquilizar. "Ele às vezes precisava de se afastar, mas nunca deixou de dar notícias, nem nos piores momentos". A última vez que falaram ao telefone foi a 16 de outubro, durante a manhã - quando supostamente Mário já deixara a casa da companheira.
Paula Sousinha recebeu uma chamada dele, que estranhou: ambos eram testemunhas num julgamento no Tribunal de Alcobaça, de onde a família é natural, e Mário ligou à irmã para lhe dizer que não podia ir. "Disse-me que não conseguia ir, mas não especificou porquê. Nessa altura pareceu-me normal, o tom de voz, tudo, mas depois liguei-lhe mais tarde e já não consegui falar com ele. Comecei a achar estranho ligar-lhe tantas vezes e ele não devolver a chamada", recorda. Mais tarde, já depois de participado o desaparecimento, e através da PJ, Paula soube que a última vez que o telemóvel do irmão emitiu sinal foi no dia 17, num pinhal próximo do local onde criava e tratava cães.