Sardinha boa e mais barata à procura de consumidores
Os pescadores saíram esta segunda-feira para a pesca da sardinha, depois de uma paragem de sete meses. E, tal como previam, as redes vieram cheias e com bom peixe, o que deu para abastecer as lotas nacionais. Até 31 de julho vão poder pescar 6 300 toneladas deste peixe.
Humberto Jorge, presidente da Anopcerco (Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco) diz que a sardinha ainda não dá para pingar o pão - isso só depois do São João, diz o ditado popular -, mas já é boa. "A partir daqui, será sempre a melhorar", acrescenta.
E, como é fácil a captura de bom peixe, o preço do quilo baixa, e os profissionais do setor esperam que contribua para um maior consumo, apesar de estarem anulados os arraiais dos santos populares.
A sardinha pescada esta segunda-feira foi vendida na lota entre 70 cêntimos e 1,50 euros, dependendo das suas características e dimensão, mas o custo final ao consumidor é bastante mais elevado.
"As nossas expectativas de venda nem são altas nem baixas, é uma situação totalmente nova. Sabemos que há constrangimentos no mercado, não há tantos turistas e os restaurantes estão com restrições devido à covid-19, mas acreditamos que o povo português vai consumir sardinha e haverá uma grande procura", explica Humberto Jorge, salientando: "O que sabemos é que há muita sardinha, há pescadores e tomaremos as medidas necessárias para regular a oferta de acordo com a procura".
Os pescadores - 2500 em todo o país para 115 traineiras, dados da associação -, não se queixam da falta de peixe, mas dos limite de captura e dos danos que a pandemia possa trazer ao setor. Tanto mais que os arraiais dos santos populares foram anulados.
Humberto Jorge salienta que os meses de verão (junho, julho e agosto) são os de maior consumo, em especial junho, precisamente o mês dos santos populares. "A falta de arraiais vai prejudicar, não só porque são situações pontuais de aumento do consumo da sardinha, mas também porque promovem esse consumo. No entanto, acreditamos que as pessoas vão consumir na mesma".
Em junho e julho, os pescadores poderão pescar 6 300 toneladas de sardinhas, quota que será revista, esperando os marinheiros da pesca do cerco (rede que é largada de modo a cercar as presas, envolvendo o peixe pelos lados e por baixo) que o período seja alargado, permitindo a pesca de maiores quantidades.
Defendem que a pesca da sardinha possa ocorrer até novembro ou dezembro, meses em que há uma maior captura de peixe, cujo destino nessa altura do ano é a indústria conserveira. Já nos meses de verão, consome-se mais peixe fresco.
O Diário da República, despacho 5713-A/2020, determinou a reabertura da pesca da sardinha a partir das 00:00 horas do dia 1 de junho e até às 24:00 horas de 31 de julho de 2020.
O Governo definiu os dias 22 de junho e 17 de julho para a Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos informar quais as quantidades já utilizadas, podendo "alterar os limites impostos para a pesca "em função das necessidades de gestão da pescaria e da evolução dos dados", diz o despacho.
Pelo seu lado, os pescadores prometem fazer essa avaliação no dia-a-dia, ajustando a oferta à procura deste peixe.
Será avaliado em que moldes é alargado o período de captura e quais serão as quantidades. Essa decisão obedece às campanhas de cruzeiro científico, a última realizada entre fevereiro e abril, para avaliar a rota de crescimento e a recuperação ou não do stock de sardinha na costa portuguesa.
"Esperamos que as possibilidades de pesca sejam revistas em alta em função da melhoria de recursos confirmada pelo cruzeiro científico da primavera. Deve ser permitido pescar a maior quantidade possível e por um período de tempo mais alargado, até novembro ou dezembro", defende o representante dos pescadores.
Na costa portuguesa, a reprodução ocorre ao longo da plataforma continental durante um período alargado, outubro a abril, sendo mais intensa entre dezembro e fevereiro", explica o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). "Na região Ocidental Norte, a postura é mais intensa durante o outono/inverno enquanto na região Sul a época de postura é mais prolongada, atingindo maior intensidade antes da observada no Norte".
O ano passado foram capturadas 9 700 toneladas de sardinha nas águas nacionais e importadas mais do dobro (21 mil) de Espanha e de Marrocos, este último peixe sobretudo para a indústria (Estatísticas da Pesca 2019, INE).