PJ detém burlões do espiritismo que cobravam 10 mil euros para "falar" com morto
Viúva, rica, deprimida e muito fragilizada com a morte do marido. A estado da mulher inconsolável passou a ser comentado na rua, no bairro onde morava em Oeiras e não demorou até que chamasse a atenção de gente mal-intencionada.
Uma mulher foi ouvindo as suas mágoas e acabou por lhe recomendar que consultasse uns espíritas que, garantiu ela, conseguiam mesmo falar com os mortos e assim a senhora poderia matar saudadas do seu amado marido.
O marido morrera em 2012 e a depressão da senhora já durava há mais de dois. Foi no final de 2014 que a viúva entrou pela primeira vez na casa dos ditos espíritas que, em conluio com a mulher que a recomendara, faziam um preço especial - nem mais nem menos que 10 mil euros por sessão.
Os três burlões, com idades entre os 40 e os 69 anos, foram detidos pela Polícia Judiciária esta semana, indiciados por crimes de burla qualificada, numa operação com o sugestivo nome de "Vozes do Além". O coordenador da PJ, Amândio Monteiro, explicou ao DN que o casal não tinha filhos e a mulher, com pouco mais de 60 anos, ficou muito desamparada emocionalmente com a morte do marido. Eram abastados, herdeiros de rendimentos de família. São normalmente as vítimas perfeitas de burlões.
"Os suspeitos foram aproveitando essas fragilidades e, alegando que conseguiam falar com o espírito desse familiar, foram controlando toda a sua vida, com o objetivo de se apropriarem de todo o seu património, determinando-a a entregar-lhes montantes pecuniários de valor cada vez mais elevado, que chegaram a 10 mil euros por sessão", avança a PJ.
Segundo a Judiciária, "a investigação incidiu sobre factos relativos a uma situação que decorreu nos últimos anos, tendo a vitima entregado aos ora detidos, montantes pecuniários que, no seu conjunto, totalizaram cerca de 100 mil euros". Os dois homens "dedicavam-se à prática, em espaços próprios para o efeito, de supostas atividades esotéricas, cartomancia e espiritismo".
Para ter o "controlo total dos movimentos da vítima, e impedi-la de ser alertada pelos familiares ou amigos, convenceram-na de que apenas se devia relacionar com eles, passando a acompanhá-la e a conduzi-la na viatura de um dos suspeitos, que lhe cobrava quantias avultadas pelo transporte e pela manutenção da viatura de que ele era o único proprietário".
A investigação da PJ evitou que os detidos se viessem a apropriar, igualmente, de todo o património da vítima, incluindo o imobiliário. Além da detenção dos três suspeitos, foram realizadas, também, três buscas, das quais resultou a apreensão de diversa documentação e de outros objetos relacionados com o crime.