Recorde: apreensões de haxixe este ano já foram mais do que em todo 2019
Um controlo mais apertado por parte das autoridades espanholas, cujo país é o destino da maior parte do haxixe proveniente de Marrocos, é a razão apontada pelos especialistas para o desvio do tráfico para Portugal. Mas as autoridades estão atentas e, desde início deste ano, segundo dados ainda provisórios da Polícia Judiciária (PJ) - que concentra as suas próprias apreensões, as da GNR e as da Polícia Marítima - desde início deste ano já foi travado o desembarque de cerca de 7,5 toneladas de fardos de haxixe, cujo destino era o mercado português e europeu.
Estes 7500 quilos significam que, só em cerca de 35 dias de 2020 foi apreendido mais do dobro do haxixe que chegou às mãos das polícias em 2019 - 3,5 toneladas (uma descida de 65% em relação ao ano anterior, com cerca de 15 toneladas, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna).
Logo no início de janeiro, numa operação conjunta da PJ com a Marinha, foi intercetado um pesqueiro com 107 fardos de haxixe (3,5 toneladas). Na semana passada, perto de Olhão, os pescadores alertaram as autoridades quando avistaram dezenas de fardos de haxixe à deriva junto à praia - o que terá sido uma tentativa fracassada de desembarque e que terá levado ao abandono da mercadoria, contabilizada depois em perto de duas toneladas. Esta semana, numa operação conjunta da GNR e da PJ foram mais de duas toneladas também na costa algarvia, na praia do Alemão, perto de Portimão.
Fonte autorizada da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE) da PJ diz que "não há motivo para alarme", não vendo neste recorde de apreensões uma possível mudança de rota dos traficantes. "Estas organizações criminosas vão adaptando as suas rotas consoante têm maior ou menor controlo num ou outro ponto de entrada", explica, recordando que Espanha tem endurecido de tal forma as medidas que até "proibiu a utilização das lanchas rápidas que são mais usadas pelos traficantes".
Questionada sobre se haverá alguma relação com os casos recentes (em dezembro e no final de janeiro) de desembarques de imigrantes marroquinos ilegais e se poderá haver organizações criminosas a dedicarem-se a ambos os tráficos, tendo em conta as maiores limitações em Espanha, a mesma fonte oficial diz que até ao momento a PJ "não possui informações que indiciem a existência de ligações entre organizações criminosas dedicadas ao tráfico de haxixe, designadamente por via marítima, a redes de imigração ilegal". No entanto, sublinha, "trata-se de um cenário a que os nossos investigadores estão muito atentos". Note-se que a apreensão na praia de Olhão aconteceu no dia a seguir aos imigrantes marroquinos terem sido detetados.
Segundo a PJ, "e de acordo com diversos relatórios, designadamente de organismos internacionais, Marrocos continua a ser um dos principais produtores mundiais, senão o principal, de haxixe". Um documentário da BBC emitido em setembro do ano passado mostrou que muitos dos marroquinos evolvidos geralmente têm cidadania europeia. Milhões de toneladas de carga ilegal são exportadas a partir do porto da Tanger. Também são intercetados muitos barcos ao longo do estreito de Gibraltar, que partem de áreas costeiras menos controladas.
A BBC referia que uma das rotas para o haxixe chegar a Amesterdão era pelo porto de Antuérpia. A droga vinha das montanhas marroquinas até uma localidade perto de Casablanca, de onde era transportada para Portugal, e daí partia num navio até Antuérpia. Este processo levava 5 dias.
Esta droga, "à semelhança do que ocorre noutros países europeus, apresenta índices de prevalência de consumo significativamente superiores quando comparamos com outros tipos de drogas ilícitas como é o caso da heroína, da cocaína e das drogas sintéticas". assinala a PJ.
A UNCTE explica que o abastecimento em Portugal chega através de Espanha (como se viu no caso que envolveu o agente da PSP detido no ano passado) ou diretamente de Marrocos. "Importa referir que o território nacional, face à sua proximidade geográfica com o Reino de Marrocos, tem sido utilizado, ao longo dos anos, por diferentes organizações criminosas como ponto de trânsito de importantes quantidades de haxixe que têm como destino final outros países europeus. Nestes casos, as quantidades de haxixe transportado ascende frequentemente a várias toneladas em cada operação de tráfico", assinala a mesma fonte desta unidade.
Num primeiro momento, acrescenta, "a droga é transportada por via marítima até à nossa costa ou a um porto nacional, seguindo depois por via terrestre até aos países de destino final. Por regra, as organizações responsáveis por estes transportes são estruturas criminosas com grande capacidade económica, não sendo comum que entre os seus principais responsáveis figurem indivíduos de nacionalidade portuguesa, que normalmente são recrutados para prestarem apoio logístico".