Rosa Grilo foi sempre suspeita: as pistas que levaram à detenção

Era a única testemunha da alegada saída de Luís Grilo para um treino de bicicleta. Chamadas telefónicas, mensagens trocadas e registos de GPS contavam uma versão muito diferente daquela que a mulher do atleta assassinado defendia
Publicado a
Atualizado a

"Não tenho nada a ver com isso", disse Rosa Grilo, 43 anos, mulher de Luís Grilo, sobre a morte do atleta encontrado morto em Avis, vítima de "crime violento", segundo descreveu a Polícia Judiciária. Foi detida esta quarta-feira, juntamente com um homem de 42 anos, com quem mantinha uma relação próxima, diz a PJ, que aponta indícios da prática de "crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida". Apesar de ter comunicado o desaparecimento do marido a 16 de julho, de ter participado nas buscas para o encontrar - que duraram 39 dias - e de se dizer "em choque" com a forma como o companheiro tinha morrido, Rosa Grilo esteve sempre na mira dos investigadores.

Ninguém viu Luís Grilo sair de casa. Treino não era habitual

O corpo do engenheiro informático foi encontrado no lugar de Covões, a vinte quilómetros de Benavila (Avis), onde Rosa Grilo tem família: tios e uma sobrinha, sua afilhada, e a 140 quilómetros do lugar onde, segundo a mulher, teria desaparecido a 16 de julho: aldeia de Cachoeiras, Vila Franca de Xira. Teria saído para um treino de bicicleta e nunca mais regressara. Rosa era a única testemunha da saída de Luís Grilo, mais ninguém o tinha visto sair, e o próprio treinador do atleta achou estranho o tipo de treino. O engenheiro não gostava de pedalar em estrada - considerava perigoso - e tinha regressado de uma prova dura de triatlo, na Alemanha, e por isso deveria estar a descansar. Rosa insistia: tinha saído de casa, dito que regressaria em duas horas, mas não voltara. Ligou à GNR e comunicou o desaparecimento.

Um acidente: a teoria de Rosa mesmo depois do cadáver ter sido encontrado

Rosa Grilo repetiu-o desde o primeiro dia: o marido teria provavelmente sofrido um acidente. Quando dezenas de amigos do atleta colocaram cartazes a comunicar o seu desaparecimento, Rosa participou nas buscas. O telemóvel de Luís Grilo havia de ser encontrado a poucos quilómetros de casa, junto a uma ribanceira, o que sustentaria a tese da mulher. Mas ninguém encontrava o corpo. Nem a bicicleta. Durante os 39 dias em que Luís Grilo esteve "desaparecido" - na verdade estava morto desde o dia 15 de julho, um dia antes de Rosa Grilo comunicar o desaparecimento à GNR -, a mulher nunca fechou a loja de informática onde trabalhava como administrativa, o que fez aumentar as suspeitas da PJ sobre o seu envolvimento. Nem mesmo quando o cadáver foi encontrado, a 24 de agosto, desistiu da hipótese de acidente - mas passou a alegar que podia ter sido um acidente e que depois algo "correra mal".

Dinheiro. Amor. Crime passional

Familiares, amigos, clientes e fornecedores garantiram ao DN que Luís Grilo não vivia nenhum drama financeiro. "Houve uns problemas com a Segurança Social, mas o habitual nas pequenas empresas", disse um amigo e cliente da empresa do atleta, Paulo Tomás, proprietário de uma oficina em Alenquer, na altura do funeral do atleta. Foi um dos amigos que descreveu a relação de Luís e Rosa Grilo como "muito carinhosa" e sublinhou a "adoração" do atleta pelo filho. "Como é que logo o Luís pode ter sido vítima de um crime?", perguntava. O mesmo afirmavam os familiares do casal, que não conheciam nenhum problema entre os dois.

Rosa Grilo afirmou que ela e Luís Grilo tinham os "problemas normais de um casal", mas a PJ sabia que a relação já não estava estável, que até dormiriam em quartos separados. A mulher foi detida juntamente com um cúmplice, um homem de 43 anos, com quem mantinha uma relação próxima, diz o comunicado da PJ. "As diligências efetuadas pela Polícia Judiciária, com a relevante contribuição do Laboratório de Polícia Científica, permitiram concluir o envolvimento de ambos os detidos, os quais mantinham uma relação próxima", diz o comunicado.

GPS, mensagens e chamadas telefónicas contaram o que a mulher escondeu

Foi através de localizações de GPS, registo de chamadas telefónicas e de mensagens que os investigadores chegaram à conclusão que Rosa Grilo não estava a dizer a verdade. "As pessoas esquecem-se que nada é verdadeiramente apagado. Há sempre registos", disse fonte próxima da investigação ao DN. Apesar de Luís Grilo perceber de tecnologia - era engenheiro informático -, a mulher desconhecia até os pormenores mais simples do trabalho do marido, como contou ao DN um dos fornecedores da empresa de informática que pertencia ao casal.

No entanto, apesar daquilo que revelavam os meios eletrónicos, era necessário encontrar "fortes indícios" do envolvimento de Rosa e do seu cúmplice. O que terá acontecido esta quinta-feira à tarde, quando durante quatro horas os inspetores estiveram a recolher provas na casa de Rosa e Luís Grilo. A polícia diz que recuperou "a arma de fogo presumivelmente utilizada na prática do homicídio", bem como "outros elementos de relevante valor probatório".

Os detidos serão presentes na sexta-feira a primeiro interrogatório judicial, no qual serão sujeitos à aplicação das medidas de coação processual

Vários interrogatórios já demonstravam linha de investigação

A PJ interrogou a mulher de Luís Grilo pelo menos três vezes, o que não é habitual fazer com familiares, a não ser que sejam suspeitos. O objetivo era "apanhar uma contradição", sabe o DN. Rosa Grilo foi interrogada no dia seguinte ao funeral do marido, quando se preparava para ir passar o fim de semana para fora. Levava consigo o filho de 12 anos, mas os investigadores insistiram para que fosse novamente à sede da PJ, em Lisboa, mesmo com a criança. Apesar de não ter demonstrado grande interesse em saber pormenores do crime, Rosa voltou a insistir que o marido não tinha inimigos e que não percebia por que razão é que o corpo de Luís Grilo tinha aparecido em Covões, tão perto do lugar onde tinha família. Família e amigos disseram mesmo que o corpo poderia ter sido depositado ali para "incriminar" a mulher, a PJ tinha outros dados, que nunca revelou. Até esta quinta-feira, quando o comunicado foi claro: foram detidos "uma mulher, de 43 anos, e um homem, de 42, por fortes indícios da prática de crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida".

Rosa Grilo e o homem envolvido no crime serão presentes na sexta-feira a primeiro interrogatório judicial, no qual serão sujeitos à aplicação das medidas de coação processual.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt