Morreu a ex-provedora da Casa Pia Catalina Pestana

A antiga responsável pela Casa Pia de Lisboa morreu aos 72 anos vítima de cancro.

Catalina Pestana, ex-provedora da Casa Pia, morreu esta madrugada, confirmou fonte próxima da família à TSF. Foi nomeada provedora da instituição precisamente no ano em que veio a público o caso Casa Pia, que envolveu figuras como o apresentador de televisão Carlos Cruz, foi uma voz constante na defesa dos jovens abusados.

A ex-responsável da Casa Pia estava internada numa unidade hospitalar em Lisboa e "morreu durante a noite" vítima de uma infeção generalizada.

Catalina Pestana foi nomeada em 2002 pelo Ministério da Segurança Social e do Trabalho, na altura tutelado por Bagão Félix, provedora da Casa Pia e era uma das vozes de defesa das vítimas do processo de pedofilia que abalou a instituição.

Permaneceu à frente da instituição até maio de 2007, quando o julgamento do caso Casa Pia ainda decorria.

A ex-provedora, nascida em 1946, viveu no Barreiro e fez o liceu em Setúbal, antes de ir estudar para a Universidade de Lisboa, onde tirou Filosofia. Aos 24 anos, já professora de um colégio feminino, foi uma das organizadoras de férias para filhos dos presos políticos. O que lhe a tornou um alvo da PIDE, que a passou a vigiar.

Em 1975, assumiu a direção do Colégio de Santa Catarina, em Lisboa, pertença da Casa Pia. Exerceu funções durante doze anos, naquele que era o único estabelecimento misto da instituição. Depois, começou a dar aulas de Análise Sócio-Histórica da Educação na Faculdade de Motricidade Humana.

Marcelo: "Marcou a luta pelos diretos das crianças"

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, considerou que que a antiga provedora da Casa Pia de Lisboa "marcou a luta pelos direitos das crianças em Portugal".

Na página da Presidência na Internet, lembra que Catalina Pestana "foi a primeira mulher a assumir a direção da centenária Casa Pia de Lisboa, num dos momentos mais difíceis que a instituição atravessou".

"Catalina Pestana, professora e cuidadora, nunca desistiu de combater pelas causas em que acreditava, nomeadamente a defesa das crianças acolhidas. Depois da Casa Pia encarregou-se da refundação da Casa do Gaiato de Lisboa", acrescenta.

Marcelo Rebelo de Sousa recorda assim "a sua coragem no desempenho das funções profissionais e genuinidade com que tratava todos com quem convivia".

Pessoa de "coragem e sensibilidade"

O antigo ministro do Trabalho e das Finanças António Bagão Félix destacou hoje "o sentido de dever, força da coragem e enorme sensibilidade humana" da antiga provedora.

"Foi uma pessoa admirável, com rosto, alma e coração. Esteve sempre ao lado dos que não têm voz, não têm poder e que não fazem notícias, não abrem telejornais, dos que estão indefesos", disse em declarações à agência Lusa.

Segundo Bagão Félix, Portugal perdeu "uma grande senhora, uma portuguesa de eleição, uma pessoa que ao longo da sua vida juntou qualidades essenciais para as causas cívicas e públicas em que se envolveu".

"Era uma pessoa com quem tive o gosto e felicidade de trabalhar e a escolher em 2002 para liderar o projeto de refundar a Casa Pia. Era uma pessoa que juntava o sentido de dever, força da coragem, a enorme sensibilidade humana e a consistência da vontade. Trabalhou sempre em nome de um valor ético que as vezes desprezamos, que é valor ético da esperança", acrescentou.

O ex-governante lembrou ainda que a antiga provedora lutou sempre contra "a tecnocracia estatística", que transforma pessoas em números. "Catalina Pestana teve uma vida feita pela grande luta pelas causas em que acreditava, com total autenticidade", sinalizou ainda.

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