Amadora com cem camas da Cruz Vermelha para isolamento de doentes covid-19
Em Portugal, nas últimas 24 horas, morreram mais 14 pessoas e foram confirmados mais 297 casos de covid-19, um aumento de 1% e de 0,9% nestes dois indicadores em relação a sábado. Segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS), deste domingo (31 de maio), no total, desde que a pandemia começou registaram-se 32 500 infetados, 19 409 recuperados (mais 223) e 1410 vítimas mortais no país.
Há ainda 474 pessoas internadas, menos 55 que no sábado, das quais 64 estão nos cuidados intensivos (menos dois que na véspera). Em vigilância pelas autoridades de saúde estão 27 924 (mais sete), sendo que 2016 aguarda o resultado dos testes (menos sete).
Dos 297 novos casos, 268 foram registados na região de Lisboa e Vale do Tejo, que registou 11 142 casos desde o início da pandemia. Há ainda mais 21 casos na região do Norte (16 760), cindo na região Centro (3744) e três na região do Algarve (370). Alentejo, Açores e Madeira mantêm os mesmos números.
Em relação aos 14 mortos nas últimas 24 horas, 11 deles foram registados na região Norte e os restantes três em Lisboa e Vale do Tejo. Entre as vítimas mortais está uma mulher na faixa etária dos 20 aos 29 anos, com a ministra da Saúde a indicar que era "uma situação de doença complexa associada à covid-19".
A maioria dos óbitos foi contudo de mulheres com mais de 80 anos (oito casos), havendo ainda quatro homens mortos nesta faixa etária. A última morte foi registada na faixa etária dos 70 aos 79.
A taxa de letalidade global de 4,3% e de letalidade acima dos 70 anos de 17,1%, indicou a ministra da Saúde, Marta Temido, na conferência de imprensa.
Em média, desde meados de maio, que se registam nesta região mais de 180 casos por dia, sendo que na última semana, representam mais de 85% dos casos em Portugal. A ministra fala em surtos específicos em Loures, Odivelas, Amadora, Lisboa e Sintra, indicando que a retoma da atividade assistencial do SNS nestas regiões possa ser mais lenta do que o previsto. "Porque precisamos de alocar recursos para ajudar a saúde pública a fazer o seu trabalho", acrescentou, indicando que não está fora de questão recorrer às escolas de saúde da região para ajudar no trabalho no terreno.
Marta Temido fala num esforço para testagem de todas as pessoas em locais de surto, ligados à construção civil e centros de distribuição, do confinamento obrigatório, com as autoridades a procurar alternativas de alojamento, caso as pessoas não tenham condições em casa. Segundo a ministra, já há pessoas realojadas nesta situação.
Segundo a ministra, estes realojamentos temporários serão feitos em centros do INATEL, pousadas da juventude ou centros da Cruz Vermelha. Na Amadora, por exemplo, a Cruz Vermelha tem disponíveis cerca de cem camas para acolher estas pessoas que serão usadas caso seja necessário.
"Temos a convicção de conseguir reduzir, nos próximos dias, o número de contágios e minimizar o risco de transmissão comunitária nesta região, garantindo um alinhamento entre o que é Lisboa e Vale do Tejo com aquilo que é o resto do país", disse Marta Temido.
Em relação aos testes, há equipas do Instituto Nacional de Emergência Médica no terreno capazes de recolher 700 amostras por dia, mas há também outros locais para a recolha. A capacidade instalada em Lisboa e Vale do Tejo há capacidade de realizar sete mil testes por dia (quatro mil dos quais no público).
Questionada sobre a situação no hospital Beatriz Ângelo, e a eventual falta de ventiladores, a ministra diz que o Serviço Nacional de Saúde, em gestão pública ou parceria público-privada, funciona em rede, indicando que se for preciso reforçar isso será feito.
Sobre o foco no Bairro da Jamaica, a ministra diz que não quer individualizar ou estigmatizar. "Estamos preocupados porque a concentração de habitantes em determinadas áreas e o tipo de mobilidade e emprego, têm uma incidência maior de doença. Isso não se prende com este bairro ou aquele bairro, prende-se com condições gerais de trabalho e de habitabilidade", disse ainda a ministra, questionada sobre as condições do bairro.
"O foco do trabalho da saúde pública é a saúde da comunidade, não só do indivíduo, pelo que é evidente que as questões relacionadas com esgotos, saneamento, alimentação, hábitos de vida, tem uma influência", indicou, lembrando que a intervenção na área da saúde pública é ao nível da educação para a saúde e que não resolve problemas, que são multifacetados, e que envolvem muitas autoridades e muito tempo.
Questionada sobre uma eventual disparidade de tratamento no bairro, a ministra nega que tenha havido. "O trabalho de saúde pública prende-se sempre com a proporcionalidade e a adequação das respostas àquilo que são as necessidades. Temos aqui fenómenos de natureza diferente", alegou, falando do mau uso de cafés e bares onde não houve acatamento das indicações de segurança, tendo havido o pedido para fechar. Enquanto nas empresas, a abordagem é no cumprimento de regras, mas em ambiente laboral, num tipo de intervenção distinto.
Três meses depois do primeiro caso confirmado, Portugal ainda vive a meio-gás, com uma nova fase de desconfinamento a começar esta segunda-feira em quase todo o país, com um travão contudo na região de Lisboa e Vale do Tejo onde se têm registado mais de 90% dos novos casos nos últimos dias.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 366 mil mortos e infetou mais de seis milhões de pessoas em 196 países e territórios. Mais de 2,4 milhões de doentes foram considerados curados.