Medir a temperatura é possível mas como se mantém a distância numa discoteca?

Para bares e discotecas, a reabertura é ainda uma miragem. A normalidade só será possível depois de haver uma vacina contra a covid-19, diz José Gouveia, da Associação de Discotecas de Lisboa. Até lá, a noite tem "de se reinventar".

Usar máscaras enquanto se bebe um gin? Manter o "distanciamento social" na pista de uma discoteca? Será possível?

Enquanto muitas lojas, escolas e restaurantes começam a pensar na anunciada reabertura progressiva da economia e a planear a melhor forma de continuar com o seu negócio apesar da covid-19, há aqueles para quem a normalidade está ainda bastante longe: os empresários da noite.

"Desde o primeiro momento que sabíamos que a situação neste setor ia ser complicada, não sabíamos ainda que ia ser tão catastrófica", diz ao DN José Gouveia, presidente da Associação de Discotecas de Lisboa.

Na altura, em meados de março, quando as discotecas e bares foram forçados a fechar as portas - assim que foi decretado o estado de emergência com o objetivo de conter a pandemia - não só não se podia imaginar que a situação se iria prolongar por tanto tempo como havia ainda "a esperança" de que os apoios do Estado viessem a ser suficientes e chegar a tempo e horas. Neste momento, a maior parte dos empregados neste setor encontra-se em layoff e a situação complica-se também para os empresários que não veem uma luz ao fundo do túnel.

"Não é expectável que os bares e as discotecas estejam nas listas de negócios que vão reabrir em breve. E nós percebemos isso", diz José Gouveia. "Será, muito provavelmente, das últimas áreas onde será reposta a normalidade." Porque a normalidade da noite é, convenhamos, muito diferente do distanciamento social exigido pela pandemia de covid-19. As pessoas vão às discotecas para se divertirem, para dançarem, para estarem com os amigos, para beberem uns copos... Como é que se mantém a distância numa discoteca? "Vamos ter seguranças com uma fita métrica a pedir às pessoas para se afastarem umas das outras?", pergunta. Até porque todos sabemos como com uma ou duas (ou mais) bebidas as pessoas têm tendência para se descontrolar...

Apesar de tudo, perante o descalabro financeiro que significa continuar de portas fechadas, os empresários pensam em soluções para os problemas a resolver numa possível reabertura. E os problemas são muitos e de natureza diferente.

Há, antes de mais, a redução drástica do turismo, que está e vai continuar a afetar hotéis, restaurantes e todos os espaços de divertimento noturno. Mesmo que a vida comece agora a voltar lentamente à normalidade, o verão está estragado, é esta a convicção do setor. Os turistas estrangeiros não virão como costumam vir e até mesmo os portugueses irão limitar muito as suas atividades. É claro que as pessoas estão ansiosas por poderem ir à praia, mas talvez pensem duas vezes antes de ir a uma discoteca.

"Enquanto as pessoas não recuperarem a normalidade no seu dia-a-dia não haverá normalidade na noite" - uma é condição fundamental da outra.

"Primeiro é preciso recuperar a confiança das pessoas", diz José Gouveia, que se uniu a outros empresários da noite para, em conjunto, pensar em algumas soluções que tencionam propor em breve às autoridades competentes. São coisas relativamente óbvias, como a higienização dos espaços, o uso de cartões em vez de dinheiro, o controlo de temperatura à entrada dos estabelecimentos e a limitação da lotação do espaço. "Claro que sabemos que isto traz outros problemas: porque uma casa que tem habitualmente 600 clientes talvez não seja viável se só tiver 300 ou 200."

A verdade é que estas medidas, apesar de necessárias, não darão uma resposta 100% eficaz. Isto leva José Gouveia a declarar, sem hesitações, que "até haver uma vacina para a covid-19 não será possível voltar à normalidade" na noite. "Temos que enfrentar esta realidade: não vai haver normalidade sem estarmos todos vacinados, porque as pessoas têm medo e isso é compreensível."

"Há uma ansiedade muito grande, toda a gente quer voltar a trabalhar, mas neste momento temos de esperar. A única coisa que podemos fazer é prepararmo-nos o melhor possível para esse momento." É por isso que este empresário, que está ligado ao grupo JNcQUOI, não tem dúvidas de que, nos próximos tempos, este setor irá sofrer grandes alterações: "Quem quiser continuar tem de se reinventar. Teremos de ser criativos, de pensarmos de maneira diferente. Temos que nos adaptar a esta nova realidade."

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