SAMS encerra hospital, despede funcionários durante um mês mas garante vínculos laborais

A 20 de março havia 5 médicos infetados e um enfermeiro. Na semana passada, o número passou para 13. O número está a aumentar, mas trabalhadores não têm dados concretos. Direção decidiu encerrar o hospital em Lisboa e clínicas de atendimento. <em>Lay Off</em> para todos os funcionários a partir de amanhã e durante um mês.
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A denúncia parte do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS), depois de ter estado reunido durante a manhã com a diretora dos recursos humanos do hospital dos SAMS, nos Olivais, em Lisboa. O hospital vai encerrar, as clínicas de atendimento principais e periféricas na capital e no Porto também, e todos os funcionários vão ser 'despedidos' por um mês. Segundo o sindicato, a indicação que têm é que a lei que regulamenta o lay off entra em vigor já amanhã.

Nesta segunda-feira, fontes médicas garantiram ao DN de que há dois médicos do SAMS internados em cuidados intensivos em estado crítico, um no Hospital Santa Maria e outro no Hospital São José. Há um terceiro internado, mas apenas sob vigilância. Não se sabe também ao certo o número de doentes infetados que estariam internados naquela unidade e que ali se dirigiram para fazer exames.

Mas segundo o sindicato, a direção da unidade decidiu mesmo fechar a porta e avançar para o lay off simplificado depois de ter percebido que haveria mais funcionários infetados com covid-19 do que aqueles que inicialmente estavam identificados. Ao DN, o médico João Proença do SMZS explicou que a o hospital manteve os médicos todos em exercício de funções, mesmo depois de se saber que havia cinco infetados e um enfermeiro.

O número começou por ser pequeno, na semana passada a indicação que havia era de que já havia tinham passado para 13 os infetados. Esta segunda-feira (23 de março), e segundo afirmou a médica do SMZS, que esteve reunida com a diretora dos recursos humanos, é que este número é muito superior, pois estão agora a ser detetadas outras cadeias de transmissão. No entanto, a direção da unidade não quis avançar com números.

Para o sindicato, o facto de os médicos terem continuado a exercer funções está a ter "consequências drásticas" com aumento exponencial de casos, "condenando veemente a atitude irresponsável da direção do SAMS". O DN sabe que hoje ainda houve funcionários a trabalhar, mas que o regime de lay off simplificado só entrará em vigor amanhã.

O DN tentou entrar em contacto durante o dia todo com a direção dos SAMS, mas sem sucesso. Ao final da tarde a administração do Serviço de Ação Médico-Social do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas (SAMS) enviou um comunicado para a Lusa a confirmar o encerramento e o regime de lay-off, argumentando que a melhor solução" foi aplicar "as novas regras de regime simplificado de lay-off criadas pelo Governo" para fazer face à propagação da epidemia de covid-19 em Portugal e garantir a "salvaguarda da segurança e saúde" de profissionais e doentes. A administração garante ainda que manterá os vínculos laborais. "Os colaboradores do SAMS não deixarão de ter uma fonte de rendimento assegurada pelo SAMS nem perderão os seus vínculos contratuais, tal como foi insistentemente referido pelo Governo", afirma.

No mesmo comunicado, a administração não adianta quantos médicos e outros profissionais estão ainda no hospital a garantir a assistência aos doentes internados, confirmando que três dos clínicos que trabalhavam no SAMS e que foram infetados "estão internados e inspiram cuidados".

Na semana passada, a própria direção do SAMS informou os seus utentes de que iria encerar alguns serviços, nomeadamente as urgências e que estes teriam de procurar outros serviços. A funcionar ficavam apenas os serviços que tinham doentes internados. Ao todo, eram 26. Guida da Ponte, do SMZS, disse ao DN que foi colocada a pergunta sobre o que iria acontecer aos doentes, mas "não houve resposta".

O DN conseguiu apurar já durante a tarde que foram dadas ordens para dar alta aos doentes que poderiam sair e para transferir para outras unidades os que se encontravam a precisar de cuidados.

Neste momento, há já a circular uma petição por parte dos beneficiários dos SAMS a solicitar à comissão executiva que mantenha em funcionamento, pelo menos, o Centro Clínico de atendimento em Lisboa, para que aí se possam dirigir as situações urgentes ou então outra solução.

Uma beneficiária deste sistema referiu ao DN que "com todos os serviços encerrados ficamos sem qualquer apoio na área dos cuidados de saúde e numa situação tão crítica como a que vivemos agora. Eu, por exemplo, não tenho médico de família, não vou ao centro de saúde porque só uso e há muitos anos os serviços dos SAMS".

Na petição que está circular e que até agora já tinha mais de 800 assinaturas, os beneficiários referem que "este corte de ligação dos beneficiários aos seus médicos" coloca em causa "a saúde de milhares de cidadãos que terão de recorrer já frágil Serviço Nacional de Saúde". Neste texto, é ainda referido que a decisão da comissão executiva leva também "a uma ameaça lamentável de despedimento de funcionários.

O Centro Clínico de Lisboa, junto ao Corte Inglês, está fechado, bem como as clínicas periféricas regionais. O encerramento foi anunciado pela própria comissão executiva dos SAMS. Agora, foram suspensas todas as funções no hospital. Pelo menos, durante um mês, segundo foi afirmado ao SMZS, mas os trabalhadores não sabem.

Hoje, as ligações telefónicas atendidas eram apenas da linha de apoio às consultas a partir de um call center, já que as centros clínicos estão encerrados. Daí não haver ninguém na direção que possa atender, referiu ao DN uma das assistentes do call center.

A situação de haver cinco médicos infetados surgiu a 16 de março, também por denúncia do SMSZ. Na altura, havia cinco médicos que tinham estado em contacto com doentes infetados. Na altura, refere o dirigente do sindicato, "a direção da unidade não quis avançar logo com a quarentena de profissionais de saúde e manteve em exercício de funções clínicos que estiveram em contacto com infetados".

Mas mais tarde, a direção do SAMS vem informar que os centros clínicos encerravam e a alguns serviços do hospital também, mantendo em funcionamento os que ainda registavam doentes internados. No comunicado emitido, os SAMS justificavam esta decisão pelo número de pessoas infetadas com covid-19 e com o facto de estarem a cumprir as orientações dadas pela Direção-Geral da Saúde.

Mas agora acaba por fechar o hospital também. Na semana passada, havia 13 funcionários do SAMS infetados, alguns internados, um médico em estado em grave, que está a ser acompanhado em Santa Maria.

Hoje mesmo, na conferência de imprensa da DGS, foi anunciado que há 165 profissionais infetados, 82 médicos e 37 enfermeiros.

O SMSZ critica esta atitude do SMS, sobretudo porque vem de um sindicato, o Mais Sindicato, que constitui a entidade patronal dos SAMS, anunciando que irá utilizar todos os meios aos seu alcance para salvaguardar não só a proteção dos seus associados como pedir a responsabilização da atuação dos SAMS.

Carlos Silva, líder UGT, central a que pertence o Sindicato dos Bancários Sul Ilhas (SBSI), explicou ao DN que está a acompanhar a situação - apesar de ser um assunto exclusivamente da competência do SBSI, e da direção da comissão executiva do SAMS, liderada por Rui Riso. Admite ser uma situação complicada, porque envolve um sindicato que também é patronato e que tem mais de mil trabalhadores, mas que teve a garantia de que "não havia condições para continuarem de porta aberta". Aliás, a explicação que lhe foi dada, é que o encerramento acontecia por estarem a seguir as indicações da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

O líder da UGT disse acreditar que a decisão tem a ver com a salvaguarda dos beneficiários do SAMS e dos seus profissionais, esperando que toda a polémica que tem surgido com esta questão e os sindicatos médicos "Tenha a ver com o covid-19 e não com outras contendas sindicais". Carlos Silva comentou ainda que a questão do lay offsimplificado está consignado na lei e que os trabalhadores irão ser receber a sua remuneração pelo SAMS e pelo Estado

Nesta segunda-feira, ficou a saber-se que há já 2060 casos infetados e 23 mortes por covid-19

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