Mais testes e novos focos. Casos diários de covid aceleram pelo terceiro dia

Depois de quase duas semanas sem atingir os 400 casos diários, Portugal sobe para o patamar dos 500. DGS alerta que ainda é cedo para relacionar com o desconfinamento e fala em aumento de testes e de novos focos do surto.
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"Com o aumento do número de contactos vai aumentar o número de casos". O virologista Pedro Simas tem confiança na afirmação. "É incontornável", diz. No entanto, se os números desta semana podem ou não refletir já o alívio das medidas de contenção ainda é cedo para analisar. Há três dias consecutivos que o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS) dá conta de um aumento maior de novos casos de covid-19, que ronda agora as 520 notificações. As autoridades de saúde atribuem, para já, os dados ao melhoramento da capacidade de testagem e a focos específicos.

Nas últimas 24 horas, foram notificados mais 553 casos. No dia anterior tinham sido 533 e antes 480. É preciso recuar até ao dia 22 de abril para encontrar um valor mais alto: 603 novos infetados.

"Se isto de facto refletir uma tendência, as mortes aumentarão nas próximas duas semanas", devido ao período de incubação do vírus, aponta o investigador do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa. O que não está a acontecer agora. Verificando-se, aliás, o contrário: o número de novos óbitos diminuiu nos últimos dias, tendo esta sexta-feira atingindo um dígito apenas (9) - há um mês e meio que não era tão baixo. No total, o país tem agora 1114 vítimas mortais e 27 268 infetados, segundo os dados da DGS.

O aumento dos novos casos não é também uniforme ao longo de todo o território do país, nos últimos dias, o Alentejo, os Açores e a Madeira tiveram uma subida residual, o centro e o sul não andaram longe dos seus resultados habituais, excetuando um pico no Algarve esta quinta-feira (101 casos). Foi no Norte e em Lisboa - onde se concentra a maior parte da população portuguesa - que os números se destacaram.

DGS. "Não podemos dizer que seja do desconfinamento"

A Direção-Geral da Saúde referiu em conferência de imprensa que está a acompanhar a evolução destes dados e que, por esta altura, os atribuí a duas causas: a descoberta de novos focos de infeção, como uma empresa no concelho da Azambuja, onde 101 funcionários contraíram o vírus, e ao aumento do número de testes de despiste realizados. Segundo Graça Freitas - a diretora-geral da Saúde - a região de Lisboa e Vale do Tejo (mais 158 casos, nas últimas 24 horas) está a fazer agora, em média, quatro mil testes por dia. Desvalorizada foi a hipótese de a subida de casos ser fruto da suavização da contenção. "Não podemos dizer que seja do desconfinamento", referiu.

"Sabemos que houve muitos casos encontrados em rastreios em populações específicas. E temos também o surto a decorrer na Azambuja, que contribuiu com um número grande de casos", justificou Graça Freitas, esta sexta-feira.

O foco da Azambuja está ligado à empresa de abate de aves Avipronto, com mais de 200 trabalhadores. Fechou as portas no sábado, mas tem metade dos funcionários infetados, que residem um pouco por toda a Grande Lisboa e vem todos os dias em coimboios sobrelotados da Brandoa, de Corroios, de São João da Talha, de Vila de Franca de Xira.

Também do Montijo chegaram notícias de que uma empresa de processamento de carnes (Raporal) - com cerca de 500 empregados - tinha pelo menos 39 casos positivos num universo de 141 exames realizados, segundo o jornal Setubalense. O porta-voz da empresa veio, entretanto, garantir que o contágio "está controlado", em declarações à agência Lusa, sem adiantar o número total de infetados.

Quanto ao norte (mais 359 casos em 24 horas), não foram avançadas explicações detalhadas e a Administração Regional de Saúde, contactada pelo DN, até ao momento, não prestou mais esclarecimentos. Pelo boletim sabe-se que os municípios mais afetados desde o início da pandemia nesta zona são Vila Nova de Gaia (1445 casos), o Porto (1295), Matosinhos (1192) e Braga (1146).

Ainda durante a conferência de imprensa diária, Graça Freitas lembrou que "não pode haver relaxamento das medidas. Nós sabemos que nos sítios onde há relaxamento das medidas surgem focos". Portanto, independentemente, de estar em marcha um regresso faseado à "normalidade" é preciso continuar a seguir as medidas de higiene, de etiqueta respiratória e de distanciamento social, difundidas pelas autoridades de saúde, sob pena de uma nova vaga pandémica.

De acordo com a diretora-geral da Saúde "apenas uma percentagem mínima da população foi infetada" e que, por isso, todos os que não contraíram a doença continuam "em risco". A nova palavra de ordem é: "precaução, precaução, precaução". Mantendo em mente "que o nosso sucesso depende de todos e de cada um", afirmou o secretário de estado da Saúde, António Lacerda Sales.

Portugal está a fazer mais testes

Desde o dia 1 de março, Portugal já fez cerca de meio milhão de testes de diagnóstico à covid-19, atualizou o secretário de estado da saúde. Durante o mês de abril, em média, por dia foram efetuados 11 500 exames. Número que aumentou durante a primeira semana do mês de maio, quando o mesmo indicador subiu para 12 400.

O país faz agora 49 mil análises por cada milhão de habitantes. É, proporcionalmente, o sexto país da União Europeia que mais testa, só ficando atrás de Malta (92 mil por milhão), do Luxemburgo (85 mil), da Lituânia (63 mil), do Chipre (60 mil) e da Dinamarca (51 mil). Todas nações com menos de metade da população de Portugal.

O aumento do número de testes e a consequente deteção de mais casos ligeiros ou até assintomáticos está a fazer descer a taxa de letalidade portuguesa, que se encontra, esta quinta-feira, nos 4,09% - terceiro dia em que diminuí. Esta quarta encontrava-se nos 4,14%.

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