Operação Marquês. Bárbara Vara respondeu a tudo, garante advogado

Bárbara Vara foi a primeira acusada na Operação Marquês, que tem como principal figura o ex-primeiro-ministro José Sócrates, ouvida na instrução. Voltou a garantir nada saber das movimentações nas contas em seu nome. Armando Vara será ouvido dia 5.
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A primeira audição da instrução da Operação Marquês durou cerca de duas horas. A partir das 14 horas Bárbara Vara, filha de Armando Vara, arguida, acompanhado pelos advogados de alguns dos principais arguidos, foi ouvida pelo juíz Ivo Rosa. O seu advogado, Rui Patrício garante que é "por respeito ao tribunal" que não revela o teor da audiência.

Bárbara Vara terá respondido, segundo o seu advogado, a todas as perguntas. E voltou a garantir que não sabia das verbas movimentadas pelo pai por essas contas. Para o futuro, Rui Patrício revela-se confiante: "Para nós é um assunto de verdade e convicção". Mesmo sendo, "do ponto de vista familiar uma situação complicada", acrescenta o advogado. O depoimento de seu pai, Armando Vara foi adiado para dia 5 de fevereiro e parece determinante para a estratégia da defesa da arguida. "Todos os depoimentos são importantes, incluindo o de Armando Vara."

A partir das 14.00 desta segunda-feira começou a fase de instrução do processo Operação Marquês, em que o antigo primeiro-ministro José Sócrates, e mais 19 pessoas e nove empresas estão acusadas de vários crimes de corrupção passiva e ativa, branqueamento de capitais, falsificação de documentos, fraude fiscal, abuso de confiança, peculato e até de posse de arma proibida, num total de 159 crimes.

Cinco anos depois de José Sócrates ter sido detido à chegada ao aeroporto de Lisboa, iniciou-se agora uma fase decisiva do processo pois é a partir destas audições - que podem durar um ano - que o juiz Ivo Rosa vai decidir se o processo segue para julgamento, com todos os arguidos ou só com alguns e se há crimes alterados ou retirados.

Para já o plano do magistrado já sofreu um atraso: Armando Vara vai ser ouvido apenas no dia 5 de fevereiro, porque a greve dos guardas prisionais impede que seja transportado desde a prisão de de Évora onde está a cumprir a pena de prisão de cinco anos a que foi condenado no processo Face Oculta.

Neste primeiro dia, Ivo Rosa ouviu Bárbara Vara, defendida pelo advogado Rui Patrício, e titular de contas offshore por onde, segundo a acusação, terão sido movimentados fundos de forma ilegal pelo pai.

Já o principal arguido do caso, o ex-primeiro-ministro José Sócrates, ainda não tem marcada a data para prestar declarações.

De que está acusada?

Bárbara Vara está acusada de dois crimes de branqueamento de capitais. Num destes estão também acusados os arguidos José Sócrates, Carlos Santos Silva, Joaquim Barroca, Armando Vara, Diogo Gaspar Ferreira e Rui Horta e Costa. Neste caso, o Ministério Público refere que o envolvimento de Bárbara está relacionado com transferências de dinheiro com origem no holandês Van Doreen, referentes aos financiamentos concedidos ao Grupo Vale do Lobo, com passagem de dinheiro por uma conta bancária na Suíça em nome de Joaquim Barroca. Neste caso o Ministério Público sustenta que o antigo primeiro-ministro e o ex-ministro terão recebido luvas pela expansão do resort Vale do Lobo e que esse dinheiro - cerca de dois milhões de euros -passou por uma conta offshore de Bárbara Vara e do pai.

No outro crime é acusada de ser cúmplice do pai, Armando Vara, em operações de transferência de fundos para Portugal com origem em contas de que era titular nas sociedades offshore Vama Holdings e Walker Holdings, ambas na Suíça, e com a utilização da sociedade Citywide Unipessoal Lda. Segundo a acusação neste particular estão em causa operações imobiliárias, incluindo uma casa que Bárbara Vara tinha na Avenida do Brasil (Lisboa) e que foi alvo de uma permuta com outra na Avenida Infante Santo, que mais tarde foi comprada por uma empresa de Armando Vara (Citywide Unipessoal Lda).

O que alega em sua defesa?

Na inquirição desta segunda-feira Bárbara Vara voltou a garantir o que já tinha apresentado por escrito no pedido de abertura de instrução: nada sabia sobre a origem do dinheiro que estava na conta da Vama Holdings, tal como desconhecia as atividades de seu pai, Armando Vara. Garante que se limitou a dar o nome para abrir as sociedades e as respetivas contas bancárias e que não fazia ideia como as mesmas eram movimentadas. Em relação à venda do imóvel em Lisboa diz que autorizou o pai a vender a casa pois não estavam em Portugal e que desconhecia que tinha sido uma empresa de que Armando Vara era dono a comprá-la mais tarde.

Na sua defesa conta com o depoimento do pai que em várias declarações assumiu que a filha não sabia dos movimentos nas contas.

A que pena pode ser condenada?

Os crimes imputados a Bárbara Vara estão previstos no artigo 368 - A, números 1, 2 e 3 do Código Penal. As penas referidas, dependendo do enquadramento jurídico, vão dos seis meses aos 12 anos de prisão.

Quem vai ser ouvido a seguir?

No plano divulgado pelo juiz Ivo Rosa, esta terça-feira seria a vez de Armando Vara prestar depoimento, em defesa da filha. No entanto, devido à greve dos guardas prisionais tal não vai ser possível, tendo a sua presença no Tribunal Central de Instrução Criminal ficado agora agendada para dia 5 de fevereiro.

Para quarta-feira está prevista a presença perante Ivo Rosa das testemunhas Maria Isabel Telo Figueira (mulher de Armando Vara e mãe de Bárbara Vara), Sérgio Bandeira Rodrigues, Teresa Lurdes Vicente Carrapatoso e João Carlos da Costa Ferreira da Silva.

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